sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A cor púrpura (RJ)

Foto: divulgação




As várias e potentes cores de "A cor púrpura": um musical que deve ser visto

    
    Estreou ontem, dia 20 de janeiro de 2022, a quarta temporada oficial do musical "A cor púrpura" no Teatro Riachuelo, no centro do Rio de Janeiro. Produzida por Eduardo Bakr e por Norma Thiré, a peça lindamente dirigida por Tadeu Aguiar, assistido por Flavia Rinaldi, já fez outras temporadas: uma no Rio de Janeiro e duas em São Paulo, tendo estreado em setembro de 2019. Com roteiro original de Marsha Norman e músicas de Brenda Russell, Allee Willis e Stephan Bray, essa boa versão brasileira é assinada por Artur Xexéu (1951-2021). No elenco, participam Hannah Lima, Thór Junior, Léo Araújo, Caio Giovani, Gabriel Vicente, Jorge Maya, Renato Caetano, Merícia Cassiano, Erika Afonso, Ester Freitas, Flavia Santana, mas brilham exuberantemente Analu Pimenta, Suzana Santana e Alan Rocha. Wladimir Pinheiro, está, mais uma vez, em excelente atuação, sendo o grande destaque desta montagem. Letícia Soares, como a protagonista Celie, oferece uma vigorosa contribuição musical, imprimindo enorme força ao conjunto, mas deixa a desejar infelizmente como intérprete. O cenário de Natália Lana, o figurino de Ney Madeira e Dani Vidal, a direção de Tony Luchesi e o desenho de luz de Rogério Witgen também são aspectos valorosos da produção que ficará em cartaz até o dia 20 de fevereiro. Vale a pena ler o belíssimo livro de Alice Walker e também assistir ao filme de Steven Spielberg, mas nenhuma dessas atualizações anteriores atrapalham a fruição desse espetáculo teatral que belamente abre o ano de 2022. Sobre seus aspectos mais profundos, falar-se-á nos parágrafos vindouros.


As bases da narrativa

    "Não me sinto tão velha assim. Sou jovem e a vida começou." Essas frases são o centro - o início, o meio e/ou o fim - do livro "A cor púrpura" e também do musical que o adapta para a linguagem do teatro musical americano. São nelas, que tudo o que será dito nessa análise se apoiará ao dedicar-lhe elogios e também refletir sobre pontos que talvez não tenham tanto mérito quanto os demais. O livro, o filme e a peça têm a mesma narrativa, mas são fruições diferentes e aqui, em oportunidade mais longa, podemos nos dedicar à análise delas.

    

Prêmio Pulitzer de 1983, o quinto livro da americana Alice Walker (foto) é tido como a principal obra do empoderamento feminino preto do século XX nos Estados Unidos. Trata-se de um romance epistolar que alçou a autora e toda uma comunidade mundial a um lugar de merecido destaque. É uma leitura recomendável que está disponível aos brasileiros de novo, depois de quase vinte anos, através de uma bela nova tradução da Editora José Olympio. Li e tenho as duas versões e reconheço a sua força, mas desprezo as críticas que ela recebeu sobretudo na época em que o original foi lançado. Destaco a quem for lê-la o forte teor impressionista do romance. O leitor vê o mundo da protagonista através principalmente dos olhos dela e acompanha, a partir de dentro, a transformação desse universo, mas também desse olhar.

    Já o belíssimo filme lançado no finalzinho de 1985 oferece outra perspectiva. Em relação ao livro e à peça, o espectador verá pontos importantizados e outros diminuídos, como, por exemplo, a questão da homo ou bissexualidade. (Algo muito semelhante a isso aconteceu na versão cinematográfica do musical "Cabaret" quando saiu do palco e foi pras telas.) O filme não é impressionista, mas realista naturalista, oferecendo uma abordagem mais ampla do todo sobretudo dos personagens coadjuvantes e do quanto eles e o meio em que vivem participam da trajetória de transformação uns dos outros. Alice Walker e o grande compositor americano Quincy Jones participaram ativamente de todas as escolhas estéticas, desde a escalação do elenco, passando pelo roteiro, pela direção de fotografia e pela direção de arte até chegar à intepretação dos atores, tripartindo os méritos com Spielberg. Whoopi Goldberg era uma atriz novaiorquina que tinha feito muito teatro na Alemanha e que brilhava em um stand-up comedy na Broadway quando foi escolhida por Walker para o papel protagonista. Ophra Winfrey era uma radialista de sucesso local quando foi escalada por Jones para o papel de Sofia. A cantora Tina Turner era a escolha de Spielberg para Shug Avery, mas negou o papel dando acesso a Margaret Avery, que, apesar da brilhante atuação, nunca mais chegou a ter alguma chance mais relevante. Na 58a edição do Oscar, "A cor púrpura" ganhou incríveis 11 indicações, mas inacreditavelmente não levou qualquer prêmio, tendo sido acusada de uma obra melosa demais, estereotipada demais. Goldberg seria a 1a atriz preta a ganhar o Oscar de Melhor Atriz na história, coisa que só foi acontecer com Halle Berry em 2002. Hoje em dia, o fato só evidencia o racismo estrutural que existia e existe em nossa sociedade.

