Foto: divulgação
“Obsessão” é um Bukowski
brasileiro. Viva o pulp!
Autora
de “Obsessão”, Carla Faour é dramaturga e brasileira, mas as proximidades com
Nelson Rodrigues param aí felizmente. (Ao contrário do que se pensa, nem todo o
dramaturgo brasileiro é filho ou neto de Nelson Rodrigues, assim como Bernard
Shaw e Harold Pinter também não são filhos, netos ou bisnetos de Shakespeare.
Yasmina Reza ou Ionesco não são parentes de Racine. A dramaturgia mundial, por isso
o “felizmente”, é rica para muito além de alguns autores). Em cartaz no Teatro Gláucio
Gil, o texto da peça se aproxima do melodrama, mas o espetáculo tem muito mais
elementos do pulp de Charles Bukowski do que de comédias de costumes, como também
já se disse sobre esse espetáculo. Em cena, vemos uma trama cujo motor é a
vontade de vingança. Uma mulher teve seu namorado roubado pela melhor amiga. Os
anos passam e o desejo de vingança aumenta, contagia e envolve. O ritmo é rápido,
há um narrador onipresente e a comédia surge a partir várias fontes: diálogos fortes, características
físicas dos personagens, cenas conseqüêntes dos atos das protagonistas. Nem de
longe há aqui o maniqueísmo melodramático, tampouco curvas narrativas
tradicionais. Há sangue, bocas vermelhas e vestidos também. Há mulheres
perigosas, armas de fogo e literatura de baixa qualidade. Pessoas que somem,
pessoas que buscam quem sumiu e muitas traições: é o submundo no texto de Faour
e na encenação de Tavares que encontra em “Obsessão” quase que só elementos
positivos.
Lívia
(Ana Baird) namorava Marcelo (Antônio Fragoso) quando ele e Marina (Carla
Faour), melhor amiga de Lívia, iniciaram
um relacionamento. Nasce aí Ana Lee, uma escritora de romances e de livros de
autoajuda de muito sucesso que purga nas páginas de suas histórias a mágoa sentida.
Anos depois, é chegada a vez da vingança e não é proibido dizer que quem nos
conta essa história é a própria Ana Lee. No palco, sabe-se que, sob a direção
de Henrique Tavares, o lugar do narrador é ocupado por várias figuras neutras
interpretadas em divisão com os personagens participantes. O cenário simplíssimo
do diretor fortalece a rapidez dos movimentos, da evolução das cenas que joga o
espectador para o fim com o forte desejo de saber como tudo termina. Nesse
sentido, também age o figurino assinado por Clara Rocha: roupas simples e de
gosto duvidoso, ou seja, exatamente o que se espera diante de uma boa atualização
desse gênero. Protagonistas, Baird, Faour e Fragoso dominam as cenas de forma
bastante positiva: são engraçados, dizem o texto de forma clara, têm gestos
limpos e intenções diretas. Daniel Belmonte e Celso Taddei interpretam
personagens com participações mais modestas, mas, consideradas as
possibilidades, auxiliam na construção de elogios. O jogo feroz da evolução da
narrativa é garantido pela ótima iluminação de Aurélio de Simoni. Um único elemento
negativo: a trilha sonora. Indierock e Caetano Veloso, para citar alguns
exemplos, estão bastante longe do mau gosto que faz do pulp ser pulp: popular,
barato, corriqueiro, sórdido.
Prazer
é ver a plateia cheia, as filas de espera, as pessoas redescobrindo o Teatro Gláucio
Gil em Copacabana, Rio de Janeiro. Eis, em “Obsessão”, uma peça jovem,
engraçada e inteligente encenada a partir de um texto ricamente escrito e
interpretada por um grupo de atores talentosos dirigidos de forma ágil e
vibrante. Parabéns.
*
Ficha técnica:
Texto: Carla Faour
Direção: Henrique Tavares
Elenco: Ana Baird, Antônio
Fragoso, Carla Faour, Celso Taddei e Daniel Belmonte
Diretor Assistente: Anderson
Cunha
Iluminação: Aurélio de Simoni
Figurino: Clara Rocha
Cenografia: Henrique Tavares
Visagismo: Evânio Alves
Programação Visual: Cláudia
Wolter
Assessoria de Imprensa: Márcia
Niemeyer
Fotos: Dalton Valério
Operador de Luz: Arthur Lyrio
Operador de Som: Lennon Santos
Contrarregra: Anselmo Ramos
Realização: Janeiro Produções
Maravilhosa esta peça TEATRAL, mais importante sendo de uma autora jovem que apresenta cada ano um sucesso estrondoso. Fica o incentivo para que novos autores BRASILEIROS despontem no UNIVERSO TEATRAL e que novos prêmios sejam criados...
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