Foto: Denise Ricardo
Presente “de Grego”
Regina Duarte completa 50 anos de carreira no palco. A peça “Raimunda, Raimunda”,
texto do piauiense Francisco Pereira da Silva (1930-1985), dá continuidade à
celebração que começou no ano passado, quando ela deu nova vida à personagem
Clô Hayalla do remake da novela “O Astro”, pela qual recebeu merecidos elogios.
Em 1961, no teatro amador, a paulista filha de um militar e de uma professora
de piano, com quatorze anos interpretava o personagem Palhaço em uma montagem
amadora de “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, em Campinas. No teatro, ela não aparecia
desde 2005, quando apresentou a peça “Coração Bazar”. No seu currículo, contam
ainda os espetáculos “A Megera Domada” (1966), “Romeu e Julieta” (1969) e “O
Santo Inquérito” (1978). Nas novelas, seu primeiro trabalho foi “A Deusa
Vencida” (1965), embora seja mais conhecida por Rita de Cássia, em “Irmãos
Coragem” (1970); por Malu, em “Malu Mulher” (1979), pela Viúva Porcina, em
“Roque Santeiro” (1985); pela Raquel, em “Vale Tudo” (1988); pela Maria do
Carmo, em “Rainha da Sucata” (1990); e por Helena, em “História de Amor”
(1995), em “Por Amor” (1997) e em “Páginas da Vida” (2006). Em cartaz no Teatro
I do CCBB/Rio, o espetáculo mostra uma Regina Duarte viva, alegre e motivada
que encanta o público pela sua energia. Ao seu lado, estão os atores Gustavo
Rodrigues, Rodrigo Candelot, Henrique Manoel Pinho, André Cursino, Milton
Filho, Saulo Segreto, Ricardo Soares e Rodrigo Becker. Em uma temporada longa e
a preços populares, o espetáculo, cuja direção é da própria Regina, é um
presente para seus fãs, mas um presente “de grego”. Há pouco de realmente bom
em “Raimunda, Raimunda”, além, de como já se disse, a faceirice de uma grande e
querida atriz de televisão no palco.
O
texto do espetáculo não só é mal escrito como de péssimo gosto. Dividida em
duas partes, a peça começa com o vídeo da explosão da bomba de Hiroshima. Na
seqüência, uma cena em que
Ramanda (Duarte) e Ruda, ou 3.1 (Segreto), pairam em um mundo
sem oxigênio, sem vida em busca de um paraíso inventado por ela (São
Saruê). No diálogo, uma série longa de explicações ao público sobre a realidade
da cena, sempre informando mais do que dizendo, completando mais do que
embelezando. O texto parece concluir-se em si, sem deixar a possibilidade do
leitor dar sentido a ele. O teatro, nesse contexto, está vazio. Não há
conflito, não há curva dramática, não há ação, mas sobram descrições. O que
poderia ser teatro do absurdo morre nas intenções de Ramanda que quer
conquistar o hermafrodita Rudá, situando a primeira parte de “Raimunda,
Raimunda” em um meio do caminho entre gêneros cênico-narrativos.
A
segunda parte da peça é felizmente melhor que a primeira. Regina Duarte
interpreta Raimunda, uma menina cearense com lábios leporinos que quer ser
enfermeira, corrigir a própria boca e, assim, ser feliz como julga serem as
outras mulheres. Com duas amigas, ela parte do sertão para o Rio de Janeiro,
vivenciando, no caminho, toda a sorte de desafios. É aí que vemos Regina na sua
melhor participação, a brincar com a doçura da personagem, seus sonhos, suas
vontades. O texto é um épico, de forma que as cenas se organizam como desafios
para a heroína na conquista de seu objetivo. A encenação, infelizmente, não tem
resultados interessantes. Como diretora de teatro, Regina Duarte é como alguém
que quer escrever, mas não tem vocabulário. Suas opções estéticas são pobres,
seus recursos de linguagem cênica são básicos e o resultado é uma peça que fica
muito aquém de suas possibilidades. Cenas rápidas são cortadas pela narração em off. O cenário se vê a
partir de projeções. Os personagens, construídos a partir de suas
características superficiais, lembram positivamente as figuras farsescas, mas
lhes faltam uma trama amarrada que dê ritmo, curva narrativa e motivação. Os
belos figurinos de Regina Carvalho, com supervisão de Beth Filipecki e de
Renaldo Machado, e as excelentes interpretações (dentro das possibilidades) de
Gustavo Rodrigues, de Milton Filho e de Rodrigo Candelot, não são suficientes
para cobrir as negativas contribuições do cenário vazio de José Dias, da
iluminação ilustrativa de Djalma Amaral e de Wilson Reiz e da confusa eleição
de trilha sonora de Charles Kahn.
