quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Love Story - O musical (RJ)

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Foto: divulgação


Fábio Ventura e Kacau Gomes

Kacau Gomes brilha mais uma vez!

“Love Story – O musical”, novo bom espetáculo dirigido por Tadeu Aguiar, está em cartaz no Teatro Fashion Mall até o dia 23 de outubro próximo. A peça é a adaptação para o palco do clássico filme de 1970 que narra as desventuras do casal Oliver e Jenny para ficar junto. Fábio Ventura e Kacau Gomes, com enorme destaque para essa última, brilham nos papeis protagonistas em produção que tem elogiáveis cenários de Edward Monteiro e iluminação de Aurélio de Simoni. O ponto alto é a direção musical de Liliane Secco para as canções assinadas pelos ingleses Stephen Clark e Howard Goodall. A ver!

Clássico para corações sensíveis
Na história, Oliver Barret IV (Fábio Ventura) e alguns amigos celebram, no enterro dela, a memória de sua esposa, a jovem Jennifer Cavilleri (Kacau Gomes), que morreu de leucemia. Dentre os fatos mais marcantes, está a história de amor – que dá título à obra – entre os dois: como se conheceram, como foi o início da vida juntos e de como o aparecimento da doença dela mudou a vida do casal.

Oliver é filho de um milionário, herdeiro de uma família conservadora que não aprova o namoro dele com Jenny, filha de um pequeno fabricante de macarrão. As diferenças socioeconômicas - que também se dão no nível cultural, pois ele é um esportista e ela uma pianista – acabam por atrair ainda mais um ao outro. Como nos melhores romances, ficar juntos não é fácil.

O altíssimo nível de açúcar da dramaturgia de “Love Story – O musical” não é um defeito, mas uma característica sobre a qual não lhe devem cair preconceitos. Dentro do que se propõe, ela é muito valorosa. Há a estruturação das partes opostas, há as amarras entre elas que conduzem ao fim e há um encerramento capaz de ressignificar tudo. Ao optar por começar pela morte da protagonista, os dramaturgos alertam as audiências do filme, do livro e da versão teatral aqui em questão para o fato de que Jenny é alguém que já não está mais entre nós. E, por isso mesmo, precisa ser celebrada. Em outras palavras, independente da questão de gosto, vale ressaltar o mérito da narrativa que sabe que está, no homem, a habilidade de valorizar aquilo que já se perdeu.

“Love Story”, no cinema, foi um dos maiores campeões mundiais de bilheteria de 1970 quando estreou em produção fílmica dirigida por Arthur Hiller (que antes havia dirigido o musical desconhecido “Não podes comprar o meu amor”, com Julie Andrews). Com Ali MacGraw e Ryan O’Neill nos papeis protagonistas, a produção ganhou seis indicações ao Oscar (filme, direção, roteiro e interpretações) e mais a estatueta de Melhor Trilha Sonora. O roteirista Erich Segal fez também um romance com a narrativa do filme e uma continuação chamada “Oliver’s Story”, que estreou no cinema em 1978 (e que foi um fracasso).

No teatro britânico, o musical teve adaptação de Stephen Clark e canções de Howard Goodall, esse último um dos mais respeitados musicistas britânicos. A produção, que estreou em WestEnd no fim de 2010, recebeu três indicações ao Laurence Olivier de 2011: Melhor Ator (Michael Xavier), Melhor Atriz (Emma Williams) e Melhor Musical, perdendo esse último para “Legalmente loira”. Ainda não houve uma produção da peça na Broadway.

Ao longo dos noventa minutos de sessão, há que se prestar a atenção à beleza das canções, cujas partituras chegam ao Brasil intactas pela direção musical de Liliane Secco (com piano de André Amaral) e versão brasileira de Artur Xexéu. Aquele clássico com cheiro de Liberace e de Richard Clayderman felizmente ficou ileso de crítica e está lá, desde a estreia no Teatro Imperador, em junho último, agradando os corações mais sensíveis.

Kakau Gomes brilha!
A montagem dirigida por Tadeu Aguiar, com assistência de Flávia Rinaldi, apresenta um belíssimo trabalho de interpretação vocal no conjunto, atendendo aos desafios das partituras. Flávia Santana (mãe de Oliver) e Ester Freitas (mãe de Jenny) têm atuações fortes e marcantes como também Fábio Ventura (Oliver), Sérgio Menezes (pai de Jenny) e Ronnie Marruda (pai de Oliver). No entanto, não há, no elenco de onze atores, quem se destaque no canto e nas intepretações como Kacau Gomes (Jenny), a maior estrela da produção. Com graça, muita técnica e enorme talento, a intérprete cativa, sensibiliza e emociona a plateia em quadros cheios de beleza. Rafaela Fernandes, Suzana Santana, Raí Valadão, Emílio Farias e Caio Giovani completam o grupo ao lado de sete músicos.

A produção brasileira tem ainda destaque positivo para o cenário de Edward Monteiro e principalmente para a luz de Aurélio de Simoni pela riqueza de detalhes que elevam as qualidades estéticas da obra. Os figurinos de Ney Madeira e de Dani Vidal preservam valorosamente a estética do melodrama, que é cara à narrativa, livrando os personagens de qualquer contradição. As coreografias de Alan Resende perdem oportunidades de contribuir sobretudo pelo incoerente acúmulo de movimentos soltos e sem definição clara.

Quando estreou “Love Story – O musical”, a decisão da Estamos Aqui Produções Artísticas de realizar o projeto apenas com atores afrodescendentes atraiu a atenção da mídia. A justificativa, segundo declarações oficiais, foi a imensa porcentagem de excelentes artistas negros inscritos para os testes. Ao fim dessa análise, vale dizer que o tema, no entanto, desapareceu da mente tão logo a peça iniciou, quando se viu apenas um grupo de intérpretes defendendo em cena seus personagens em uma narrativa como qualquer outra. Saúde-se, pois, esse jeito de reagir contra o preconceito racial, mostrando que não há qualquer barreira que possa (ou deva) impedir alguém de trabalhar.

*

Ficha técnica:
História original: Erich Segal
Texto e letras: Stephen Clark
Música: Howard Goodall
Versão brasileira: Artur Xexéo
Direção: Tadeu Aguiar
Direção musical: Liliane Secco
Cenografia: Edward Monteiro
Figurinos: Ney Madeira e Dani Vidal nos figurinos
Coreografia: Alan Resende
Iluminação: Aurélio di Simoni
Desenho de som: : Gabriel D’Ângelo
Diretora assistente: Flavia Rinaldi
Fotos: Gustavo Bakr
Coordenação de produção: Norma Thiré
Produção executiva: Eduardo Bakr
Produção: Estamos Aqui Produções Artísticas

Músicos
André Amaral [piano]
Anderson Pequeno [violino]
Fabio Peixoto [violino]
André Dantas [violão
Matheus Pereira [violoncelo]
Leandro Vasques [contrabaixo]
Stoyan Gomide [viola]

Elenco:
Kacau Gomes – Jennifer Cavilleri
Fabio Ventura – Oliver Barrett IV
Sergio Menezes – Phil Cavilleri
Flavia Santana – Allison Barrett
Ronnie Marruda – Oliver Barrett III
Ester Freitas – mãe falecida de Jennifer
Rafaela Fernandes – secretária de Oliver Barrett III
Suzana Santana – Garçonete
Caio Giovani – Médico
Raí Valadão – Juiz
Emílio Farias – Médico

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