quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Volume morto (RJ)

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Foto: divulgação


Thaís Chilinque e Maurício Lima

Temas relevantes pouco aprofundados


O melhor de “Volume morto” é o uso do som como elemento da construção do espetáculo. Dirigida por Eloisa Brantes, um projeto do coletivo Líquida Ação, a peça tem como ponto positivo também a intenção de tratar sobre questões pertinentes à contemporaneidade. Preconceitos de gênero, de raça e de orientação sexual, assim como política e ecologia são temas que participam da abordagem, todos muito pouco aprofundados infelizmente. Os performers Maurício Lima e Thaís Chilinque propõem um diálogo entre a montagem, seus universos particulares enquanto artistas-criadores e o entorno do espetáculo. Mas esse, no entanto, pouco colabora com os méritos da obra. Vale a pena abrir-se para perceber a arte sonora assinada aqui por Ana Paula Emerich. Fica em cartaz até o dia 28 de outubro, próximo domingo, na Sala Multiuso do Espaço SESC Copacabana.

Méritos no desenho de som, problemas da dramaturgia
Ao longo da encenação, diferentes sons surgem a partir de vasta variedade de origens. A movimentação e o gestual dos atores, a interação deles com objetos como uma lona plástica, uma piscina e como uma corrente de ferro, por exemplo, dividem espaço com a sonoplastia e melodias reproduzidas artificialmente. Tudo isso constrói um texto sonoro que é muito interessante e que se destaca em “Volume morto” positivamente.

Os méritos da interpretação (palavra difícil quando se trata mais de uma performance do que de uma obra de ficção) se veem no modo claro como Maurício Lima e Thaís Chilinque dizem bem o texto, estabelecem bom diálogo entre a encenação e o público e sobretudo como fazem de suas expressões corporais, gestuais e vocais pontos que elevam as qualidades semânticas do espetáculo. No entanto, todos os elementos, incluindo esses, sofrem com a debilidade da dramaturgia.

A peça se constitui a partir de um empilhamento de temas diversos que, sem aprofundamento, parece gratuito. A abordagem parece se apoiar nos valores da reflexão sobre esses assuntos, e apenas isso, o que é muito pouco. Em outras palavras, não basta pautar discussões relevantes, mas é preciso contribuir com elas, valorizando-as efetivamente. Questões como preconceito de gênero, de raça e de orientação sexual, e sustentabilidade, assim como todos os outros, ficam empobrecidas quando aproveitados de maneira selvagem.

Ritmo monótono
Justapostos, os quadros têm articulação pouco aparente na direção de Eloísa Brantes. A valorização, provavelmente expressa pelo título, do entrecho sobre o desastre ecológico de Mariana (MG) apresenta uma sutil curva narrativa. O feito é positivo diante do excesso de linearidade do ritmo porque alivia a enorme monotonia. A iluminação de Lara Cunha e o figurino de Maurício Magagnin qualificam o espetáculo com algum mérito, mas sem destaque.

“Volume morto” pode passar batido na grade de programação carioca.

*

Ficha técnica:

Direção: Eloisa Brantes
Performers: Mauricio Lima e Thaís Chilinque
Arte sonora: Ana Paula Emerich
Iluminação: Lara Cunha
Figurino: Mauricio Magagnin
Colaboração dramatúrgica: Fabiano de Freitas
Designer gráfico: Evee Ávila
Direção de produção: Cau Fonseca | MÍTICA! [arte, cultura e comunicação]
Produção: Julia Ariani
Fotografia: Cícero Rodrigues
Realização: Coletivo Líquida Ação
Operador de Luz: Luciano Pozino

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