sexta-feira, 19 de julho de 2013

Rain Man (SP)

Rafael Infante e Marcelo Serrado são os irmãos Babbitt
Foto: divulgação

Em versão teatral, personagens mais próximos de nós

A peça “Rain Man” é uma adaptação para teatro do filme homônimo de Barry Morrow, estrelado por Dustin Hoffman e por Tom Cruise, vencedor de quatro Oscar em 1988. O espetáculo tem texto de Dan Gordon, traduzido por Miguel Paiva e boa direção de José Wilker. Nos papéis principais, estão Marcelo Serrado e Rafael Infante em boas atuações. Além de um bom programa, a peça pode ser motivo de reflexão para as relações entre teatro e cinema. Sem dúvida, este é o seu melhor.

Christian Metz, ao analisar a linguagem cinematográfica, chama a atenção a diferença entre o acordo que o espectador faz com o cinema e com o teatro. Dialeticamente, segundo ele, justamente porque está diante de sombras, no cinema, o público aceita com mais facilidade as “verdades” da tela, porque as marcas de verossimilhança são mais bem fundamentadas. No teatro, o espectador está diante de um homem como ele, o que faz com que o acordo necessite ser constantemente refeito. Nesse sentido, o espectador da peça “Rain Man” não é o mesmo do filme de que já falou. As histórias são a mesma, mas o jeito como ela é contada assume tal relevância que a forma modifica de fato o conteúdo.

Porque vindo do cinema, e esse sendo um filme bastante premiado, o enredo é conhecido. Charlie Babbitt recebe com surpresa a notícia de que herdou apenas um carro da herança do pai, pois todo o resto da fortuna foi destinada a um fundo gerido por um médico de um hospital psiquiátrico. É então que Charlie descobre que, internado nesse hospital, está seu irmão, Raymond Babbitt, de quem quase não sabia da existência. Inicialmente motivado pela metade da quantia a que (acha que) tem direito, Charlie se aproxima de Rain Man, apelido de Raymond, mas é pego de surpresa quando se vê ligado a ele por laços mais fortes. A curva do herói, nesse drama realista, é feita por Charlie, que, na montagem brasileira, é interpretado por Rafael Infante.

Infante (Charlie) tem, de fato, a principal contribuição na montagem da peça. Conhecido por suas participações nos vídeos cômicos do coletivo “Porta dos Fundos”, seu ritmo de comédia na internet entra em choque com as exigências de uma estrutura mais profunda, mais cheia de nuances, mais sensível que o teatro lhe exige. Desafiado enquanto ator, ele vence felizmente a disputa e ainda traz para a produção os momentos de leveza que são essenciais para a respiração do drama e para a realização da catarse. 

Embora o segredo do mérito de “Rain Man” seja Infante, há que se destacar o trabalho de Serrado (Raymond). Ator famoso, colhendo ainda os louros do sucesso de sua participação na novela “Fina Estampa”, é bonito encontrá-lo em uma produção em que sua participação é formal, cuja relevância se vê apenas na construção de um tipo. Vale dizer, no entanto, que Rain Man é um tipo bastante difícil, o de um paciente com necessidades psicológicas especiais, ou seja, facilmente passível de cair na comédia rasteira e, por isso, preconceituosa. Felizmente, Serrado não permite que isso aconteça e o defende com a galhardia que se espera do intérprete (e da direção). Todos os demais personagens são simples e não exigem muito de seus intérpretes que, há que se dizer, os fazem bem. 

Na boa articulação das interpretações, descobre-se o mérito de José Wilker. assistido por Danilo Watanabe, na direção do elenco. A trilha sonora de Marcelo Alonso Neves, a iluminação de Maneco Quinderé e os figurinos de Beth Filipecki são positivos porque se apagam na medida em que reforçam o valor da história. Justamente porque não age assim, é péssimo o cenário de Marcos Flaksman: mal acabado, com motivos não justificados e com participações feias.

“Rain Man” é mais um belo projeto com patrocínio da Vivo EnCena, essa uma exemplar parceria entre o teatro brasileiro e uma empresa privada. Vale a pena ser vista sobretudo porque destaca o quão próximos de nós estão esses personagens, que não vivem, aliás, apenas no interior dos Estados Unidos, mas também na nossa rua e na nossa rede social.

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Ficha Técnica

Texto: Dan Gordon
Tradução: Miguel Paiva
Direção: José Wilker

Elenco: Marcelo Serrado, Fernanda Paes Leme, Rafael Infante, Roberto Lobo, Jaime Leibovitch e Sara Freitas.

Produção Geral: Sandro Chaim
Gerente de Produção: Rose Dalney
Produção Executiva e Adm.: Andrea Francez, Priscila Prade e Bila Bueno
Produção Executiva Rio de Janeiro: Denise Escudero
Cenografia: Marcos Flaksman
Figurinos: Beth Filipecki
Iluminação: Maneco Quinderé
Trilha Sonora: Marcelo Neves
Direção de Movimento: Marina Salomon
Fotografias: Priscila Prade
Diretor Assistente: Danilo Watanabe
Assessoria Jurídica: Francez e Alonso Advogados
Programação Visual: Vicka Soares
Vídeo de abertura: Eduardo Chamon
Assessoria de imprensa: Barata Comunicação
Realização: Super Amigos, XYZ Live e Chaim Produções
Produzido por acordo especial com MGM ON STAGE, DARCIE DENKERT e DEAN STOLBER
Patrocínio: Vivo e Porto Seguro

2 comentários:

  1. Assisti recentemente no Rio e taí um espetáculo raro de se ver pela qualidade dos atores, texto e montagem por completa. Destaque para a belíssima direção de Wilker. Saí do teatro querendo ver de novo.

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  2. Gostei do espetáculo e mais ainda da interpretação do Marcelo Serrado, achei que ganharia todos os prêmios de melhor ator naquele ano, mas isso não aconteceu... quem vai entender a cabeça dos jurados? rsrsrs

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