sexta-feira, 22 de junho de 2012

Uma noite na lua (RJ)


Foto: divulgação

O encontro teatral
  
            “Uma noite na lua” é o belo monólogo em cartaz no Teatro do Jockey no Rio de Janeiro, interpretado por Gregório Duvivier. Lançado em 1998, com Marco Nanini, o texto volta aos palcos pelas mãos do mesmo diretor, João Falcão, que também é o autor da história, bem como das canções originais e dos movimentos de iluminação. Trata-se de uma história simples: numa festa, um jovem toma coragem e informa um ator de que tem um texto para ele. O ator responde com o compromisso de procura-lo no dia seguinte para pegar a obra. O conflito surge a partir de um fato: o texto ainda não foi escrito. O jovem volta para a casa e passa a noite tentando escrever uma peça, começando sempre pelo mesmo ponto: “Um homem está no palco pensando.” Premiado no fim dos anos 90, o espetáculo novamente agora é digno de prêmios. A interpretação de Duvivier é sólida. A encenação é potente. A iluminação é um personagem bem usado.
O jovem protagonista fora abandonado pela namorada/esposa, mulher de sua vida. Negando-se a pensar nela, é nela que ele não pára de pensar. Como ela reagiria, o que ela pensaria, por que ela foi embora? O jogo de negação e afirmação, de disposição e contrariedade, de medo e coragem dá um certo tom expressionista para o ritmo da narrativa. O personagem se perde em fantasmas, em figuras disformes, em histórias sem lógica, entortadas pela emoção da madrugada. Como em Kafka ou em O Gabinete do Dr. Caligari, o protagonista viaja por um mundo desconhecido que, na verdade, é ele próprio em um mar de expectativas. A comédia vem da possível inexistência de metáforas, o que deixa a história leve e o ritmo mais fluente. A poesia vem da simplicidade: a encenação não tem vídeos, não tem cenários, não é sustentada por nada que não seja fisicamente o ator. E um ator que exibe um excelente uso da técnica cênica.
Gregório Duvivier tem uma voz agradável aos ouvidos e canta belamente. Seus gestos são afinadíssimos em detalhes mínimos e em movimentos grandiosos. Seu corpo é ágil e ele usa de diversos tons ao se comunicar proxemicamente (o ator em relação ao espaço) e oralmente. O resultado é vibrante. Sozinho em cena, o personagem tem várias companhias, todas elas interpretadas pela iluminação, cujo uso decorre de variações no ritmo das mudanças, nas cores, no tamanho dos focos e na evolução dos quadros por ela construídos. O jogo de luz e sombra faz aumentar o expressionismo apontado no texto, trazendo ganhos estéticos surpreendentes para o teatro. O figurino negro de Hugo Leão, com positiva quebra de tons no par de meias, traz charme, reforçando a delicadeza desse homem só, preso em devaneios, na lua talvez. O todo é coerente e coeso, oferecendo aos olhos da plateia uma significativa união entre a forma que se vê e a história a que se assiste: o modo como se conta é também, afinal, o que se conta.
“Uma noite na lua” traz um ator, interpretando um personagem, diante de um público. Eis uma valorosa obra que celebra o encontro teatral: o momento em que se constrói a lua, Berenice e uma história a ser contada.

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Ficha técnica:
Dramaturgia, canção original, iluminação e direção geral: João Falcão
Ator: Gregório Duvivier
Direção Musical: Dani Black e Maycon Ananias
Programação de luz: Cesar Ramires
Técnico de som: Branco Ferreira
Figurino: Hugo Leão
Direção de produção: Paloma Varejão e Fernanda Faria
Consultoria de produção: Jô Abdu
Assessoria de Imprensa: Smart Mídia Comunição – André Gomes e Carla de Gonzales
Programador visual – Júlia Coelho
Assistente de programação: Fabio Steinberger
Preparador corporal – Gilvan Gomes
Assistente de direção: João Vancini
Assistente de produção: Jhon Santana
Fotografia: Renato Mangolin
Intérpretes de Libras: Jadson Abraão e Davi de Jesus
Making of: Frederico Cardoso
Assistente de Memorização: Clarice Falcão

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