domingo, 24 de novembro de 2013

Pacto - Relações podem ser fatais (RJ)

André Loddi e Gabriel Salabert em cena
Foto: Dalton Valério
Bom, mas é pouco

“Pacto – Relações podem ser fatais” (“Thrill Me – The Leopold and Loeb Story”) não agrada, mas é bom. O primeiro ponto é ligado ao gosto pessoal e o segundo é da ordem da análise crítica. Escrita em 2003, por Stephen Dolginoff, a peça recupera sentimentos que são muito superficiais ao público de início de século XXI. Trata-se de um opereta (ainda que com um tom contemporâneo nas melodias), isto é, uma história simples cantada quase que o tempo inteiro através de música, com poucos personagens e quase nenhum cenário ou figurino ou mudança de luz e de trilha. Diferente do que acontecia em final de século XIX, quando o gênero atendia aos interesses do público burguês, esse já enfastiado com as grandes óperas, mas disposto a não aceitar as revistas e as comédias populares. Hoje a vida é mais complexa e, por isso, a peça não emociona. Por outro lado, nota-se que é bem feita. Ivan Sugahara, comportadamente, exibe um trabalho de direção que é simples, pobre, mas dignamente enquadrado dentro do espaço rítmico que a música lhe oferece para encenar. Marya Bravo se esforça para oferecer uma versão brasileira que inclua o espectador na música, cheia de ganchos popularescos, rimas pobres e frases óbvias, atendendo bem à concepção. Gabriel Salabert e André Loddi interpretam bem os dois personagens melodramáticos, situando a contento as oposições entre eles, justamente o que faz com que a narrativa se estenda. Há também um belo trabalho de iluminação de Paulo César de Medeiros, que, como o cenário (Carolina Sugahara e Ivan Ivan Sugahara) e o figurino (Tarsila Takahashi), preservam o clima noir, esse pleno na sua função de embalar um melodrama do tipo policial, que se passa em Chicago na primeira metade do século XX. Assim, a peça não é boa, mas é bem feita.

Trinta e quatro anos depois de ter sido preso por assassinato, Nathan Leopold (Gabriel Salabert) está diante de juízes e advogados, tentando pela quinta vez obter liberdade condicional. Nas vezes anteriores, faltou ao processo o esclarecimento sobre o motivo que levou ele e seu amigo Richard Loeb (André Loddi), então com dezenove anos, a assassinar um menino no parque. Os fatos do crime começam a ser revisitados e o espectador começa a ver quem são os dois personagens protagonistas. De um lado, temos um personagem feio, baixo, gordinho e efeminado. De outro, temos um personagem bonito, alto, forte e másculo. Estando um apaixonado pelo outro sem ser correspondido, um jogo de poder começa entre eles, que levará ao crime. Diante de tamanha superficialidade, esse roteiro melodramático oferece apenas um desafio um pouco mais complexo: o de se deixar perceber que aquele que parece ser o mais frágil, talvez, não o seja. Com exceção disso, a trama estruturada em pontos bastante sydfieldianos (O saudoso roteirista Syd Field faleceu na semana passada infelizmente.) ocupa o espectador sonolento com o desejo de saber como os fatos se desenrolam já que ele já sabe o que acontece, com quem e o porquê.

André Loddi e Gabriel Salabert parecem cantar sem dificuldade as músicas que também não lhes exige muito. As interpretações são um exercício de ratificação dos tipos, esses nada complexos: o malvado e o ingênuo. Há boa dicção, boas entonações, de forma que os objetivos são plenamente alcançados – um mérito! No figurino de Takahashi, a calça hiperapertada de Loddi e a camisa com uma alfaiataria contemporânea expressa o desejo de despertar o espectador para os atributos sensuais do personagem, levando o espectador a se identificar com o apaixonado Nathan Leopold positivamente. De forma bem marcada, a iluminação de Paulo César de Medeiros dá a imagem soturna à narrativa, o lugar escuro em que dois homens têm uma relação proibida, permitindo que esse encontro os levem para ainda outras ações ainda mais proibidas. A trilha sonora ao vivo, interpretada unicamente pela pianista Priscilla Azevedo acompanha os tempos de movimentação e não apenas age por sobre as canções positivamente. O som do piano de Azevedo, nessa história contada a três, é um personagem.

Quando alguém se vê diante de uma obra, não é o seu todo que ela recupera. Tanto o fruidor como a obra estão parciais um diante do outro. “Pacto – Relações podem ser fatais”, na forma comportada como se apresenta, hoje, necessita do espectador apenas a sua piedade em relação ao personagem que narra a história aos investigadores. Faz bem, mas é pouco.

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FICHA TÉCNICA
Texto, Música e Letras Originais: Stephen Dolginoff
Direção: Ivan Sugahara
Elenco: Gabriel Salabert e André Loddi
Piano: Priscilla Azevedo / Antônio Ziviani
Versão Musical Brasileira: Marya Bravo
Direção Musical e Preparação Vocal: Ricardo Góes
Tradução: Gabriel Salabert
Revisão de Tradução: Daniele Ávila
Assistência de Direção: Cristina Lago
Cenário: Nello Marrese
Figurino: Tarsila Takahashi
Iluminação: Paulo César Medeiros
Projeto Gráfico: Fernando Nicolau
Fotografia: Dalton Valério
Assessoria de Imprensa: LEAD Comunicação
Direção de Produção: Tárik Puggina
Produção Executiva: Aline Mohamad
Idealização: Gabriel Salabert
Realização: Gabriel Salabert e Nevaxca Produções

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