Marcius Melhem e Luciana Braga em cena |
Algo mais que uma comédia sobre relacionamentos
O que “Submarino” tem de melhor é a forma como a história avança. Ao invés de haver um ponto de conflito que irá fazer girar o desenvolver até a sua resolução no ápice, como é de costume, o texto de Miguel Falabella e de Maria Carmen Barbosa tem a interessante estrutura auto-criativa. Ou seja, há de se notar, além do fato dessa ser mais uma comédia sobre relacionamentos entre homem e mulher, o modo como a narrativa evolui: um problema surge, é resolvido rapidamente, outro surge, é resolvido também e assim por diante. Com a excelente intepretação de Marcius Melhem, há um destaque também para o cenário de Miguel Pinto Guimarães. A peça, a terceira montagem desse texto no Brasil, está em cartaz no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro.
Na sequência regular de aparecimento do problema-resolução do problema-aparecimento de um novo problema- resolução do novo problema, a comédia abandona os caminhos tradicionais de discussão de relacionamento ou de vaudeville e parte para um universo que é mais contemporâneo, mais profundo e menos tolo. Escrito em 1990, a história de César (Melhem) e de Rita (Luciana Braga) é metáfora para as relações que não se explicam logicamente, mas que existem e duram. Nesse sentido, com bastante habilidade, a dupla de autores conseguiu, e consegue nos últimos vinte e três anos, fazer o teatro refletir o mundo sob uma ótica um pouco mais consistente do que parece fazer e do que comumente se vê em comédias, o que é positivo.
Victor Garcia Peralta tira bons resultados de Melhem e de Braga, procurando explorar o que cada intérprete tem de melhor. Ele é um excelente comediante e sabe usar os tempos da comédia muito bem. Ela conserva em si um misto de ingenuidade e de força que expressa a contento o desejo de Rita de ir, mas também de ficar. O doce e constante César está inexplicavelmente atraído pela livre Rita de forma que um complementa o outro em suas diferenças. Próximas do real além da narrativa como convém, as interpretações são positivas porque sutis, baseadas em gestos discretos, tempos invisíveis e em entonações que ora guardam ora revelam novidades.
Os figurinos de Rita Murtinho fazem um excelente casamento com o cenário e com a iluminação em termos de sua paleta de cores. A escolha dos trajes é positiva também porque informa sobre as características dos personagens e facilita o ritmo da encenação. Maneco Quinderé e Miguel Pinto Guimarães, mais uma vez, como em “Novecentos”, evidenciam um excelente trabalho, aqui dado o destaque em função do privilégio que os dois concedem ao público de ver bem o que está acontecendo no palco. Acompanhadas de linhas que marcam os limites do(s) quarto(s) em perspectiva, a(s) cama(s) está(ão) virada(s) para a assistência, posta(s) em diagonal ascendente, caída(s) para o proscênio. Nisso há o convite para prestar a atenção na história, essa a grande estrela do teatro dramático.
"Submarino" é uma comédia e espera-se rir de um tipo de teatro como esse. Quando, além de divertimento, é também motivo para pensar, nesse caso, é lucro total. Embora feito para afundar, esse "submarino" permanece à luz.
FICHA TÉCNICA
Texto: Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa
Direção: Victor Garcia Peralta
Elenco: Luciana Braga e Marcius Melhem
Iluminação: Maneco Quinderé
Cenário: Miguel Pinto Guimarães
Figurino: Rita Murtinho
Trilha Sonora: Pablo Paleólogo
Projeto Gráfico: Maurício Grecco
Produção Executiva: Roberta Brisson
Direção de Produção: Fernando do Val e Cristiana Lara Resende
Produtores Associados: Cristiana Lara Resende e Marcius Melhem
Realização: Cris Lara Produções Artísticas Ltda
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany
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