segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Oui, oui : a França é aqui (RJ)

Foto: divulgação

A pretensão de ser despretenciosa


Teatro de Revista: a despretensão poderia ser o nome de um gênero teatral bastante ante ante longe do clássico grego ou italiano, do teatro teórico, do realismo, do romantismo, do melodrama, esses últimos seus primos cabeçudos. O Teatro de Revista ou o Vaudeville ou, ainda, a comédia burlesca não quer ser nada além de motivo para o riso. As histórias são motivos para o riso. As interpretações querem ouvir gargalhadas. O figurino, o cenário, a trilha vive somente pela alegria. Reserva-se um mínimo de relação com o todo e o resto é significados espalhados pela platéia a fim de ser engraçado. A comédia de revista é uma conseqüência da evolução da farsa: seu foco principal é a ironia, com exageros ao deboche, às mulheres bonitas, às vinculações com o que é de mais popular e o riso fácil. No Brasil, Arthur Azevedo (importante crítico de teatro do século XIX) produziu várias Revistas de Ano, além de espetáculos vinculados a outros gêneros teatrais. Hoje, o “Casseta & Planeta” utiliza os signos da TV para atualizar o gênero: debocha da programação da Globo, da Política, da música,dos acontecimentos da semana. A Revistas faziam isso com os acontecimentos do ano.

“Oui, oui – A França é aqui” é um espetáculo que traz o gênero de volta ao palco. Há, na montagem, um forte e perigoso apelo didático: trata do tema a relação da França com o Brasil nos séculos a partir dos descobrimento, motivo para celebrar de forma divertida o ano da França no Brasil. Facilmente poderia cair na chateação e no marasmo, mas a direção de João Fonseca parece sentir os momentos mais tensos e sabe reverter, “sacudir a poeira e dar a volta por cima.” De cabeça levantada, “Oui, oui” se torna um ótimo divertimento para quem gosta do contato físico com os intérpretes e a expressão de grande talento musical.

Com canções muito bem escolhidas e maravilhosamente bem cantadas pelo elenco que é todo muito bom não só no quesito afinação, mas na comédia também, “Oui, oui”, que tem dois atos e intervalo no meio, passa rápido, agrada e deixa o público com vontade de mais. A trama da Torre Eiffel com São Sebastião pra ajudar um carioca da gema costura os quadros de uma forma bastante coerente. O mesmo, no entanto, não acontece com a cena inicial: a história da filha que quer casar com o protagonista, mas é fiel à vontade do pai que não aprova o casamento com um brasileiro. É longa e cansativa. O português correto e rebuscado demais afasta o público que, há pouco, entrou em contato com os personagens pela primeira vez. Resultado: tão chata é a cena que toda vez que ela volta, nossas costas buscam a guarda da poltrona preparadas para descansar para a próxima boa cena. O ritmo, assim, não é constante, mas parcialmente ascendente, entrecortado pelas cenas baixas.

O figurino é composto por uma calça jeans, sapatos pretos e camisa azul. Todo o resto são adereços que os atores colocam.Nada muito bonito, tampouco vistoso. Bem cuidada, essa opção estética manda um mensagem clara ao espectador: sinta-se à vontade. E nos sentimos livres para aproveitar. Tudo precisa ser fácil. E quase tudo é.

Despretensão carece de ser levada à sério tanto quanto a pretensão. Com isso, fica a certeza de que quem merece ser realmente bem considerado é o público a quem, muitas vezes, tantas coisas mal feitas é oferecido. “Oui, oui – a França é aqui”, que teria um grande mérito apenas pela proposta do Teatro de Revista, é digno dos aplausos e elogios que tem levado pela forma como aplaude e elogia a França e o Brasil e o seu público.

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Texto: Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche
Direção: João Fonseca

Elenco:
Gottsha
Marya Bravo
Solange Badim
César Augusto
Cristiano Gualda
Gustavo Gasparani

Direção Musical: João Callado e Nando Duarte
Figurinos: Marcelo Olinto
Cenários: Nello Marrese
Iluminação: Paulo César Medeiros
Coreografia: Sueli Guerra
Músicos: Nando Duarte, Fabiano Salek e João Bittencourt
Preparação Vocal: Pedro Lima
Programação visual: Paula Joory
Produção executiva: Alice Cavalcante e Renato Oliveira
Assessoria de imprensa: Marcelo Rocha
Idealização e Realização: Gustavo Gasparani

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