    A versão para teatro de "The color purple" deve-se ao empenho de Oprah Winfrey a dar longevidade à narrativa. Produzida por um grupo de teatro de Atlanta, na Geórgia, em 2004, a peça foi à Broadway em 2005 graças à fama (aos muitos dólares) e ao prestígio de Oprah, pois tinha sido escrita, composta, dirigida e era interpretada por atores desconhecidos em Manhattan. Caiu nas graças do público, ficando em cartaz até 2008, mas teve críticas muito semelhantes ao filme. Na 60a edição do Tony Award, o musical "The color purple" foi indicado a 11 categorias, perdendo para uma bogagem chamada "The Drowsy Chaperone", que ganhou 13. Ao final da cerimônia, "A cor púrpura" venceu apenas um prêmio: o de melhor atriz para a grande LaChanze (foto), que brilhantemente interpretou Celie e nunca mais outro grande papel. Em 2015, Oprah produziu uma nova versão que, embora não tenha feito a metade do sucesso de público da anterior, foi melhor reconhecida pela crítica. Na 70a edição do Tony Award, ano em que "Hamilton" explodiu com 16 indicações (e 11 troféus), "The color purple", como um revival que não concorre com as peças estreantes, levou 4 indicações e venceu em duas: Melhor Atriz para Cynthia Erivo e Melhor Espetáculo Remontado. Nessa montagem, Shug Avery foi interpretada por Jennifer Hudson, que havia ganhado, nove anos antes, o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (estranhamente) por ter interpretado a protagonista do filme musical "Dreamgirls".

    O musical "A cor púrpura", mais que o livro e bem mais que o filme, resgata de maneira muito substancial o aspecto religioso da obra. Toda a peça, do início ao fim, fala de Deus, ou melhor, de como nós nos comunicamos com a figura misteriosa divinal. E, a partir daí, finalmente, poderemos chegar a como a narrativa é oportunizada.

    O grande mérito da história é que não há apenas curva na protagonista, mas também em outros personagens menores. A narrativa se passa na primeira metade do século XX no sul dos Estados Unidos, no seio de uma comunidade negra evangélica e muito tradicional. Nessa localidade, os personagens reproduzem, em suas relações interpessoais, os mesmos preconceitos entre si que sofrem enquanto grupo em oposição aos brancos opressores. Então, em superfície, ainda que quase todos os personagens sejam pretos, vemos racismo, misoginia, pedofilia e outros males de toda ordem. Vítima de estupro, Celie teve dois filhos com seu próprio pai e o viu fazer ambas crianças desaparecerem. Depois, foi praticamente vendida a um outro fazendeiro, o Mister Albert, que, na verdade, estava sexualmente interessado em Nettie, tida como a irmã "mais bonita" de Celie. O viúvo Albert, pai de cinco filhos, era um homem rejeitado por seu próprio pai. Essa rejeição aconteceu em função de sua relação amorosa com a cantora Shug Avery, vista por todos da comunidade, incluindo seu próprio pai, o pastor local, como uma mulher "de vida fácil", por ter tido vários filhos e nunca ter se casado. Nettie, fugindo de ser estuprada também pelo pai, vai para a casa de Albert e Celie, mas lá é perseguida pelo primeiro e é assim que as irmãs Celie e Nettie se separam. É basicamente a partir dessa separação final que a história começa.

