sábado, 27 de julho de 2013

Brainstorming Anônimos (RJ)

Pedro Aquino, à direita, mostra excelente trabalho
Foto: divulgação

A honestidade de jovens atores mostrando o seu trabalho

Em “Brainstorming Anônimos”, um grupo de atores está ensaiando uma peça escrita por uma das personagens-atrizes. Há um roteiro a ser seguido, mas ele não é fixo, dando margem para momentos em que se vê o ponto de vista dos jovens por volta de 20 anos dissertando acerca da própria vida (relação com os pais, com o dinheiro e com a sexualidade) e da carreira profissional artística (o teatro, a TV, a fama, a disciplina). Dirigida por Bia Oliveira,  a peça tem dois grandes valores: o carisma do ator Pedro Aquino e a energia do conjunto do elenco que contagia a plateia. A peça está em cartaz no Teatro Clara Nunes, no Shopping  da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro.

“Brainstorming Anônimos” não é um grande espetáculo em nenhum dos seus termos, mas é meritoso por sua honestidade em não prometer nada que realmente não oferece. Escrita pela atriz Carla Vilardi (que também interpreta o papel da atriz-dramaturga), a peça deixa de ser sobre adolescentes e seus pais e passa a ser sobre jovens e independência financeira. Depois, a relação entre meninos e meninas, a homo e a heterossexualidade, como é ser ator de teatro hoje em dia, o que cada um imagina sobre o que é ser famoso, etc, etc, etc. Nessa galeria de situações, os atores (Vilardi, Aquino, Lu Rocha, Mari Rizzo, Victor Paes Leme, Luca Pougy e Ricardo Vianna) se sucedem na interpretação dos personagens, construindo situações com as quais se identificam os jovens e faz lembrar aqueles que já passaram por isso. Mérito da direção de Oliveira, alguns momentos são bastante cômicos, embora eles assim o sejam em função da construção de tipos farsecos (um gênero de interpretação a ser respeitado), que fazem rir justamente pela sua simplicidade. (Não há grandes desafios de interpretação para o elenco, o que é adequado, considerando a pouca experiência de todos eles.) 

Pedro Aquino tem excelente carisma e é quem melhor aproveita os momentos que tem no palco. Suas falas saem com verdade, seus movimentos são alegres e vibrantes, suas construções são íntegras na medida em que se percebe boa articulação entre todos os elementos. Luca Pougy, em várias cenas, age no mesmo sentido. Com muita ênfase na construção de tipos, Victor Paes Leme é quem tem o resultado menos bom: o uso da voz é péssimo, o corpo não sai do óbvio, as intenções são racionais e, por isso, notoriamente não expontâneas. 

Cenário e figurino deixam bastante a desejar. Não há beleza visual em “Brainstorming Anônimos” infelizmente. Há vários objetos não usados, ou seja apenas ilustrativos, a opção por roupas pretas é nada criativa, o quadro, como um todo, acaba deixando para as interpretações muita responsabilidade. 

O final é aplaudido de pé, mostrando que o espetáculo agrada o público. O motivo é simples: honestidade. Em cena, vemos personagens-atores em início de carreira sendo interpretados, de fato, por atores em início de carreira. Vistas e apontadas as falhas, há que lhes aplaudir e desejar o futuro brilhante que eles anseiam para si próprios (e merecem). 

*

Ficha técnica:
Texto: Carla Vilardi
Direção: Bia Oliveira
Elenco: Carla Vilardi, Luca Pougy, Lu Rocha, Mari Pizzo, Pedro Aquino, Ricardo Vianna, Victor Paes Leme Direção de Movimento: Igor Pontes
Assistente de direção: Linda Gomes
Direção Musical e Trilha: Lucas Tayt-Son
Iluminação: Fred Eça
Figurino e Cenário: Concepção Coletiva
Produção: Deborah Brasil
Fotografia: Ellen Soares
Design Gráfico: Junior Lima
Trilha Original: Bárbara Dias

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