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Marcos Veras |
O ótimo “Acorda pra cuspir” é o novo espetáculo com texto do norte-americano Eric Bogosian. Ele é o mesmo dramaturgo de “Sexo, drogas e rock ‘n’ roll” e de “Talk radio”, que recentemente fizeram sucesso na programação teatral carioca. Nesse monólogo, Marcos Veras apresenta o personagem José Silva através de quem o autor propõe uma reflexão sobre essa síndrome de celebridade pela qual o mundo passa. Dentro da visão ácida – e até pessimista de Bogosian –, esse é um espetáculo mais leve. A direção de Daniel Herz divide com o ator e o texto os maiores méritos dessa produção que ficou em cartaz na Sala Fernanda Montenegro do Teatro Leblon até esse domingo, 2 de outubro.
Comédia ácida de Eric Bogosian
“Wake up and smell the coffee” foi interpretado pelo próprio Eric Bogosian em montagem dirigida por sua esposa, a célebre diretora Jo Bonney, em 2000. A peça, no estilo stand-up comedy, antecipava o mundo das redes sociais que ainda estava por vir na ocasião: uma massa de gente caçadora de “likes”, acreditando ser o sucesso capaz de diferenciá-la entre os iguais. No texto, a crença de que o dinheiro resolve todos os problemas é supervalorizada com objetivos críticos em relação à desvalorização do homem, da vida, da harmonia interior.
O texto começa com uma reflexão sobre quem somos nós em relação a Deus. Jesus surge na dramaturgia para exemplificar a dúvida acerca do tamanho da nossa importância para Ele, tendo o próprio permitido que seu filho único sofresse na cruz. Disso vem a tese de que cabe a nós lutar pela própria valorização. O personagem José Silva, que protagoniza a peça, é alguém que sonha em obter fama através da encenação. A cena de um teste de elenco (entrevista de emprego) expõe os dois lados da questão: de um, o opressor, que olha de cima com ar superior; de outro, o oprimido, que inveja o primeiro, querendo roubar-lhe o lugar, mas para fazer o mesmo (ou pior).
Seguem aí os delírios de José Silva com relação a um futuro de sucesso. As festas, o poder da conquista, a permissão para agredir os outros, mostrando sua superioridade. Com franca fluência na meritosa tradução de Maurício Guilherme, o texto evolui de uma imagem a outra, percorrendo situações diversas encantadoras das quais se ri enquanto se exerce nobre reflexão. Há, nos trechos finais, uma perda de ritmo devido à distância do ápice em relação ao fim da peça. Apesar disso, o texto é ótimo!
Marcos Veras em excelente atuação
A direção de Daniel Herz oferece ao espectador brasileiro mais do que viabilizou a montagem original. Lá havia apenas o dramaturgo dizendo o texto sob um refletor. Aqui cenário e trilha sonora colaboram com a complexidade da situação dramática positivamente. Vários bonecos de Fernando Mello da Costa multiplicam a figura de José Silva, propondo novos interlocutores e também referências às suas narrativas. O convívio com essas variedades melhora o ritmo da encenação em abordagens surpreendentes. O jogo do protagonista com eles fica mais visual de maneira que a comédia tem mais convites a aparecer e mais valorosos.
A música original de André Abujamra, participando da narrativa com vistas a oferecer à obra comicidade inteligente e interessante, age do mesmo modo. A luz de Aurélio de Simoni e o figurino de Antônio Guedes, com menos possibilidades, contribuem com pontual colaboração. No todo, vê-se encenação potente, com excelente uso das possibilidades.
O melhor de tudo é a atuação de Marcos Veras. Com uma dicção absolutamente perfeita, em excelentes usos da voz e do corpo, o ator interpreta vários personagens conversando entre si. Seu ritmo é perfeito. Em suas mãos, a plateia acompanha suas propostas, embarcando nos contornos da narrativa ao longo dos noventa minutos da sessão. “Acorda pra cuspir” é uma comédia que, embora flerte com o riso mais fácil em alguns momentos, faz até desses a crítica que apresenta. E isso é viabilizado por Veras com coragem e galhardia.
Ainda que um tanto quanto repetitivo em alguns momentos, “Acorda pra cuspir” é uma ótima comédia que vale a pena ser vista! Espera-se que ganhe temporadas mais longas.
Ficha técnica:
Texto: Eric Bogosian
Tradução: Mauricio Guilherme
Ator: Marcos Veras
Direção: Daniel Herz
Música original: André Abujamra
Cenário: Fernando Mello da Costa
Figurino: Antônio Guedes
Iluminação: Aurélio de Simoni
Direção de Movimento: Duda Maia
Produção: Rodrigo Velloni
Realização: Velloni Produções Artísticas
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