Foto: divulgação
O direito de significar versus o
dever de entender
“Autopeças 2 –
Peças de encaixar” é a segunda versão de uma primeira que estreou em maio do
ano passado. O espetáculo é fruto de uma das oficinas de dramaturgia realizadas
pela Cia. Dos Atores, tendo como colaboradores Jô Bilac, Pedro Brício e Vadim
Nikitim. Dirigido por César Augusto e por Susana Ribeiro, o projeto reúne sete
textos encenados por Ana Abbott, João Rodrigo Ostrower, Jonas Gadelha, Mariana
Nunes, Suzana Nascimento, Tracy Segal, Raquel Alvarenga, Eduardo Almeida, Átila
Calache e Alex Pinheiro. Em cartaz no teatro da Caixa Cultural, centro do Rio
de Janeiro, eis aí uma peça que apresenta boas interpretações, textos criativos
e uma dramaturgia interativa, aos moldes pós-dramáticos, em que é o espectador
quem deve dar sentido, coerência e coesão ao que se vê em cena.
O cenário de
Bia Junqueira é composto por placas de papelão que se estendem para além do
espaço cênico, invadindo a plateia. Dobrando e descobrando algumas peças,
subsolos coloridos vêm à luz, auxiliando na construção de imagens
interessantes. Os objetos de cena, quase todos eles, são feitos de papelão
também. Afora o fato de que os materiais são “encaixados” e o nome do
espetáculo ser “Peças de encaixe”, como também constar no release de divulgação
a proposta de que os textos foram “encaixotados”, cenário e encenação pouco têm
a ver. Usando três lados dos quatro existentes na arena do espaço teatral, a
produção deixa ver uma plateia vazia. Essa opção estética pode apresentar, pelos
argumentos a seguir, indicações de certos vínculos mais claros com a encenação.
Os
textos encenados são: “Papo de mineiro” (autoras: Suzana Nascimento e Raquel
Alvarenga), “Tem um fantasma atrás de mim” (Suzana Nascimento), “Marcel e
Marceau” (Diogo Liberano), “Tatu” (Monica Sólon), “Primeiro eu” (João Rodrigo
Ostrower), “Aquilo que fica” (Alexandre Rudáh) e “Ponto de escuta” (Alexandre
Pinheiro e José Caminha). Todos eles funcionam separadamente, mas, uma vez
justapostos, o espectador pode, se quiser, descobrir o que motivou a sua ordem.
Divergentes, os signos teatrais sugerem outro tipo de dramaturgia cênica, outro
tipo de fruição. Em “Autopeças 2” ,
há cenas cômicas e mais dramáticas, momentos em que o texto privilegia o cenário
ou o figurino de Patrícia Muniz, esse bastante pontual, discreto e, por isso,
adequado a um tipo de encenação que pode ser o que o espectador quiser. Nas
interpretações, todos os atores, em algum momento, se destacam positivamente,
de forma que, no todo, o grupo é responsável por uma obra meritosa. César
Augusto e Susana Ribeiro assinam o ritmo uniforme, as movimentações bem dosadas e o todo não coeso disponível,
deixando, assim, nas mãos de quem vê a peça, completar os textos ou encerrar o
encaixotamento das histórias da forma que bem quiser. É um convite.
Uma
história traz um uma receita que terminará quando a comida estiver pronta. Há
um homem-bomba que explode, um relacionamento que termina e recomeça, uma mãe que morre,
uma atriz que abandona uma peça, pessoas que querem ser atores. Há quem, morto, telefone do além e há quem recebe essa ligação. E há uma escalada até as
nuvens. Pensar que “Autopeças 2”
fala sobre a vontade do homem em marcar sua existência para além do fim da sua
vida, estender sua passagem, avançar os umbrais do tempo é um direito de quem
assiste. O mérito do gênero aqui atualizado é não ser um dever. O teatro, que
se esvai com o tempo e só fica na lembrança das pessoas, pode ser uma relação
entre a plateia vazia e a peça a que se assiste. Pode não ser.
*
Ficha técnica:
Textos - Oficina de dramaturgia
Elenco - Ana Abbott, João Rodrigo Ostrower, Jonas Gadelha, Mariana Nunes, Suzana Nascimento, Tracy Segal, Raquel Alvarenga, Eduardo Almeida, Átila Calache, Alex Pinheiro
Direção - Cesar Augusto e Susana Ribeiro
Codireção - Diogo Liberano
Dramaturgia - Bel Garcia
Cenário - Bia Junqueira
Figurino - Patricia Muniz
Iluminação - Paulo César Medeiros
Trilha sonora - Rodrigo Marçal
Programação visual - Radiográfico
Assessoria de imprensa - RPM Comunicação
Realização - Cia dos Atores
Assistente de Produção - Leo Freire
Produtor Executivo - Yuri Chamusca
Direção de Produção - Felipe Argollo
Produção - Sapo Produções Artísticas e Culturais Ltda
Peças:
"Papo de Mineiro" - Texto de Suzana Nascimento e Raquel Alvarenga
"Tem um fantasma atrás de mim" - Texto de Suzana Nascimento
"Marcel e Marceau" - Texto de Diogo Liberano
"Tatu" - Texto de Monica Solon e Jaderson Fialho
"Primeiro eu" - Texto de João Rodrigo Ostrower
"Aquilo que fica" - Texto de Alexandre Rudáh
"BIZIU: Eu quase te amei de verdade" - Texto de José Caminha “BIZIU: eu quase te amei de verdade” é de José Caminha.
Textos - Oficina de dramaturgia
Elenco - Ana Abbott, João Rodrigo Ostrower, Jonas Gadelha, Mariana Nunes, Suzana Nascimento, Tracy Segal, Raquel Alvarenga, Eduardo Almeida, Átila Calache, Alex Pinheiro
Direção - Cesar Augusto e Susana Ribeiro
Codireção - Diogo Liberano
Dramaturgia - Bel Garcia
Cenário - Bia Junqueira
Figurino - Patricia Muniz
Iluminação - Paulo César Medeiros
Trilha sonora - Rodrigo Marçal
Programação visual - Radiográfico
Assessoria de imprensa - RPM Comunicação
Realização - Cia dos Atores
Assistente de Produção - Leo Freire
Produtor Executivo - Yuri Chamusca
Direção de Produção - Felipe Argollo
Produção - Sapo Produções Artísticas e Culturais Ltda
Peças:
"Papo de Mineiro" - Texto de Suzana Nascimento e Raquel Alvarenga
"Tem um fantasma atrás de mim" - Texto de Suzana Nascimento
"Marcel e Marceau" - Texto de Diogo Liberano
"Tatu" - Texto de Monica Solon e Jaderson Fialho
"Primeiro eu" - Texto de João Rodrigo Ostrower
"Aquilo que fica" - Texto de Alexandre Rudáh
"BIZIU: Eu quase te amei de verdade" - Texto de José Caminha “BIZIU: eu quase te amei de verdade” é de José Caminha.
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