Charles Fricks no melhor momento de sua carreira |
A tragédia ao contrário: excelente espetáculo
Teríamos uma visão menos rica de “O filho eterno” se analisássemos essa peça como uma abordagem dos problemas familiares ocasionados pelo nascimento de um bebê com Síndrome de Down. Há uma proposta mais rica: observarmos o quanto a relação entre pai e filho, fadada a se modificar até, talvez, se acabar com a adultez do segundo, pode se entender “eternamente”. Baseado em livro homônimo de Cristiano Tezza, o monólogo é uma produção da Cia. Atores de Laura, com adaptação de Bruno Lara Resende, direção de Daniel Herz e interpretação de Charles Fricks. Participou da programação do penúltimo dia do 3o OFF-Rio, Multifestival de Teatro de Três Rios/Rio de Janeiro.
No início, temos um escritor frágil, ainda em pequenos trabalhos e fazendo bicos para sustentar-se enquanto a esposa dá conta das outras contas e engravida. A alegria do nascimento do filho marca uma bela metáfora que é passagem da adolescência para a adultez, afinal, dali por diante, ele estará por alguém, isto é, alguém dependerá dele. O diagnóstico de síndrome de down cai como uma bomba no colo do pai e, nesse momento, a partir de belas nuances da interpretação, vemos a complexidade do conflito essencial da peça emergir. É bonito notar que a dramaturgia literária (Tezza/Resende) está imiscuída na dramaturgia cênica (Herz) de forma a não conseguirmos identificar os limites de uma e de outra. No palco vazio, as cores da entonação de voz de Fricks, ao interpretar o personagem do pai mas também dos demais, vai fundando as estruturas, as paredes de concreto invisíveis pelas quais o espectador há de transitar. A dureza da doença do filho oferece um alívio: o filho há de morrer logo e a vida voltará ao normal. Só que o filho não morre. E se aquilo é bonito, isso é lindo!
O monógolo “O filho eterno” está longe de partir de lugares comuns. O pai não é visto como um ser abnegado em favor da criação dos filhos, mas um ser humano que tem desejos, sonhos, e almeja por liberdades, o que faz dele alguém mais próximo do homem comum e, por isso, menos idelizado. Quando o alívio da certeza da possível prematura morte do filho doente faz fisgar os valores morais da plateia, que julgam esse pai verticalmente, o desconforto é geral. Fricks e Herz brincam com esse desconforto, a arte cênica se mostra viva. Apenas uma cadeira no palco e um precioso movimento de iluminação fazem girar a roda da narrativa de forma que não há meios de prendê-lo e de julgá-lo, impossibilidade essa que, na estética, define a relação com o espectador. Os anos passam na história e a tragédia acontece: o filho não morre.
Fosse apenas uma peça, que estreou em 2011, sobre síndrome de down, a plateia emocionar-se-aí pela identificação com familiares ou próximos doentes. Não é. A massa que nos faz unirmos uns aos outros, várias pessoas em uma só plateia na escuridão da audiência, é o fato de todos termos ou pai ou mãe ou ambos e todos sabermos que, um belo dia, saímos de casa e, prontos, deixamos de ser filhos e filhas e passamos a ser maridos e esposas, pais e mães, adultos. Felipe, o filho, é o filho eterno: abraçado ao pai, dele dependente, dele companheiro para toda a vida. O rito teatral, que une os homens ao redor de uma luz a ouvir a uma história, é revivido pela singeleza da interpretação, pelo preciosismo da narrativa e pela aparente simplicidade da encenação, que, na verdade, é bem complexa.
Charles Fricks e Cristiano Tezza acumulam prêmios desde o lançamento do livro e da peça. Que também seus aplausos sejam sempre renovados e eternos. Obrigado!
Ficha técnica:
Texto: Bruno Lara Resende a partir do livro de Cristiano Tezza
Direção: Daniel Herz
Interpretação: Charles Fricks
Essa peça é maravilhosa!!!!!!!!
ResponderExcluiro que mais chama a atenção e a representação do ator. um monólogo é sempre um desafio. platéia silenciosa, olhares e ouvidos atentos a cada palavra pronunciada. uma pai conturbado com o nascimento de um filho com síndrome de down , sua incerteza, sua não aceitação do filho .... e gradualmente o afeto e o amor vão tomando conta da vivência dois dois.... linda peça teatral
ResponderExcluiro que mais chama a atenção e a representação do ator. um monólogo é sempre um desafio. platéia silenciosa, olhares e ouvidos atentos a cada palavra pronunciada. uma pai conturbado com o nascimento de um filho com síndrome de down , sua incerteza, sua não aceitação do filho .... e gradualmente o afeto e o amor vão tomando conta da vivência dois dois.... linda peça teatral
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