Foto: divulgação
Um musical que une a família
independente da idade
O
melhor das produções musicais de Charles Moeller e Claudio Botelho é o fato de
sabermos que eles GOSTAM do gênero musical. Por mais óbvio que isso possa
parecer, não é: gostar de musical significa cuidar dele, entender que uma peça
é uma fala e que o gênero é o idioma. Se você fala mal, é o idioma que você
machuca. Assim, eles não abrem concessões. Sabem que há produções mais caras e
outras menos caras, impossíveis agora, possíveis uns anos além, que exigem
essas e essas vozes, esses e esses artistas, esse palco nesse teatro e não
menos. “O Mágico de Oz”, que estreou ontem no Teatro João Caetano, é o 31º
musical da lista da dupla e isso não significa que é o melhor. Não é isso que o
texto abaixo quer provar ou negar. A análise a seguir vai argumentar no sentido
de explicar ao leitor o porquê dessa ser uma grandiosa e excelente produção que
embeleza o teatro brasileiro, mas, sobretudo, abrilhanta o gênero musical, um
tipo de teatro que não é nacional, mas, em tempos de globalização, é tão nosso
quanto de qualquer um.
“The
Wonderful Wizard of Oz” foi, antes de se tornar um musical, um livro
infantil escrito pelo americano L. Frank Baum (1856-1919). Tanto sucesso fez no
ano de seu lançamento e nos seguintes que resultou em mais treze livros, esses
escritos até 1909. Dedicados à senhora Baum, esposa do autor, hoje, desde 1956,
os livros são de domínio público. A história do livro começa assim:
Dorothy, a
protagonista, é uma garota que vive em uma fazenda em Kansas (EUA) com seu tio
Henry e sua tia Em. Seu único amigo é o cachorrinho Totó que, um dia, fugiu
para fazenda da Senhora (Elmira) Gultch que, irritada, procura seus vizinhos a
fim de exigir que o cachorro seja entregue à municipalidade uma vez que,
segundo ela, a dona não sabe cuidar dele. O cachorro é levado, então, pela
malvada vizinha, mas foge e volta para casa. Ao revê-lo, a triste Dorothy
decide fugir de casa e, no caminho, encontra um mágico que lê a sua sorte, o
Professor Marvel. Na bola de cristal, o mágico vê a tristeza de seus tios que sofrem
com a partida da sobrinha. Uma tempestade começa e a garota volta para casa
arrependida de ter partido. Um furacão se aproxima e todos se escondem. Dorothy
entra em casa no momento em que ela é fisgada pelo tufão. Quando a casa volta
ao chão, Dorothy descobre que o prédio caiu sobre uma bruxa terrível. O feito
libertou o Reino dos Munchkins, homens baixinhos que viviam sob o domínio da
Bruxa Má do Leste, agora morta graças à Dorothy. A Bruxa Boa do Sul, Glinda,
aparece e Dorothy é consagrada heroína da terra dos Munchkins, mas tudo o que
ela quer é voltar para casa. Glinda dá a Dorothy, então, os sapatos prateados
da Bruxa Má do Leste e diz à garota que ela deve seguir a estrada de tijolos
amarelos até a Cidade das Esmeraldas onde encontrará o Mágico de Oz que poderá
ajudá-la.
O livro de
Baum teve muitas atualizações desde que foi lançado. Uma das primeiras foi a
versão para o teatro que aconteceu em 1902. “The Wizard of Oz” estreou na
Broadway em 1903 depois de sua primeira temporada em Chicago no ano anterior.
Se apresentava como uma “extravaganza” (unia uma quantidade muito grande de
compositores e letristas) e fez 293 apresentações até 1904. Era estrelada por
Anna Laughlin no papel principal e por Fred Stone (Espantalho), David
Montgomery (Homem de Lata) e Arthur Hill (Leão). L. Frank Baum escreveu o
roteiro, Paul Tietjens os arranjos das músicas e W.W. Denslow (que havia feito
as ilustrações do livro) foi o responsável pelos cenários e figurinos. Fred. R.
Hamlin produziu e Julian Mitchell assinou a direção. Como era típico numa
extravanganza, a história é um motivo para a inclusão de várias músicas,
piadas, situações estreitamente ligadas à realidade da apresentação. Assim, o
roteiro básico era igual ao do livro, embora terminasse com a partida de Oz de
Dorothy sem mostrar a chegada dela em Kansas. O desenvolvimento, no entanto, envolvia
uma série de pequenas situações outras, como comentários sobre a política, um
poeta que canta à heroína com uma canção sobre Michigan, seu estado
norte-americano preferido, e outras cenas do tipo.