    O tempo é fundamental na narrativa de "A cor púrpura", porque é a representação de Deus. A medida que os anos passam e todos envelhecem, há o primeiro ponto de mudança de Celie. Harpo, filho mais velho de Albert, casa-se com Sofia. Diferente de todas os lares que Celie conheceu, a família de Harpo e Sofia é matriarcal, dada a força fulgurante da esposa. Reclamando dessa circunstância, Celie recomenda a Harpo a única opção que ela conhece: que ele bata em Sofia, subjugando-a como ela pensa que todas as mulheres devem ser. A reação de Sofia ao descobrir isso é a primeira sinalização à Celie de que há alguma oportunidade do mundo ser diferente do que ela pensa ser.
  
 Em seguida, há a chegada de Shug Avery (na foto, Margaret Avery no filme) à fazenda de seu antigo amante Albert. Ele obriga sua esposa a cuidar da amante que está gravemente doente. E, embora a relação entre ambas comece muito mal, Shug vai percebendo aos poucos os valores de Celie que a própria nem consegue enxergar. E o público descobre que Celie é símbolo de resiliência e que está aí a sua força e também a sua beleza. Shug descobre as agressões constantes que Celie recebe de Albert, mas, pior do que isso, que ela, aos poucos, está perdendo sua fé em Deus. Isso se dá porque, anos depois da separação de Nettie, Celie nunca recebera uma carta dela. É a "madalena" Shug quem vai fazer Celie resgatar a sua fé em Deus e promover a grande reviravolta na história da protagonista.

    Em planos inferiores, Sofia, Shug e Albert também vão sofrer curvas narrativas assim como personagens ainda menores como a Gralha, Harpo, o pai de Celie e o pai de Albert. E é nesse envelhecimento não só das pessoas, mas das relações estabelecidas entre os personagens, mas também entre cada um consigo mesmo e com suas histórias, que surge o valor da juventude. Quando Celie diz que não se sente velha, mas, ao contrário, talvez nunca tenha se sentido tão jovem, a frase significa o ciclo da vida, a roda da fortuna, a natureza em que plantas, montanhas, animais e seres humanos se irmanam enquanto criações e manifestações de Deus.

    Desde as sabedorias mais antigas, a cor púrpura está relacionada ao precioso, ao raro, ao misterioso. É a cor de Júpiter, o pai dos deuses, e também do chacra mental, da magia, da conexão com o superior. Com o advento do monoteísmo, passou a ser símbolo de riqueza, de benção divina, devido à sua raridade (Ver o Evanvelho de Lucas 16,19). No cristianismo, púrpura é a cor do sacrifício. Quem for à missa, nos quarenta dias que antecedem o natal ou a páscoa, verá o padre com uma estola cor de púrpura, representando o período de preparação interior, de meditação, de reflexão, de oportunidade de transformação para algo que, em breve, chegará numa explosão de alegria, que é o nascimento de Cristo ou a sua ressurreição.


A ótima montagem brasileira dirigida por Tadeu Aguiar

    Eduardo Bakr, Norma Thiré e Tadeu Aguiar seguiram basicamente a mesma receita que a Broadway no que diz respeito à escolha do elenco. Wladimir Pinheiro (que substitiu Sérgio Menezes) (Mister Albert), Jorge Maya (os pais de Celie e de Albert) e Analu Pimenta (Gralha) (havia também Lilia Valeska no papel de Nettie) são os únicos nomes mais conhecidos no elenco orinalmente composto por 18 atores. Parece que os objetivos foram também os mesmos: abrir espaço para rostos pretos desconhecidos em uma classe essencialmente composta por intérpretes brancos. No entanto, diferente das montagens americanas, a brasileira teve uma ficha técnica bastante conhecida em todos os seus aspectos.

   

 Nas premiações, o resultado brasileiro foi mais positivo. No 14o Prêmio APTR - Associação de Produtores Culturais do Rio de Janeiro, "A cor púrpura" ganhou 11 indicações, levando para casa 4 troféus: Melhor Direção de Movimento para Sueli Guerra, Melhor Ator Coadjuvante para Alan Rocha, Melhor Espetáculo e Melhor Produção. No 32o Prêmio Shell, foram duas indicações, mas prêmio apenas para Melhor Iluminação para Rogério Witgen. No 7o Prêmio Cesgranrio foram 7 indicações e dois troféus: para Iluminação e para Letícia Soares (na foto com crédito de Bob Sousa) como Melhor Atriz em Teatro Musical. Soares também venceu o mesmo troféu no Prêmio Bibi Ferreira, em que o espetáculo ficou com 8 indicações. A peça também foi indicada ao Prêmio APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte de Melhor Espetáculo, entre outras premiações menos importantes.