O
pior do texto de “Raimunda, Raimunda” é a forma como, nele, se relacionam as
duas cenas, concluindo a segunda. O bombardeamento das cidades de Hiroshima e
de Nagasaki assassinou, em poucos segundos, mais de duzentas mil pessoas, sendo
esse um dos maiores crimes da história moderna. Fazer brincadeira disso,
situando uma cearense como testemunha ocular do fato, é uma piada de imenso mau
gosto. De forma que, ao final, ficam o parabéns pela coragem de aventurar-se
como diretora de um espetáculo teatral e o agradecimento por uma produção tão
próxima do grande público em uma comemoração tão especial, mas a certeza de que
o teatro carioca bem poderia ter passado sem essa.
*
Ficha Técnica
Textos: Ramanda e Rudá e Raimunda
Pinto
Autor: Francisco Pereira da Silva
Direção: Regina Duarte
Elenco
Regina Duarte
André Cursino
Gustavo
Rodrigues
Henrique Pinho
Milton Filho
Ricardo Soares
Rodrigo
Candelot
Saulo Segreto
Rodrigo Becker
Cenografia: José Dias
Figurinos: Regina Carvalho com
supervisão de Beth Filipecki e Renaldo Machado
Assistente de Direção: Amanda
Mendes
Direção de Movimento: Suely
Guerra
Trilha Sonora: Charles Kahn
Iluminação: Wilson Reiz
Assistente de Produção: Leonardo
Gall e Thiago Monteiro
Direção de Produção: Humberto
Braga
Idealização e Coordenação Geral:
Hermes Frederico
Produção: Frederico e Osório
Produções Culturais Ltda.
"Na vida há os que fazem e os que observam. Os que observam têm tempo para achar os defeitos."
ResponderExcluirEu fico com os que fazem, pois são mais corajosos, não têm medo de errar. Ganham experiência.
SIm eu concordo que num primeiro estagio a peça deixou a desejar, mas daí a dizer que o teatro carioca poderia passar sem essa, me desulpe, é de um profundo erro de interpretação. Não, nao poderíamos deixar de assitir, essa primoroza presença cênica de Regina Duarte, que nos surpreendeu e nos deu tanto prazer, saimos estasiados. Todo o elenco esta de parabéns.
ResponderExcluirAs mensagens que o teatro evoca vêm através da dramaticidade de seus atores, e alegorias, auditivas ou visuais. Cada um interpreta segundo si mesmo! O texto de Raimunda Raimunda, repensa de forma bastante alegórica a Existencia, tomando como foco central uma cearense em vários estágios de sua vida, alinhando com eventos históricos no espaço tempo. Parabéns a Regina Duarte pela iniciativa de passar a mensagem de Francisco e a todo elenco pelo entusiasmo em passar esta mensagem!
ResponderExcluirAssisti 3 vezes a peça e confesso que saí de lá com os olhos marejados. Regina Duarte em cena é magnifica!!! A coragem da direção só tem a somar em sua carreira. Parabéns à ela e todo o elenco.
ResponderExcluirTô com o crítico. A peça é péssima
ResponderExcluirTô com o crítico. A peça é péssima
ResponderExcluirEu gostei da peça. Leve, envolvente, e que revela todo o talento e o show de interpretação de uma das melhores atrizes da história da TV brasileira. Parabéns, Regina, pelos 50 anos de teatro, de pela peça!
ResponderExcluirAssisti aqui em São José do Rio Preto-SP a peça, e ela é péssima.Texto horrível, roteiro confuso, sem cronologia, podia ter ficado em casa assistindo um bom filme que ganhava mais. O que salva um pouco são as interpretações dos atores, que não são ruins,mas que se esforçam na medida do possível numa peça Nonsense.
ResponderExcluirPéssima a peça!
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