segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Antes que tudo acabe (RJ)

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Foto: divulgação


Carol Machado

Cenário de Kika Motta se destaca no novo bom espetáculo de Renato Rocha

“Antes que tudo acabe” é o novo bom espetáculo dirigido por Renato Rocha. A montagem surgiu a partir do convite da National Theather of Scotland e foi produzida para o festival Home Away de Glasgow. Esse evento vai acontecer no início de outubro próximo com peças de vários lugares do mundo, incluindo essa. Imagens interessantes pululam ao longo da obra, essas construídas pelo trabalho dos atores Daniel Brasil, Ingrid Castro, Pierre Santos, Felipe Habib, Luiza Moraes, José Mário Farias, Márcio Vito e Carol Machado, esses dois últimos em muito melhores atuações que seus parceiros. O cenário de Kika Motta é um dos grandes destaques da produção, cuja temporada no Teatro de Arena do Espaço SESC Copacabana encerrou no último domingo, dia 25 de setembro.

Méritos e problemas
O mais interessante no espetáculo é ver como belas imagens são construídas através da operação dos atores com diversos objetos espalhados pelo espaço cênico, das músicas que ele tocam e cantam ao vivo e dos textos que eles interpretam. Trata-se, no todo, da reunião de quadros que enchem os olhos do espectador e que têm algum mérito no despertar da atenção para temas pertinentes à contemporaneidade. Relações sociais, como preconceito racial, de gênero, de orientação sexual, de classe social e de religião e também questões relativas ao isolamento, relacionamentos em geral e à identidade participam da proposta, fazendo da produção, além de entretenimento, algo útil no que se refere à transformação do mundo.

O problema, na ordem da dramaturgia, é que nada se aprofunda. Em outras palavras, “Antes que tudo acabe” fala sobre tudo, mas não trata exatamente sobre coisa alguma, espalhando questões, mas sem enfrentar qualquer uma delas. De modo adolescente, questiona a situação política, mas sem analisá-la. A mera justaposição de vários temas da moda tira deles a importância devida, superficializando-as no esforço de parecer um espetáculo de denúncia, mas sem mostrar saber exatamente o que está denunciando.

A interpretações, com duas exceções, são muito ruins. Ou elas se pautam em gritos inúteis, ou em falas diretas com a plateia que, por sua vez, reduzem os desafios estéticos da obra e, portanto, seus méritos como tal. Márcio Vito e Carol Machado são os únicos com atuações que realmente valem a pena ver. Ao longo de todo o espetáculo, suas participações são vivas no corpo e na voz, suas expressões claras com envolvimento visível. Nos demais, com méritos na questão musical e nos movimentos pelo espaço, sobram ausências.

Excelente contribuição do cenário de Kika Motta
Márcio Vitto
São bastante positivos os modos como o desenho de luz de Renato Machado, os figurinos de Tarsila Takahashi e a direção musical de Felipe Habib colaboram para os méritos do espetáculo positivamente. No entanto, o cenário de Kika Motta é quase o espetáculo em si. Zilhões de objetos estão distribuídos pelo espaço cênico à disposição dos atores. A manipulação deles nordeia toda a estrutura da obra. Para além dessa importância na viabilização da linguagem, porém, está o valor da escolha de Motta pelas cores, formas, pelas texturas de cada coisa. E sobretudo está o jeito como tudo traz à cena o universo exterior. Livros, fotografias, cataventos, sapatos, cadeiras, plantas, folhas… Tudo parece ter sido escolhido com cuidado em uma observação sobre a parte e sobre o todo na composição de um belo panorama. Eis o grande destaque dessa montagem!

“Antes que tudo acabe”, construído coletivamente a partir do conjunto de seus realizadores, há de fazer bonita participação do Brasil nesse importante evento escocês. Parabéns e obrigado.

*

Ficha técnica
Direção: Renato Rocha
Elenco: Carol Machado, Daniel Brasil, Felipe Habib, Ingrid Castro, José Mário Farias, Luiza Moraes, Márcio Vito, Pierre Santos e Thaina Farias
Texto: Márcio Vito
Iluminação: Renato Machado
Direção musical: Felipe Habib
Figurino: Tarsila Takahashi
Cenografia: Kika Motta
Direção de movimento: Juliana Medella
Assistência de direção: Daniel Kristensen
Fotos de divulgação: Renato Mangolin
Assessoria de imprensa: Ney Motta | contemporânea comunicação
Assistência de assessoria de imprensa: Ana Andréa
Produção: Aline Mohamad e Gabriel Salabert | M&S Arte e Cultura
Idealização: National Theatre of Scotland e Renato Rocha
Realização: National Theatre of Scotland e SESC

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