    Trata-se de uma produção realmente vigorosa. O cenário de Natália Lana remete a uma estrutura de madeira ora bem requintada, mas ora selvagem que circula na velocidade em que o tempo gira em nossas vidas, sugerindo essa ambivalência entre a força da natureza e o raciocínio humano. Ney Madeira e Dani Vidal, na criação dos figurinos, valorizam o algodão em uma ótica realista ruralista e conservadora que conversa bastante bem com os outros elementos, ressaltando sua própria beleza e assim contribuindo para o mérito do todo. O desenho de luz de Rogério Witgen, fazendo vibrar o ciclorama com variações de púrpura que vão desde o branco até o índigo, exploram o olhar superior que vem do alto mas que se perde no infinito através dos homens e da grande estrutura cenográfica.

    A direção musical de Tony Lucchesi e a coreografia de Sueli Guerra vencem desafios com galhardia. "A cor púrpura" não é um espetáculo do repertório tradicional e, assim, não tem canções conhecidas do público. Além disso, vale dizer que ambos criadores tiveram em mãos uma peça que sempre sofrerá o risco de parecer religiosa demais, conservadora demais, lavanda demais. Talvez em vários momentos, ambos tenham perdido oportunidades de explorar um pouco mais a sensualidade que há em baixíssimo nível nessa partitura. No entanto, não se pode dizer com certeza que não houve tentativas, talvez por méritos deles, talvez por méritos da direção, talvez por mérito dos atores. O fato é que há, sim, momentos mais cômicos, ou mais sensuais, ou mais vigorosos que impedem a peça de afundar no mar de melancolia que Alice Walker criou (e quem ler o livro descobrirá isso). A música que dá título ao espetáculo, com letra de Artur Xexéu, fica na cabeça para sempre, marcando a potência dessa versão.




    Nesse sentido, a direção de Tadeu Aguiar, equilibrando-se perigosamente numa corda bamba que perigosamente pode-lo-ia fazer cair no excesso de sentimentalismo ou de fanatismo religioso, tem o brilhante mérito de emocionar pela delicadeza, de levar à oração sem o jugo da culpa, promover reflexão e divertimento sem cair nem na erudição nem na fanfarronice. É uma direção na medida que merece louvores por ter manipulado elementos tão tentadores sem cair em seus perigos.

As várias cores das interpretações

    "A cor púrpura" não é excelente por causa das interpretações e é claro que é preciso considerar nisso o contexto em que vivemos. Essa crítica se refere a uma apresentação em que três atores não estavam presentes por estarem diagnosticados com Covid-19: Claudia Noemi, Leandro Vieira e Nadjane Pierre. É claro que eles fizeram falta ao melhor sucesso do todo. Além disso, considera-se o processo pelo qual a produção que passou pela pandemia em ensaios irregulares, em sessões canceladas, em falta de rotina, em constante instabilidade. Nesse sentido, há que se reconhecer as muitas vitórias muito mais do que as pequenas derrotas. No entanto, esse site tem o histórico de refletir sobre os produtos e não sobre os processos, ou seja, não é de hábito aqui considerar como a obra chegou até onde esteve na sessão em questão, mas como ela estava aos olhos da análise na hora da apresentação.

    Os três pilares essenciais de "A cor púrpura" apresentam uma intepretação bidimensional, chapada, sem profundidade. Letícia Soares (Celie), Flávia Santana (Shug Avery) e Erika Affonso (Sofia) parecem depender exclusivamente do texto ou do figurino para se transformarem, pois, em seus corpos, nada se modifica ao longo da peça. As expressões faciais são as mesmas, os tons de fala são iguais, o gestual é invariável. É claro que o próprio texto obriga as intérpretes a se modificar, sobretudo no que diz respeito aos altos e baixos de Shug e à derrocada de Sofia. Mas esse mérito é do texto e pouco se reconhece a contribuição das atrizes nisso sobretudo quando se tem à disposição do olhar as demais interpretações do elenco em concorrência. Letícia Soares, em especial, apesar de cantar com uma exuberante potência e vibrante beleza, tem péssima dicção de maneira que, da quarta fila, não se entendem muitas palavras que ela diz. Perdem-se as consoantes, esvaem-se as potencialidades de variação tonal, perde-se o ritmo.