A mais conhecida
versão da história é o filme de 1939 estrelada por Judy Garland. Nas mais
importantes listas, seu título está entre as dez melhores produções da história
do cinema mundial. Além de Garland, participam do filme: Frank Morgan (o
Mágico), Ray Bolger (Espantalho), Jack Haley (Homem de Lata), Bert Lahr (Leão),
Billie Burke (Glinda) e Margaret Hamilton (Sra. Gulch). Não foi o primeiro
filme produzido em Technicolor, mas seu uso nas cenas em preto e branco com
tons marrons fazem dele um clássico desse tipo de fotografia. Os direitos
autorais dos livros foram comprados pela MGM em 1938, ano em que começaram as
filmagens, após um longo e cansativo processo de casting tanto de elenco como de técnicos. Vários foram os roteiristas
que fizeram várias versões do filme. A direção também teve alterações. Richard
Thorpe começou dirigindo, mas foi substituído por George Cukor (“Born to be a
star” e “My Fair Lady”) que depois foi substituído por Victor Fleming (“... E o
vento levou”), que assina a direção. King Vidor é quem terminou o filme
dirigindo as cenas em Kansas, embora não tenha sido creditado. O filme ganhou
quatro indicações (Melhor Efeitos Especiais, Melhor Fotografia, Melhor Direção
de Arte e Melhor Filme) e dois Oscar (Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção) em 1940. A música “Over the
rainbow” foi composta por Harold Arlen e a letra é de E. Y. Harburg e é uma das
canções mais famosas do mundo. Foi nesse filme, também, que Glinda passou a ser
a Bruxa Boa do Norte e não mais do Sul e em que os sapatinhos passaram a ser vermelhos
e não mais prateados.
A versão de Charles Moeller e de Cláudio Botelho vem da versão dirigida por John Kane, com as músicas de Harold Arlen compostas para o filme de 1939. Estreado em Londres, em 1987, o musical foi produzido pela Royal Shakespeare Company a partir do filme, direitos obtidos especialmente pelos estúdios, e de uma versão teatral de 1945, escrita por Frank Gabrielson. Com cenários de Rogério Falcão (mais de 14 lugares), figurinos de Fause Haten (mais de 300 peças), iluminação de Paulo César Medeiros e coreografias de Alonso Barros, a produção brasileira se apresenta como uma das maiores de sua história.
A versão de Charles Moeller e de Cláudio Botelho vem da versão dirigida por John Kane, com as músicas de Harold Arlen compostas para o filme de 1939. Estreado em Londres, em 1987, o musical foi produzido pela Royal Shakespeare Company a partir do filme, direitos obtidos especialmente pelos estúdios, e de uma versão teatral de 1945, escrita por Frank Gabrielson. Com cenários de Rogério Falcão (mais de 14 lugares), figurinos de Fause Haten (mais de 300 peças), iluminação de Paulo César Medeiros e coreografias de Alonso Barros, a produção brasileira se apresenta como uma das maiores de sua história.
O elenco é
protagonizado por Malu Rodrigues, que interpreta Dorothy. A jovem atriz, que já
esteve em outros musicais de Moeller e Botelho, como “A Noviça Rebelde”, “7 – O
musical”, “O Despertar da Primavera” e “Um violinista no Telhado”, se destaca
no grande grupo pela voz aguda que atinge tons elevados. O nervosismo de sua
personagem (que quer encontrar seu cachorro, que quer encontrar o mágico, que
quer voltar pra casa) deixa já no texto transparecer uma espécie de
anti-heroína, isto é, uma heroína que não quer avançar, mas retroceder e, como
de costume em narrativas de quadros como esse tipo, tendem a desaparecer
sufocada pela boa presença das outras figuras. Baum, Kane, Moeller e Botelho
equilibram positivamente a performance colocando ao seu lado personagens
carismáticos: o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão. Pierre Baitelli, Nicola Lama
e Lúcio Mauro Filho estão esplêndidos,
garantindo, no que diz respeito às interpretações, grandes momentos, o que chama
a atenção para Dorothy e dá unicidade para o grupo que percorre a Estrada de
Tijolos Amarelos. A vontade de saber mais, a vontade de amar e ser amado e a
conquista da auto-confiança são os conceitos que estão por trás das três
figuras aparentemente infantis e o trio de atores deixam ver isso com
galhardia. O conjunto do elenco principal se fecha ainda com as ótimas
presenças de Miéle, como o Professor Marvel e de Maria Clara Gueiros, como a Bruxa Má do Oeste. Enquanto
o primeiro traz doçura para a narrativa, pelo tom carinhoso ao falar, a segunda
garante inúmeros aplausos em cena aberta acompanhados de sonoras gargalhadas. (Há
quem diga que Miéle interprete Miéle e Gueiros Gueiros. Nesse caso, o mérito
honroso vai para o casting da
produção que soube escolher tão bem esses dois nomes.) O senão vai para Bruna
Guerin. Apesar de uma linda voz, a tez impassível negativamente auxiliada pelas
pérolas em sua testa na personagem de Glinda, impedem de observar mais naturalidade
em seu semblante, o que a distancia do público e a diminui consideravelmente
diante da Bruxa Má do Oeste. O elenco de apoio se destaca fundamentalmente em
voz, em interpretação e em
dança. No conjunto, mostram-se positivamente nos três
aspectos. Porque aparecem sozinhos ou pouco acompanhados há que se elogiar
Kostyantyn Biriuk e Flávio Arco-Verde, o Deus Ciclone e o Macaquinho da Bruxa Má
do Oeste respectivamente, pelos movimentos corporais específicos e pela graça
que trazem para o todo cênico.
