Foto: divulgação
Confusão de linguagens
“O
céu está vazio” é um espetáculo escrito por Julia Spadaccini e dirigido por
Jorge Caetano, a terceira produção da Cia. Casa de Jorge. Trazendo questões que
podem interessar desde pré-adolescentes até pessoas mais adultas, o texto
apresenta personagens interessados em buscar o seu lugar no mundo, que bem pode
ser um não-lugar. De uma maneira ágil, o público conhece o casal Ivan e Laura
(Paulo Giardini e Ticiana Passos), pais de Lui (Rael Barja), um “emo”. Ivan
sofre de um mal: em seu ouvido, há um zumbido permanente. Laura é taróloga e
sabe que seu marido a está traindo há cinco anos. Sandra (Thaís Tedesco) é a
amante de Ivan, uma hippie que esconde bilhetes na roupa dele como uma forma de
se comunicar com a esposa. Há, ainda, uma outra personagem: “Emília” (Priscila
Steinman), uma “cosplay” que sofre do mesmo mal de Ivan. Desconfortáveis, todos
os personagens, assim, são vistos a partir de suas vontades pessoais de ser outro
alguém, de estar em outro lugar, de viver uma outra vida.
Aqui,
a dramaturgia de Spadaccini não é bem estruturada infelizmente, pois faltam
marcas nela que aproximem o espetáculo do público tendo em vista que o tema
quer parecer comum. Na voz do elenco, o texto escrito ainda está muito forte: não
há repetições, gaguejos, tergiversações e uma série de outras características
do discurso falado. Construídas de forma profunda, cada frase faz pensar e é
boa nesse sentido, mas o conjunto delas não constrói uma conversação dentro do
referencial estético proposto por Caetano.
No
cenário absoluta e infelizmente neutro de Fernando Mello da Costa, os
personagens se encontram na sala da casa de Ivan e Laura, na casa de Ivan e
Sandra e na ante-sala do Clube do Zumbido, uma reunião de pessoas que sofrem
desse mal, que é onde Ivan conhece “Emília”. Em nenhum dos ambientes há luz
geral, mas focos previstos no desenho criado por Ana Kutner. Disposta a fazer
entender que personagens desses tipos se encontram facilmente, isto é, a peça
trata de um tema pertinente, o que não é possível negar, a encenação naturaliza
as situações. Tudo é cinza e negro: sofá, chão, fundo, mesa, projeções. No
figurino meramente ilustrativo de Flávio Graff, disposto apenas a informar quem
é o emo, quem é a cosplay, quem é o hippie e quem é o homem sério e de negócios,
três dos cinco personagens vestem cores escuras. A trilha sonora do diretor também age
no sentido de contribuir para a construção de uma atmosfera fúnebre. Nesse
contexto, os personagens tendem a ser vistos como além de qualquer julgamento
sobre eles, como se não lhes fosse possível ser outra coisa que não o que são,
agindo segundo seus instintos (prever o futuro alheio, ter amantes, imaginar-se
morto, imaginar-se um super herói, ...). Ou seja, estamos falando de realismo
naturalismo em cena, enquanto no texto parece engendrar um drama de costumes, o
que aponta para uma confusão de estéticas e consequentemente de gêneros.
Nessa
mistura de linguagens descrita acima, é difícil avaliar o desempenho dos
atores. Elogia-se a forma clara como dizem o texto e observa-se em cada um o
esforço em construir seus personagens e marca-los para os olhos atentos do público,
mas não há como fazer destaques nem positivos e nem negativos.
Em cartaz no
Teatro Café Pequeno, eis aí uma alternativa que pode reunir na plateia pessoas
de várias “tribos” e idades diferentes, dispostas a conversar sobre o mundo ou
os mundos em que vivem.
*
Ficha técnica:
Texto: Julia Spadaccini
Direção: Jorge Caetano
Elenco: Paulo Giardini, Priscila
Steinman, Rael Barja, Thaís Tedesco e Ticiana Passos.
Diretor Assistente: Luis Fernando
Philbert
Cenário: Fernando Mello da Costa
Direção de Movimento: Márcia Rubin
Figurino: Flávio Graff
Iluminação: Ana Kutner
Visagismo: Josef Chasilew
Programação visual: Bruno Dante
Assessoria de Imprensa: Ivone
Kassu
Trilha Sonora: Jorge Caetano
Mixagem: Felipe Storino
Videografismo e Mapping: Renato
Vilarouca e Rico Vilarouca
Animação de abertura e
encerramento: Rodrigo Tavares, Renato Vilarouca e Rico Vilarouca
Preparação corporal: Marina
Magalhães
Perucas: Márcia Elias
Fotos: Marcos Morteira
Contrarregra: Ricardo Lopes
Operação de Luz: Allan Imianowsky
Operação de Som e Vídeo: Paulo
Mendes
Gerente de Projeto: Rodrigo
Gerstner
Produção: Diálogo Produções
Produtora Assistente: Simone
Vidal
Assistentes de Produção: Joana D’aguiar
e Taty Maria
Direção de Produção: Ana Paula
Abreu e Renata Blasi
Realização: JCaetano Produções
Uma vez me disse que escrevo com clareza. Estou seguindo teu exemplo. Grande abraço para reforçar a grande admiração.
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