    Por outro lado, vemos vários intérpretes procurando formas de contribuir com o texto, de melhorá-lo, de tirá-lo do papel, de dar-lhe corpo, forma, personalidade. E, nesse sentido, é impossível não citar Ester Freitas (Nettie), Suzana Ribeiro (Jarene, uma das fofoqueiras), Analu Pimenta (Gralha) e principalmente Alan Rocha (Harpo). Freitas tem, diante de si, um desafio diferente dos demais citados, pois sua personagem é muito menor em termos de liberdade de criação. É uma figura que permanece imanente, isto é, na memória da audiência e de Celie. No entanto, Freitas soube criar e defender um padrão forte o bastante que se segurasse até o final quando a personagem reaparece. Já Santana, Pimenta e Rocha dão um show de exploração de potencialidades. Vêem-se neles o resultado de uma profícua pesquisa no amplo roll de possibilidade expressivas e na escolha consciente daquela mais adequada para cada momento. Quando estão em cena, não há cenário, não há figurino, não há luz que chame mais a atenção do que eles. E o que é o teatro se não o ator?

    

Por fim, para além de tudo no terreno das intepretações, vale aplaudir de pé o excelente trabalho de Wladimir Pinheiro (Mister Albert), um dos melhores atores do país. Cantor de primeiríssima grandeza, ele exibe, ao longo da peça, vastíssima variedade de cores e formas na composição de seu personagem, o antagonista. Outro poderia ter ficado satisfeito na cômoda posição de vilão e portanto sub-protagonista, mas Pinheiro deu-lhe níveis mais profundos, curvas evolutivas, humanidade. Em todas as cenas, o vemos fugindo dos lugares comuns e fáceis e investindo com força e assertividade desde os mínimos detalhes do olhar até os mais largos gestos de fúria. Ele brilha unânime nessa enorme produção cheia de outros méritos.

Um belo espetáculo

    O livro, o filme e a peça "A cor púrpura" são obras paralelas que encontraram, quarenta anos depois de seu primeiro aparecimento, lugar adequado para sua fruição. Vivemos um tempo de debates sobre preconceito racial, preconceito de gênero, preconceito religioso. Não se pode, porém, empobrecer as três obras baseando-se apenas na importante militância em prol de um mundo mais justo, fraterno e igualitário. O espetáculo "A cor púrpura" é ótimo não por um ser panfleto, afirmar isso seria uma agressão ao conjunto de criadores e realizadores envolvidos com a produção. O aplauso de pé, as lágrimas, a reflexão que a peça lega a quem sai do teatro são devidos aos seus muitos méritos estéticos. Se obviamente devemos ter o compromisso de valorizá-lo como bandeira potente na luta por uma sociedade melhor, há que se ter mais ainda o impulso natural de saudá-lo pela magnitude dos temas que ele aborda, mas sobretudo pela forma artística como essas pautas são trazidas à baila. Parabéns!!




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Ficha Técnica

Texto: Marsha Norman

Músicas: Brenda Russell, Allee Willis e Stephen Bray

Versão Brasileira: Artur Xexéo

Direção Geral: Tadeu Aguiar

Direção Musical: Tony Lucchesi

Elenco: Letícia Soares, Wladimir Pinheiro, Flávia Santana, Jorge Maia, Alan Rocha, Ester Freitas, Erika Affonso, Analu Pimenta, Suzana Santana, Cláudia Noemi, Hannah Lima, Caio Giovani, Renato Caetano, Thór Jr, Gabriel Vicente, Leandro Vieira, Nadjane Rocha, Léo Araújo e Merícia Cassiano.

Assistência de direção: Flávia Rinaldi

Produção de elenco: Marcela Altberg

Cenário: Natália Lana

Figurino: Ney Madeira e Dani Vidal

Desenho de luz: Rogério Wiltgen

Desenho de som: Gabriel D’Angelo

Coreografia: Sueli Guerra

Assistência de cenografia: Gisele Batalha

Assistência de Coreografia: Olívia Vivone

Assistência de direção musical: Thalyson Rodrigues

Assessoria de imprensa: Morente Forte

Mídias sociais: Rafael Nogueira

Designer gráfico: Alexandre Furtado

Produção executiva: Edgard Jordão

Coordenação de produção: Norma Thiré

Produção Geral: Eduardo Bakr