Domingos Oliveira se despede dos palcos em "Clímax" |
O Bom Robim Domingos de Oliveira!
“Clímax” é um presente imenso ao público teatral do Rio de Janeiro de todas as idades, sobretudo aqueles que são fãs do trabalho do grande Domingos de Oliveira. Do que se vê no programa da peça ao que se encontra em cena, tanto em termos meramente visuais e sonoros, quanto no que diz respeito aos diálogos, à trama e à movimentação, tudo é resultado de uma concepção que parte da miscelânea, da simples e despojada justaposição, do enrosco, da paçoca, do burlesco. Denominada como uma peça cômica, filosófica e policial ao mesmo tempo, o jogo é tão despretensioso quanto divertido, simples quanto poderoso, banal quanto valoroso. Em cartaz no Teatro Glaucio Gil, a peça diz-se ser a última do diretor, escritor e ator Domingos de Oliveira, que se despede dos palcos aos 76 anos, quase cinquenta anos de profissão.
É difícil dizer realmente quando a peça inicia e os bons valores estéticos da montagem começam aí. Nessa dramaturgia, teatro e brincadeira se confundem. Sentando em uma cadeira de rodas, Oliveira apresenta a si próprio e a seus colegas de cena e, numa digressão que lhe é característica, prende a atenção do público de forma que, quando menos se espera, o assunto já são os personagens e não mais os atores que os interpretam, ou o lugar onde a peça se passa, ou como a produção foi levantada. Em cena, também sentado em uma cadeira de rodas, com 77 anos, está um professor de literatura que gosta de romances policiais. Um grupo de amigos, composto por um delegado de polícia (José Roberto Oliveira), um ex-aluno (Matheus Souza), uma ex-esposa (Claudia Ohana) e por uma secretária (Érika Mader), se reúne regularmente para conversar sobre o que andam lendo dentro do gênero, assistir a filmes e para beber. No dia em questão, em que se comemora o aniversário do professor anfitrião, a cidade do Rio de Janeiro está em polvorosa, pois mais um assassinato terrível aconteceu no centro da Lagoa Rodrigo de Freitas. Há um perigoso serial killer solto na cidade e, muito provavelmente, ele é o responsável por esse crime que incansavelmente tem sido noticiado ao longo do dia. Chove lá fora. É noite quando os membros do grupo chegam vestidos socialmente para a efeméride. Entre conversas sobre a vida e exposição dos dramas pessoais de cada um, cogita-se a possibilidade de pode estar entre eles o cruel malfeitor.
Nesse clima exagerado entre melodrama e cinema noir, entre trama policial e comédia de costumes, “Clímax” diverte, sobretudo, porque passa a sensação de que é divertido fazê-lo. As interpretações são positivamente péssimas, as construções recheadas de canastríces, lágrimas e frases sem entonação, o que, no todo, é perfeitamente engraçado. Enquanto estrutura, todos os elementos, incluindo o conjunto das interpretações, formam juntos uma sólida estrutura que consegue meritosamente transmitir a sensação de superficialidade. Mas é apenas uma sensação, já que trata-se de um gênero que está sendo atualizado. Nesse sentido, a direção, assistida por Tracy Segal e por Sol Miranda, tem um trabalho pontual em garantir a coerência do realismo para o bom ritmo da comédia que se dá a ver.
O cenário de Renata Paschoal e de Luiz Prado e os figurinos de Paschoal e de Priscilla Rozenbaum descrevem o lugar e o momento, atendendo adequadamente às necessidades da narrativa. A iluminação de Paulo César de Medeiros, cheia de focos, propõe níveis para o desenrolar da história, alternando excelentemente os momentos: apresentação, digressão filosófica e melodrama policial.
Se fosse um filme, “Clímax” seria o melhor do trash no cinema B. Sendo teatro, é uma produção que sabe do seu próprio mérito a ponto de brincar com o crédito que a ela é dado. E a brincadeira é divertidíssima! Na despedida, Domingos de Oliveira brinda o público com o trecho final de "Sonho de uma noite de verão". Aqui vai ele em uma de suas traduções:
"Se vos causamos enfado por sermos sombras, azado plano sugiro: é pensar que estivestes a sonhar; foi tudo mera visão no correr desta sessão. Senhoras e cavalheiros, não vos mostreis zombeteiros; se me quiserdes perdoar, melhor coisa hei de vos dar. Puck eu sou, honesto e bravo; se eu puder fugir do agravo da língua má da serpente, vereis que Puck não mente. Liberto, assim, dos apodos, eu digo boa-noite a todos. Se a mão me derdes, agora, vai Robim, alegre, embora."
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FICHA TÉCNICA
Texto e direção: Domingos Oliveira
Elenco: Claudia Ohana, Domingos Oliveira, Érika Mader, Matheus Souza e José Roberto Oliveira
Voz Buarque: Roberto D’Ávila
Produtor Executivo: Luiz Prado
Figurinos: Renata Paschoal e Priscilla Rozembaum
Ambientação: Domingos Oliveira, Renata Paschoal e Luiz Prado
Iluminação: Paulo César Medeiros
Fotos: Guga Melgar
Assistente de Produção: Janaína Santos
Assistentes de Direção: Tracy Segal e Sol Miranda
Divulgação e Produtora Ocupação: Leila Meirelles
Produção: Forte Filmes
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