Cenário, luz,
figurinos, projeções e execução da trilha sonora: tudo é da melhor qualidade.
Charles Moeller e Claudio Botelho não permitem falhas porque o gênero assim não
permite. Elas existem? Sim, mas o espectador que as percebe sabe que elas não
foram previstas e serão corrigidas imediatamente. Eis o gênero comédia musical:
o mundo idealizado das canções, o passo além do ultra-romantismo, as formas
fixas, o questionamento organizado do mundo. Cenários sobem e descem na hora
certa, casas caem, músicas entram, roupas são trocadas, efeitos surgem sem que
o ritmo saia fora do plano. Em se tratando do ritmo, eis uma questão
interessante. Ele cai no final da peça quando se descobre a verdade sobre o
mágico de Oz. No teatro, mesmo em um musical como esse, não há receitas
prontas. Ao contrário do que é comum, o ritmo cair aqui é um benefício. Finda a
aventura de Dorothy no país de Oz e é hora de voltar pra casa. É hora de
aprender com a experiência que teve, hora de se despedir. É chegada a hora da
emoção e ela vem a contento, depois de muitas cenas cômicas e de ação.
Dame Julie
Andrews apresenta os 45 anos de “The Sound of Music” respondendo à pergunta do
porquê esse musical ainda hoje é tão famoso, tão emocionante, tão vivo. Segundo
ela, trata-se de uma história sobre a família, um tema que é comum para todos
independente da idade. “O Mágico de Oz” é o mesmo exemplo e a montagem
brasileira vai além nesse sentido. Divertem-se as crianças com o Leão, o Homem
de Lata, o Espantalho e o Totó, um cachorro de verdade no palco do Teatro João
Caetano e o colorido dos Munchkins ou campo de papoulas. Divertem-se a valer
também os adultos com as referências ao filme “Metrópolis”, de Fritz Lang
(1927), no cenário; com os tons dados aos personagens Espantalho (trocas
lingüísticas) e Leão (medroso dentro do armário); com os corvos e seu número de
sapateado; com as críticas feitas pelo mágico (“Não é preciso ter cérebro para
falar!”); e, mais que tudo, com a Bruxa Má da Oeste e seu repertório de
expressões sintonizado com o falar diário. “Não há lugar
como a nossa a casa” é uma verdade que emociona quando dita e ainda mais quando
cantada e encenada tão magnificamente como aqui é o caso.
*
Ficha técnica:
Um espetáculo de CHARLES MÖELLER & CLAUDIO
BOTELHO
Com:
MARIA CLARA GUEIROS – BRUXA MÁ DO OESTE
LUCIO MAURO FILHO – LEÃO COVARDE
MALU RODRIGUES como DOROTHY
PIERRE BAITELLI – ESPANTALHO
NICOLA LAMA – HOMEM DE LATA
BRUNA GUERIN – GLINDA / TIA EM
ANDRÉ FALCÃO – TIO HENRY
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL:
LUIZ CARLOS MIELE – MÁGICO
ENSEMBLE:
ALESSANDRO BRANDÃO
ALFREDO DEL-PENHO
ARTHUR MARQUES
BETO VANDESTEEN
BIANCA ANDREOLLI
CHIARA SANTORO
CRISTIANA POMPEO
DARWIN DEL FABRO
ELINE PORTO
ELTON TOWERSEY
FABIANA TOLENTINO
FLÁVIO ARCO-VERDE
GISELLE LIMA
HELCIO MATTOS
JOANE MOTA
JULIANA LAGO
JUNIOR ZAGOTTO
KOSTYANTYN BIRIUK
MAÍRA LANA
NATACHA TRAVASSOS
NATALIA CARVALHO
PEDRO ARRAIS
THADEU MATTOS
VANESSA COSTA
WALLACE ARAÚJO
WALLACE RAMIRES
ZURYCK D'TASSIO
e SAGE como TOTÓ
Direção Musical e Regência: MARCELO CASTRO
Supervisão Musical: CLAUDIO BOTELHO
Coreografia: ALONSO BARROS
Cenografia: ROGÉRIO FALCÃO
Figurinos: FAUSE HATEN
Iluminação: PAULO CESAR MEDEIROS
Design de Som: MARCELO CLARET
Visagismo: BETO CARRAMANHOS
Realização: AVENTURA ENTRETENIMENTO
Se me permite opinar... Tenho 40 anos e durante toda a minha vida sonhei em assistir um musical. O primeiro que pude ver foi Judy Garland, me emocionei muitas vezes e no fim tive espasmos de choro, uma das maiores emoções da minha vida.
