segunda-feira, 26 de junho de 2017

O fabuloso (RJ)

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Foto: divulgação


Juliano Antunes

Ótima coleção de fábulas antigas

“O fabuloso” é um ótimo monólogo com Juliano Antunes que tem dramaturgia e direção de Eleusa Mancini. A peça une seis fábulas antigas, três atribuídas ao grego Esopo e outras três ao romano Fedro, apresentadas para públicos de todas as idades. No palco, o ator interpreta 21 personagens construídos com seu vastíssimo repertório vocal e corporal com alguma colaboração da trilha sonora e da luz. Um dos aspectos mais interessantes que vale a pena ser destacado é o modo como sobretudo a plateia mais jovem se envolve com o espetáculo. As crianças se divertem com a sonoplastia defendida pelo intérprete através de ruídos produzidos pela boca. Ao longo do mês de maio, a produção cumpriu temporada no teatro da Scuola di Cultura, no bairro de São Francisco, em Niterói.

Equilíbrio de forças
“O rato da cidade e o rato do campo”, “O corvo e o jarro” “A formiga e a pomba”, “O burro e o lobo”, “Dois viajantes e o urso” e “A reunião geral dos ratos” são as fábulas apresentadas. Na dramaturgia, elas aparecem de modo editado: surgem interrompidas e continuadas em evolução ascendente. A opção garante a atenção, agindo contra aos malefícios de uma suposta linearidade da qual se foge assim. Em outras palavras, o texto colabora de maneira vibrante com os méritos do espetáculo porque, através de palavras simples e viabilizadas em ritmo ágil, organiza imagens potentes.

Em sua interpretação, Juliano Antunes viabiliza os personagens com enorme repertório expressivo. Além disso, seus gestos são claros e participam, por isso, dos valores do todo de maneira elogiosa. Sua dicção é firme e clara. Sua voz se modifica a partir de marcas bem pontuadas. Tudo isso ajuda a peça a vencer o desafio de oferecer tantos e diferentes personagens, mas sobretudo o de mantê-los todos vivos na memória da audiência ao longo dos 55 minutos da apresentação. A orientação corporal é assinada por Clarice Maia.

Pelo modo como se dá a ver através da direção de Eleusa Mancini, com assistência de Fábio Fortes, “O fabuloso” equilibra aspectos estéticos e morais envolvidos no gênero literário fábula. Por trás de todas as histórias, há uma intenção de ensinamento que, embora as justifiquem, talvez sejam - para o público adulto contemporâneo - sua parte mais delicada. Os investimentos da produção em detalhes da escrita cênica enaltecem a forma sem apagar o conteúdo, re-hierarquizando as forças do contexto. Nesse sentido, contemplar a narrativa é convite aparentemente tão caro quanto aprender com ela, o que é bastante positivo.

O figurino de Aline Ciafrino atua bem no sentido de oferecer agilidade para o ator, sem desfocar a proposta. O desenho de luz de Tadeu Freire colabora bem com o ritmo, zoneando o espaço cênico em lugares que vão sendo preenchidos pela interpretação. A sonoplastia de Bernardo Cahuê participa como se fosse um segundo intérprete, estabelecendo um jogo que, por sua complexidade, torna a peça ainda mais interessante.

Uma alegria
Produzida pela OrangoTango Produções Artísticas, “O fabuloso” é uma alegria na programação teatral niteroiense.

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Ficha Técnica 
Direção: Eleusa Mancini 
Ator: Juliano Antunes 
Assistência de Direção: Fábio Fortes 
Orientação Corporal: Clarice Maia 
Figurino: Aline Ciafrino 
Iluminação: Tadeu Freire 
Sonoplastia: Bernardo Cahuê 
Produção: OrangoTango Produções Artísticas 
Arte Gráfica: Yule Mansur 
Fotos: Marta Maciel e Leo Zuluh