domingo, 24 de novembro de 2013

Pra sempre nunca mais (RJ)

Caio Paduan e Patrícia Vazquez
Foto: Marcelo Faustini

Bom entretenimento

“Pra sempre nunca mais” é uma comédia romântica diferente. O gênero é muito fechado, devido a tantas atualizações no cinema, cujos filmes são sempre reprisados pela TV aberta. Fazer algo novo nele é um desafio raramente vencido. Nesse caso, foi. O normal é estarmos na plateia apenas vendo o como as coisas acontecem uma vez que já sabemos que o casal, depois de muitas brigas, ficará junto no final. Quando um roteiro é bom o suficiente para nos fazer esquecer do já previsto, então, temos um diferencial. Esse é o caso de “Pra sempre nunca mais”, escrito por Flávia Bessone e por Júlia Rodrigues e dirigido por Wendell Bendelack. PC (Caio Paduan) é um jovem que quer estar em um relacionamento ao invés de fugir dele, como geralmente são vistos os homens nessas produções. Bob (Patrícia Vazquez) é uma moça que duvida que conseguirá fazer um homem feliz por muito tempo, então, envolve-se sempre com pessoas diferentes e com elas não fica muito tempo. Os dois se conhecem em 2001, no dia em que caíram as Torres Gêmeas e, até a Copa de 2014 (que ainda não aconteceu), vão se encontrar e se desencontrar muitas vezes. Paduan, que como Vazquez precisa apenas ratificar o personagem já apresentado nos primeiros segundos de narrativa e nada além, está em bom trabalho de interpretação, “cavando”, vez que outra, momentos para dar um pouco mais de bem vinda complexidade à construção sem comprometer a superficialidade prometida pelo gênero ao público. Apesar dos diálogos, a curva narrativa é o melhor da peça que está em cartaz no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro.

Lá pelas tantas, o espectador se vê diante de um roteiro estagnado, que se preocupa apenas um cumprir o protocolo de encontros e desencontros, cujas tensões irão apontar para o final já muito conhecido. É quando o público mais atento pode notar uma nuance: falidas as tentativas anteriores, os personagens parecem querer se tornar o seu oposto. Nesse processo, que é muito sutil, o equilíbrio necessário para o final, aquele que irá unir os dois lados opostos, começa a ser preparado às avessas nesse texto de Bessone e de Rodrigues. O comum, nesse tipo de dramaturgia, é homem é mulher abrirem mão, cada um, de parte de si para ficar com o outro. Aqui não é o outro que motiva uma mudança em si, mas o contexto em que cada um vive consigo próprio. Diferente do cinema, o realismo do teatro é muito mais arbitrário, pois suas marcas são mais dificilmente expostas. Nesse sentido, focado em identificar as justificativas para a impressão de simbiose sentida, o espectador (bingo!) se esquece de que é certo que o casal ficará junto. E, quando se esquece, passa a torcer. E, quando torce, a produção pode se orgulhar de ter atingido o seu objetivo. Por isso, “Pra sempre nunca mais” merece uma avaliação positiva.

Apesar de carismática, Vazquez não tem uma condução vocal nesse trabalho. As palavras, ditas com pouca variação, saem atrapalhadas e sem força. As intenções também perdem a oportunidade de dar a ver um pouco mais da personagem além da frivolidade já apresentada nos segundos iniciais da narrativa. Por outro lado, Paduan consegue um bom resultado, por explorar a sua atuação com vistas a apresentar novas potencialidades do seu personagem que, a princípio, também é sempre o mesmo. O gesto ajuda a deixar mais sutil ainda a atitude em questionar-se, em modificar-se, resultado esse que irá ser necessário para o fim. Sua voz é forte e sua retórica é boa. Seu movimento é irregular e é possível encontrar um jogo interno de tensões e distensões que é positivo. De um modo geral, Bendelack faz aí um bom trabalho de direção, conduzindo a narrativa com dignidade, apesar da vulgaridade do tema a princípio.

As concepções de figurino (Patrícia Muniz), de cenário (André Sanches), de projeções em vídeo (Thiago Stauffer/Studio Prime), de iluminação (Marcelo Andrade) e principalmente de trilha sonora (DJ Rafael Augustto) são bastante positivas, porque embalam a produção com tem que ser. “Pra sempre nunca mais” é uma peça de puro entretenimento, mas nem por isso deve ser desvalorizada do ponto de vista da potencialidade estética. E o preconceito deve ser extirpado sobretudo em se tratando de objeto artístico como aqui é o caso.

Sem o humor prometido, não havendo boas piadas, o texto reserva no seu desenhar pontos de interrogação interessantes que dão a impressão de fazerem o tempo passar mais rápido. O destaque fica para a cena final, quando ouvimos a narração da final da Copa de 2014 entre Brasil e Espanha. Por tudo isso, eis aqui uma boa peça de divertimento.

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Ficha Técnica:
Texto: Flávia Bessone e Júlia Rodrigues
Direção: Wendell Bendelack
Elenco: Caio Paduan e Patricia Vazquez
Iluminador: Luiz Paulo Nenen
Figurinos: Patrícia Muniz
Cenário: André Sanches
Produção Musical: DJ Rafael Augustto
Supervisão de Movimentos: Ana Paula Bouzas
Fotografia: Marcelo Faustini
Projeções: Thiago Stauffer | Studio Prime
Perucaria: Ernane Pinho
Assistente de Iluminação e Operador de Luz: Marcelo Andrade
Assistente de figurino: Patricia Delvaux
Sonorização e elenco de apoio: Tarso Gusmão
Cenotécnico: Cristófaro
Contrarregra e camareiro: Kaká Silva
Projeto Gráfico: Zele Comunicação Mídias Sociais e Marketing Digital: Isabella Robinson
Assessoria de Imprensa: Ciranda Comunicação
Assistente de Produção: Bianca Moraes
Coordenação de Produção: Ágatta Marinho
Direção de Produção: Alina Lyra
Produção: Alkaparra Produções
Realização: Patricia Vazquez

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