segunda-feira, 29 de julho de 2013

Adágio (RJ)

As interpretações de Márcio Nascimento e Suzana Castelo
ficam em segundo plano em "Adágio"
Foto: Jackeline Nigri

Técnica pela técnica

Em “Adágio”, dois elementos chamam negativamente muito a atenção: o uso de um boneco como intérprete de um dos personagens centrais da história e a trilha sonora interpretada ao vivo em cena. Nenhum dos dois são teatrais (Teatro é quando um ator (A) interpreta um personagem ou figura (B) diante de um público (C)). Assim, durante todo o tempo da encenação, o público fica perdido a procura de um sentido que justifique narrativamente a opção pelo boneco ao invés de uma atriz para o papel da Mãe e se embevece pelas músicas tocadas, essas mais interessantes do que a história da qual fazem parte. Dirigido por Gustavo Bicalho e por Henrique Gonçalves, a peça veio a partir de um conto homônimo de Mauro Siqueira. A produção, em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro, é da Artesanal Companhia de Teatro

No passado, a Mãe surpreendeu o Filho (Márcio Nascimento) e a Amiga (Suzana Castelo) juntos em um dos quartos da casa. Começou uma discussão que resultou em um acidente. Mãe e Filho passaram, desde então, a ser prisioneiros de uma casa em ruínas que recebe, inadvertidamente, a constante visita dessa Amiga, agora adulta. Ela ainda ama o velho amigo, embora ele a culpe por suas desgraças. A sugestão de uma história que parta desse mote não se desenvolve. A história não anda e só cresce na medida em que o passado se deixa conhecer em detalhes: ou seja, se anda, é para trás. 

Márcio Nascimento é quem articula o boneco assinado por Alexandre Guimarães e por Bruno Dante, cujos detalhes são bastante bons. O gesto é visualmente bonito, mas não se explica no contexto da narrativa. Não é, afinal, a Mãe quem manipula o filho (no caso do boneco, em cena, ser metáfora para jogo de comportamento em que um domina o outro), mas o Filho quem sucumbe a própria culpa. Cogita-se, também, a possibilidade de tudo ser uma fantasia de uma suposta loucura do Filho, mas a possibilidade também se desfaz. Nesse sentido, a cada cena, o espectador investiga a obra em busca de explicações, mas não encontra. Nascimento e Castelo, em interpretações realistas, não conseguem vencer o difícil desafio de chamar mais a atenção que um boneco em cenas que estão ao som de um violoncelo. A direção de Bicalho e de Gonçalves fracassa porque a dupla não articula os elementos de forma hierárquica, como convém ao teatro dramático proposto. 

A estética visual e sonora de “Adágio” é positiva. Os figurinos de Fernanda Sabino e de Henrique Gonçalves, bem como o cenário de Carlos Alberto Nunes e o desenho de luz de Jorginho de Carvalho, tendem ao monotom, o que é positivo porque auxilia a concentrar. A direção musical de Daniel Belquer (o violoncelo é lindamente interpretado por Márcio Malard) é uma obra a parte, um concerto que não interage com a peça, mas se impõe a ela. 

A pesquisa de linguagens a partir do uso de elementos é bem vinda no teatro experimental. Talvez esse seja o caso de “Adágio”. O público precisa, porém, ser avisado. 

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Ficha técnica:
Texto: Gustavo Bicalho e Mauro Siqueira
Elenco: Márcio Nascimento e Suzana Castelo
Violoncelo: Márcio Malard
Direção: Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves
Direção Musical: Daniel Belquer
Seleção Musical: Daniel Belquer e Márcio Malard
Fala Cênica: Elena Constantinovna Gaissionok
Preparação corporal: Paulo Mazzoni
Figurinos: Fernanda Sabino e Henrique Gonçalves
Boneco: Alexandre Guimarães
Assistentes: Gabi Windmüller e Alberta Barros
Escultura da cabeça: Bruno Dante
Cenografia: Carlos Alberto Nunes
Desenho de luz: Jorginho de Carvalho
Assistente: Poliana Pinheiro
Operador: Rodrigo Belay
Assessoria de imprensa: Mônica Riani
Projeto Gráfico: Maurício Grecco
Produção: Marta Paiva
Direção de Produção: Henrique Gonçalves
Projeto e Idealização: Márcio Nascimento
Realização: Artesanal Cia. de Teatro

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