domingo, 23 de outubro de 2011
Sassaricando – E o Rio inventou a marchinha (RJ)
Foto: divulgação
Pode, Lourival! Beber água não faz mal!*
Andando pelas ruas da Lapa, ouvi uma menina anunciar: “Pode perguntar por aí. O gaúcho é o único povo que sabe cantar o seu hino.” Imediatamente comecei a assoviar o famoso “Com aurora precursora...” nas ruas tradicionais da antiga capital da república. (Da república brasileira, não da república farroupilha.) O carioca, de fato, desconhece o seu hino estadual. Mas expressa o seu orgulho de ser brasileiro como, talvez, nenhum outro povo.
Graças à televisão hoje, mas antes ao rádio, ao jornal impresso e ao Catete, o Brasil que se conhece é o Rio de Janeiro. Você pode nunca ter ido à Viamão, mas reconhece a calçada de Copacabana e a de Ipanema. Talvez nunca tenha reparado no Laçador perto do aeroporto ou em outro lugar, mas sabe como é o Cristo Redentor, o Corcovado e o Bondinho do Pão de Açúcar. Eu não sei onde fica os estúdios da RBSTV, mas sei que PROJAC é a sigla de Projeto Jacarepaguá porque fica no bairro de Jacarepaguá, perto da Barra da Tijuca. Bambas da Orgia, Imperadores do Samba, Unidos da Restinga me dizem alguma coisa. Mas Mocidade, Portela, Mangueira, Salgueiro e Unidos da Tijuca me dizem muito mais. O Rio é o Brasil.
E “Sassaricando” é um espetáculo que, homenageando as marchinhas do antigo carnaval carioca, batem fundo na alegria nacional, nos chama como brasileiros. Para mim, um dos poucos resquícios do teatro grego que se pode encontrar ainda hoje e, por isso, é tão essencial à atualização dessa arte é a capacidade de (re)humanizar o homem. Isto é, lembrá-lo que ele é igualzinho ao ser da poltrona do outro lado, da frente e de trás, não importando a marca da roupa, o valor do ingresso pago, a programação pós-teatro. Para os mais sensíveis, essa sensação tem o poder de deixar-nos mais à vontade, viver a história contada, deixar sairem para fora as emoções, vivermos a catarse que, desde Aristóteles, é tão falada.
E que história é contada? Não é uma grande colagem de marchinhas, uma ao lado da outra sem diálogos?
Sim. É. Cantores apenas fariam isso. Mas a direção de Claudio Botelho em união com Luís Filipe de Lima (musica), Leo Gama (palco) Rodrigo Ponichi (vídeos), Beto Martins (arte) e a Fomenta Produções fizeram mais. Os atores desfilam pelas músicas (e são oitenta nove canções em duas horas de espetáculo) esbanjando carisma, prazer de estar em cena, alegria por contar essa história.
Mas, de novo, que história é contada?
A nossa. “Sasssaricando” não é um espetáculo que traz uma história para contar e nos pede que a escute. Não. Se trata de uma produção músico-cênica que nos pergunta qual história nós mesmos vamos contar. Qual, quais, quantas. Então, sob o estímulo das lindas vozes e arranjos livres de qualquer defeito, de figurinos, a cada novo quadro, ainda mais lindos,um cenário que remete a um tempo longínquo e próximo ao mesmo tempo (distante no tempo, próximo na experiência imagética) e alegria contagiante das letras vamos lembrando, cada um na sua poltrona, de momentos mil que partilhamos conosco mesmo ou com a pessoa do lado através de palmas, sorrisos e, também, lágrimas.
Eu que, tendo nascido em São Paulo, criado e criador no Rio Grande do Sul, com avós cearenses, amigos mineiros, catarinenses, paranaenses e matogrossenses, não exitei em deixar correrem emoções em “Cidade Maravilhosa”. Porque maravilhoso é o meu país, lugar onde tem teatro bem feito, pessoas legais e muita alegria.
Sem esquecer,claro, do Lourival e da sua avó.
* Da música “Criado com vó” (José Mariano Barbosa e Marambá)
*
Equipe de Criação:
Concepção, Pesquisa e Roteiro:
Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral
Direção: Claudio Botelho
Direção musical e Arranjos: Luiz Filipe de Lima
Coreografia: Renato Vieira
Cenário: Charles Möeller
Figurino: Marcelo Marques
Iluminação: Paulo César Medeiros
Assistente de Direção: Tina Salles
Elenco (1ª Temporada):
Eduardo Dussek
Soraya Ravenle
Sabrina Korgut / Maria Netto / Ivana Domenico
Alfredo Del-Penho
Juliana Diniz
Pedro Paulo Malta
Elenco 2009 e Temporada São Paulo:
Eduardo Dussek
Inez Viana
Alfredo Del-Penho
Juliana Diniz
Pedro Paulo Malta
Beatriz Faria
Músicos:
Luís Filipe de Lima – Violão 7 cordas
Henrique Cazes – Cavaquinho
Dirceu Leite – Sopros (Flautas, saxs e Clarinete)
Fabiano Segalote – Trombone
Gilson Santos – Trompete
Oscar Bolão – Bateria
Beto Cazes – Percussão
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