Foto: divulgação
O encontro teatral
“Uma
noite na lua” é o belo monólogo em cartaz no Teatro do Jockey no Rio de
Janeiro, interpretado por Gregório Duvivier. Lançado em 1998, com Marco Nanini,
o texto volta aos palcos pelas mãos do mesmo diretor, João Falcão, que também é
o autor da história, bem como das canções originais e dos movimentos de
iluminação. Trata-se de uma história simples: numa festa, um jovem toma coragem
e informa um ator de que tem um texto para ele. O ator responde com o
compromisso de procura-lo no dia seguinte para pegar a obra. O conflito surge a
partir de um fato: o texto ainda não foi escrito. O jovem volta para a casa e
passa a noite tentando escrever uma peça, começando sempre pelo mesmo ponto: “Um
homem está no palco pensando.” Premiado no fim dos anos 90, o espetáculo
novamente agora é digno de prêmios. A interpretação de Duvivier é sólida. A
encenação é potente. A iluminação é um personagem bem usado.
O jovem
protagonista fora abandonado pela namorada/esposa, mulher de sua vida. Negando-se
a pensar nela, é nela que ele não pára de pensar. Como ela reagiria, o que ela
pensaria, por que ela foi embora? O jogo de negação e afirmação, de disposição
e contrariedade, de medo e coragem dá um certo tom expressionista para o ritmo
da narrativa. O personagem se perde em fantasmas, em figuras disformes, em histórias
sem lógica, entortadas pela emoção da madrugada. Como em Kafka ou em O Gabinete do Dr.
Caligari, o protagonista viaja por um mundo desconhecido que, na verdade, é ele
próprio em um mar de expectativas. A comédia vem da possível inexistência de
metáforas, o que deixa a história leve e o ritmo mais fluente. A poesia vem da
simplicidade: a encenação não tem vídeos, não tem cenários, não é sustentada
por nada que não seja fisicamente o ator. E um ator que exibe um excelente uso
da técnica cênica.
Gregório
Duvivier tem uma voz agradável aos ouvidos e canta belamente. Seus gestos são
afinadíssimos em detalhes mínimos e em movimentos grandiosos. Seu corpo é ágil
e ele usa de diversos tons ao se comunicar proxemicamente (o ator em relação ao
espaço) e oralmente. O resultado é vibrante. Sozinho em cena, o personagem tem
várias companhias, todas elas interpretadas pela iluminação, cujo uso decorre
de variações no ritmo das mudanças, nas cores, no tamanho dos focos e na evolução
dos quadros por ela construídos. O jogo de luz e sombra faz aumentar o
expressionismo apontado no texto, trazendo ganhos estéticos surpreendentes para
o teatro. O figurino negro de Hugo Leão, com positiva quebra de tons no par de
meias, traz charme, reforçando a delicadeza desse homem só, preso em devaneios,
na lua talvez. O todo é coerente e coeso, oferecendo aos olhos da plateia uma
significativa união entre a forma que se vê e a história a que se assiste: o
modo como se conta é também, afinal, o que se conta.
“Uma noite na
lua” traz um ator, interpretando um personagem, diante de um público. Eis uma valorosa
obra que celebra o encontro teatral: o momento em que se constrói a lua,
Berenice e uma história a ser contada.
*
Ficha técnica:
Dramaturgia, canção original, iluminação e direção geral: João Falcão
Ator: Gregório Duvivier
Direção Musical: Dani Black e Maycon Ananias
Programação de luz: Cesar Ramires
Técnico de som: Branco Ferreira
Figurino: Hugo Leão
Direção de produção: Paloma Varejão e Fernanda Faria
Consultoria de produção: Jô Abdu
Assessoria de Imprensa: Smart Mídia Comunição – André Gomes e Carla de
Gonzales
Programador visual – Júlia Coelho
Assistente de programação: Fabio Steinberger
Preparador corporal – Gilvan Gomes
Assistente de direção: João Vancini
Assistente de produção: Jhon Santana
Fotografia: Renato Mangolin
Intérpretes de Libras: Jadson Abraão e Davi de Jesus
Making of: Frederico Cardoso
Assistente de Memorização: Clarice Falcão
Realização:
Fluxos Produções Artísticas
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