segunda-feira, 4 de junho de 2012

Obsessão (RJ)


Foto: divulgação

“Obsessão” é um Bukowski brasileiro. Viva o pulp!

            Autora de “Obsessão”, Carla Faour é dramaturga e brasileira, mas as proximidades com Nelson Rodrigues param aí felizmente. (Ao contrário do que se pensa, nem todo o dramaturgo brasileiro é filho ou neto de Nelson Rodrigues, assim como Bernard Shaw e Harold Pinter também não são filhos, netos ou bisnetos de Shakespeare. Yasmina Reza ou Ionesco não são parentes de Racine. A dramaturgia mundial, por isso o “felizmente”, é rica para muito além de alguns autores). Em cartaz no Teatro Gláucio Gil, o texto da peça se aproxima do melodrama, mas o espetáculo tem muito mais elementos do pulp de Charles Bukowski do que de comédias de costumes, como também já se disse sobre esse espetáculo. Em cena, vemos uma trama cujo motor é a vontade de vingança. Uma mulher teve seu namorado roubado pela melhor amiga. Os anos passam e o desejo de vingança aumenta, contagia e envolve. O ritmo é rápido, há um narrador onipresente e a comédia surge a partir  várias fontes: diálogos fortes, características físicas dos personagens, cenas conseqüêntes dos atos das protagonistas. Nem de longe há aqui o maniqueísmo melodramático, tampouco curvas narrativas tradicionais. Há sangue, bocas vermelhas e vestidos também. Há mulheres perigosas, armas de fogo e literatura de baixa qualidade. Pessoas que somem, pessoas que buscam quem sumiu e muitas traições: é o submundo no texto de Faour e na encenação de Tavares que encontra em “Obsessão” quase que só elementos positivos.
            Lívia (Ana Baird) namorava Marcelo (Antônio Fragoso) quando ele e Marina (Carla Faour), melhor amiga de Lívia,  iniciaram um relacionamento. Nasce aí Ana Lee, uma escritora de romances e de livros de autoajuda de muito sucesso que purga nas páginas de suas histórias a mágoa sentida. Anos depois, é chegada a vez da vingança e não é proibido dizer que quem nos conta essa história é a própria Ana Lee. No palco, sabe-se que, sob a direção de Henrique Tavares, o lugar do narrador é ocupado por várias figuras neutras interpretadas em divisão com os personagens participantes. O cenário simplíssimo do diretor fortalece a rapidez dos movimentos, da evolução das cenas que joga o espectador para o fim com o forte desejo de saber como tudo termina. Nesse sentido, também age o figurino assinado por Clara Rocha: roupas simples e de gosto duvidoso, ou seja, exatamente o que se espera diante de uma boa atualização desse gênero. Protagonistas, Baird, Faour e Fragoso dominam as cenas de forma bastante positiva: são engraçados, dizem o texto de forma clara, têm gestos limpos e intenções diretas. Daniel Belmonte e Celso Taddei interpretam personagens com participações mais modestas, mas, consideradas as possibilidades, auxiliam na construção de elogios. O jogo feroz da evolução da narrativa é garantido pela ótima iluminação de Aurélio de Simoni. Um único elemento negativo: a trilha sonora. Indierock e Caetano Veloso, para citar alguns exemplos, estão bastante longe do mau gosto que faz do pulp ser pulp: popular, barato, corriqueiro, sórdido.
            Prazer é ver a plateia cheia, as filas de espera, as pessoas redescobrindo o Teatro Gláucio Gil em Copacabana, Rio de Janeiro. Eis, em “Obsessão”, uma peça jovem, engraçada e inteligente encenada a partir de um texto ricamente escrito e interpretada por um grupo de atores talentosos dirigidos de forma ágil e vibrante. Parabéns.

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Ficha técnica:

Texto: Carla Faour
Direção: Henrique Tavares
Elenco: Ana Baird, Antônio Fragoso, Carla Faour, Celso Taddei e Daniel Belmonte
Diretor Assistente: Anderson Cunha
Iluminação: Aurélio de Simoni
Figurino: Clara Rocha
Cenografia: Henrique Tavares
Visagismo: Evânio Alves
Programação Visual: Cláudia Wolter
Assessoria de Imprensa: Márcia Niemeyer
Fotos: Dalton Valério
Operador de Luz: Arthur Lyrio
Operador de Som: Lennon Santos
Contrarregra: Anselmo Ramos
Realização: Janeiro Produções

Um comentário:

  1. Maravilhosa esta peça TEATRAL, mais importante sendo de uma autora jovem que apresenta cada ano um sucesso estrondoso. Fica o incentivo para que novos autores BRASILEIROS despontem no UNIVERSO TEATRAL e que novos prêmios sejam criados...

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