Foto: divulgação
Carente de organização
Produção
da Cia. Escaramucha, “Histórias que o eco canta” é uma adaptação para teatro de
três contos de Oscar Wilde: “O rouxinol e a rosa”, “O aniversário da infanta” e
“O gigante egoísta”. Dirigida por Ilo Krugli, com co-direção de Ribamar
Ribeiro, o espetáculo foi encenado em 1994 (uma única apresentação),
reestreando em junho de 2012 no Teatro Municipal Ziembinski.
(A produção
diz ter sido premiada na primeira apresentação. Os espetáculos com a assinatura
de Ribamar Ribeiro têm o mal costume de anunciar-se como premiados sem que se
saiba de quais prêmios se tratam. O certo é que participações em festivais
amadores não são relevantes a produções que, agora, se apresentam em horário
comercial.)
O
grande mérito da produção são as belas canções, tão belamente cantadas e
tocadas pelo grupo de atores-musicos. A direção musical de Caíque Botkay
confere graça à obra na medida em que a utilização dos instrumentos musicais e
as interpretações das músicas sem o uso de microfones são claras e boas de
ouvir. Como destaques positivos no elenco, vale citar Mariana Xavier e Diego de Abreu, cujas vozes são afinadas e as participações são envolventes: em ambos,
há emoção, leveza nos gestos, clareza na oratória, verdade nas entonações.
Infelizmente,
sobram aspectos negativos, resultantes de uma ou duas más direções: a dramaturgia
é complicada, os aspectos visuais são mal considerados e a movimentação é
confusa. Vamos por partes.
É
verdade que tanto crianças como adultos gostam de boas histórias, mas é mentira
que narrativas que servem para adultos também servem para crianças. Por
narrativa, aqui, não se quer dizer a história em si, mas o jeito, a forma como
ela é contada. Ou seja, crianças vão perceber alguns elementos, adultos outros.
Desde Piaget, sabe-se que, quanto menos adulto for o ser, mais difícil fica a
relação espaço-tempo. Em “Histórias que o eco canta”, as músicas, o gigante e o
colorido de parte da rotunda são os elementos mais importantes para as
crianças, enquanto que os mais adultos vão prestar a atenção na evolução dos três
contos. Ao invés de contar uma história, depois outra e, por fim, a última, o
grupo optou por contar as três de forma concomitante, o que complica a
narrativa seja para quem for o público, pois os três contos não têm a mesma
estrutura dramática (ver o caso de “Palácio do Fim”), além de fazer prever o
fim.
Há
uma larga confusão no uso das texturas nos figurinos de Ney Madeira. Tanto os
atores como os bonecos usam retalhos de tecidos de traçados diferentes e nenhum
deles é bem costurado, de forma que sobram desfios, rasgos e más costuras. As
roupas neutras são em tons pastéis, igualando-se com os tons dos cenários de Derô
Martins – rotunda positiva em arco-íris, mas carrinhos de madeira bruta
praticamente sem serventias. Além disso, há muitos adereços em papéis (alguns
em jornais), o que é um decréscimo para produção. No final do espetáculo, o
palco está uma bagunça bastante negativa.
Por
fim, a movimentação dos atores não têm uma ordem clara. Algumas vezes, os
objetos de cena são tirados da própria cena. Em outras, os atores vão à coxia
buscar o que falta para contar a história. O entra e sai evolui a ponto de se
aproximar a um caos nada interessante à graça anunciada na execução das canções.
“Histórias
que o eco canta” necessita de organização para figurar entre as produções
profissionais de qualidade no Rio de Janeiro.
*
Ficha técnica
Texto e direção:
Ilo Krugli
Direção
Artística: Ilo Krugli e Ribamar Ribeiro
Elenco: Ana Berttines, Diego de Abreu,
Flavio Vidaurre, Laura Becker, Mariana Xavier, Renata Tavares, Rômulo Rodrigues
Co-direção : Ribamar Ribeiro
Direção musical e arranjos -
Caique Botkay
Figurinos- Ney Madeira
Cenário- Derô Martin
Iluminação - Djalma Amaral
Direção de movimento - Sueli
Guerra
Preparação vocal - Pedro Lima
Preparação musical - Daniel
Fernandes
Realização - Cia Escaramucha
de Teatro
Produção - Prama Comunicação
Bom dia Rodrigo, sou Renata Tavares, atriz deste espetáculo. Acho válido o posicionamento crítico do meu trabalho ou do trabalho em que eu estou participando, mas entendo que esta avaliação deve ser embasada por informações mesmo que seja rasa, sobre o que se irá criticar. Infelizmente houve equívocos na sua crítica, o nosso espetáculo não é o espetáculo de 1994, nós não temos relação alguma com eles. A nossa peça foi dirigida pelo Sr. Ilo Krugli, que também é o autor e é uma referência do teatro infantil no Brasil, de fato a dramaturgia é repartida, mas esta é a linguagem que ele construiu ao longo de 40 anos de estrada aqui no Brasil, ele é argentino. A proposta do teatro Vento Forte, Cia fundada por ele e pelo Sr. Caique Botkay e outros, diz que tudo pode ser tudo, essa é a linguagem poética da direção e que para entrar na viagem de "Histórias que o Eco Canta" e fazer uma avaliação técnica e crítica, acredito que seja necessário estar conectado com determinadas informações. Não estou considerando aqui o público que vai assistir e que também nos dá o feedback positivo ou negativo, que é super importante, mas sim de pessoas como nós pensadores e "entendedores" desse fazer teatro.
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