ResponderExcluirTive a chance de assistir O Magico de Oz da dupla Charles Moeller e Claudio Botelho, nesta quinta-feira dia 07, foi mais uma experiencia inesquecível! Figurino espetacular, vozes maravilhosas, coreografias perfeitamente ensaiadas, muitos talentos reunidos. Minha atenção especial para PIERRE BAITELLI – ESPANTALHO e NICOLA LAMA – HOMEM DE LATA, muito carismáticos!!
Mas alguns detalhes no texto me assustaram um pouco... para um espetáculo que será visto por muitas crianças. Será que uma criança covarde, com seus medos infantis não ficará confusa em saber que o leão covarde se declara gay? Porque o leão gay ganhou este adjetivo?
E uma frase da Bruxa má, onde ela diz, já no escuro do palco: " A Tia vai ensinar uma brincadeira pra voces, vou esconder umas coisinhas no meu corpo e voces vão procurar" Ou quase isso. Não sei se foi um "caco" da Maria Clara, creio que não. Mas para uma platéia infantil, é uma frase que mais parece ter vinda de um pedófilo. Num outro momento O leão faz uma bricadeira do tipo: "O que voce quer dizer com buraco" num tom malicioso...Longe de parecer moralista, mas achei que o texto tem vários "trocadilhos" maliciosos que desrespeitam a platéia infantil.
Assisti O Mágico de Oz, na segunda sessão de sábado. Pensei que as crianças seriam o público das 16:00 e os adultos das 20:00...Qual não foi minha surpresa: platéia LOTADA de pequenos inquietos e saltitantes baixinhos, como diz a outra.
ResponderExcluirNão contentes, os mesmos, acompanhados por suas NÃO MENOS SALTITANTES MÃES, tentando explicar aos miúdos o q estava acontecendo no palco...
Fica a dica: PEÇAS INFANTIS DEVERIAM RESPEITAR O HORÁRIO VESPERTINO.
Crianças de 4, 5 e 6 anos...na Praça Tiradentes, saindo do espetáculos as 23:00...e atrapalhando os adultos, que pagaram R$120,00 o ingresso, e não tiveram a chance de escutar e assistir a peça...me parece errado! Fiquei MUITO chateada. Esperava uma peça adulta, ou pelo menos, adolescente...mas INFANTIL...as 20:00...repito: NINGUÉM MERECE!
Que espetáculo lindo! Pontos altos:
ResponderExcluir1- Belíssimo coro! A música à capela foi de arrepiar! 2- Belíssima coreografia. 3- Lindos momentos com o espantalho, o leão, o homem de lata e os corvos 4- Lindo visual (os cenários, as papolas e os efeitos visuais do furação)
Pontos fracos: 1- Protagonista que não emociona. Até o canto fica ofuscado pela péssima atuação. 2- Orquestra coberta. Perdeu o brilho!
quando vem pra SP ???
ResponderExcluirComo faço para enviar um espetáculo para crítica? Para qual email envio?
ResponderExcluirEnvie para csonakos@hotmail.com abracos, rodrigo
ExcluirAinda não vi, mas posso notar que o espetáculo " O Mágico de Oz" é fantástico.
ResponderExcluirCom vários atores e atrizes espetaculares, como Lúcio Mauro Filho,e Maria Clara Gueiros.
Gente que vai assistir a um musical que para início de conversa é infantil (embora Charles e Claudio sejam absurdamente maravilhosos a ponto de fazerem um musical sem idade limitada) sem querer encontrar crianças. É sério isso?
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