segunda-feira, 4 de março de 2013

Porcos com asas (RJ)

Andressa Lameu, Rafael Canedo e Patrícia Ramalho
são apresentados ao público carioca
Foto: divulgação

Peça revela talentos

Apresentado no Teatro Sesc Arena Copacabana, “Porcos com Asas” é um bom espetáculo, mas infelizmente perde a oportunidade de ser, além de bom, também importante. O problema está na dramaturgia, tanto literária quanto cênica, pois a peça tem, em sua narrativa, um problema de hierarquização, deixando claro que tanto o autor (Mario Sergio Medeiros) como o diretor (Claudio Handrey) não quiseram optar por um tema e aprofundá-lo. Ao contrário, a dupla de realizadores preferiu, dessa forma, apresentar uma galeria de situações envolvendo a adolescência, tratando todas elas de forma superficial. Escrita há trinta anos, "Porcos com Asas" já  revelou nomes importantes para o teatro brasileiro em outras montagens, como Murilo Rosa, Clarice Niskier e Luis Salém. A produção atual apresenta Andressa Lameu, Rafael Canedo e Patrícia Ramalho como responsáveis pelos melhores momentos da noite e é, por isso, bastante bem vinda! 

A peça começa e termina, fazendo referência ao mesmo (e interessante) assunto: a dificuldade de uma personagem adolescente de chegar ao orgasmo. Antônia (Lameu) tem dificuldades de se entregar. As conversas com a própria mãe (Ramalho) são difíceis, o contato mais íntimo com a melhor amiga (Julianne Trevisol) não se estabelece e o relacionamento com o namorado Rocco (Canedo) é conturbado. O conflito da personagem protagonista aparece, é descrito, é revelado com alto grau de importância, mas inexplicavelmente não se desenvolve, não se resolve, não se fecha. Enquanto isso, outros conflitos surgem, interrompendo aquele que poderia ser o elo de ligação entre toda a história, todos eles bem menores, e quase que igualmente pouco resolvidos. 

Começa o último ano escolar. Rocco, que ainda é virgem, se apaixona por Antônia, ela já com certa experiência sexual. Em meio a efervescência cultural de uma época não específica (o texto foi escrito em 1982, mas a encenação não deixa clara a data da narrativa), surge um movimento estudantil em que líderes se apresentam: é o caso do jovem Gianne (Manoel Madeira) e do professor Marcelo (Carlos Veranai). A iniciação sexual e política nascem, assim, ao mesmo tempo. Rocco se envolve sentimental e sexualmente com Marcelo, e o tema da homo ou da possível bissexualidade aparece também. A rejeição, os estereótipos, o poder são outros assuntos intrínsecos, tratados em meio ao desenvolvimento do namoro entre Rocco e Antônia, esse já, sozinho, terreno fértil para a fidelidade, a diferença entre homens e mulheres, a liberdade sexual, etc, etc, etc. No total, são quase duas horas em que, apesar de bem dirigidas, com bom ritmo e grandes trabalhos de interpretação, as cenas defendem sem força a narrativa de um modo geral, o que é negativo.

Andressa Lameu e Rafael Canedo exibem excelentes trabalhos de interpretação. Suas cenas são fortes, intensas, bem marcadas, com expressões e movimentos precisos, o que é excelente sobretudo para uma estreia. Patrícia Ramalho, em um personagem cômico, mostra bom jogo com o público, dominando o tempo da comédia com surpreendente habilidade. Em um momento mais dramático, Julianne Trevisol aproveita o pouco espaço e exibe segurança e boa dosagem emocional. Sem grandes destaques, os demais integrantes do elenco contribuem de forma positiva, dentro da concepção do diretor.

Os figurinos de Felipe Ferraz e a trilha sonora do diretor se esforçam sem resultado para definir uma época. Têm, como lado positivo, o mérito de dar colorido e movimento para as cenas. O cenário de Zanini de Zanine – um palco branco com cadeiras prateadas – tem o mérito de oferecer espaço livre para a narração, essa já cheia de entraves advindos da dramaturgia, como já se disse. A iluminação de Leysa Vidal dá excelente ritmo para a narrativa, sendo um dos elementos mais bem utilizados pela direção de Handrey assistido por Rogério Fanju. 

Escrito pelos italianos Marco Lombardo Radice e por Lídia Ravera (nenhum dos dois mencionados no programa ou na ficha técnica) e publicado pela primeira vez em 1976, o livro “Porcos com Asas” trata do romance entre os adolescentes Rocco e Antônia em meio aos ideais comunistas da Europa de 1968. Com bastante sucesso no Brasil nos anos 80,  o livro hoje ainda precisa ser redescoberto. 

*

FICHA TÉCNICA:

Texto: Mário Sérgio Medeiros
Direção: Cláudio Handrey

Elenco:
Andressa Lameu - Antônia
Rafael Canedo - Rocco
Patrícia Ramalho - Mãe e Mulher do ônibus
Iuri Kruschewsky - Roberto
Julianne Trevisol - Lisa e Ana
Carlos Veranai - Professor Marcelo e Ele
Manoel Madeira - Gianne
Gabriella Cavalcanti - Laura

Assistente de direção: Rogério Fanju
Cenário: Zanini de Zanine
Figurino: Felipe Ferraz
Iluminação: Leysa Vidal
Trilha Sonora: Cláudio Handrey
Fotografia: Igor Rodriguez
Produção Executiva: Carlos Veranai e Thereza Moreira
Direção de Produção: Igor Rodriguez
Realização: Gypsy Produções

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