Clara Santhana entre dois músicos |
Para os fãs (e apenas eles)
“Deixa clarear” perde uma grande possibilidade: a de homenagear a cantora Clara Nunes a quem não a conhece. Ao começar com cenas em que se veem os personagens do pai e da irmã da cantora mineira, o espectador tem a impressão de que, assim como seus fãs, sairá conhecendo e gostando mais da “Sabiá”. Ledo engano. Tirando os fatos de que Clara Nunes participou de um programa do Chacrinha e de que foi a cantora que vendeu 100mil cópias de um de seus discos, nada, absolutamente nada se sabe dela pelo texto. Vendido como um espetáculo sobre Clara Nunes, “Deixa clarear” é apenas motivo de encontro entre seus fãs mais próximos, esses que, aliás, não precisam de motivos para ouvi-la.
Como também aconteceu no espetáculo sobre Clementina de Jesus recentemente, o espectador tem, na peça em cartaz no Teatro Café Pequeno, uma justaposição de canções interpretadas por Clara Nunes e um pouco de sua poética. Sente-se a relação da cantora com o candomblé e sente-se a atitude humanista dela em relação aos preconceitos culturais do Brasil. No entanto, nada sabemos sobre sua vinda de Belo Horizonte para o centro do país, sua vida afetiva-amorosa-sexual, sobre seu não envolvimento com a política brasileira de forma evidente (o Brasil vivia o período da ditadura!) e, principalmente, sobre os fatos que levaram a sua morte, essa acontecida aos 40 anos. “Deixa clarear”, por isso, parece ser uma produção feita para exibir a interpretação das músicas da cantora por uma atriz e por um grupo de músicos sem que nem a mesmo a canção mais importante de seu repertório seja ouvida além de uma simples menção: “Morena de Angola” não consta no repertório do espetáculo.
O texto mal escrito por Marcia Zanelatto permite que, em determinados momentos, a atriz Clara Santhana, que interpreta Clara Nunes, fale em primeira pessoa, anunciando-se como uma atriz que irá interpretar outra Clara. Esse feito coloca ainda outra opção para quem frui o espetáculo: será a peça sobre a relação entre a cantora famosa e a jovem atriz? De novo, a possibilidade não é aproveitada e, como a anterior, tem-se a justificativa para a avaliação de desperdício.
Quanto a interpretação, Clara Santhana imita Clara Nunes na execução das canções, mas o espetáculo, de um modo particular e também geral, não tem profundidade. A atriz tem bons agudos e carisma, mas seus graves dificultam (e muito!) o entendimento das letras, pois não só não se entende o que ela fala como também, nesses momentos, não ouvimos, apesar da presença do microfone na pequena sala do Teatro Café Pequeno. Os músicos têm participação engraçada na cena de Chacrinha que, nesse contexto difícil, parece ser o melhor momento de “Deixa clarear”.
Com direção de Isaac Bernat, esse espetáculo deve servir para quem conhece e gosta de Clara Nunes encontrar-se com os seus pares. Nada mais.
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Ficha Técnica:
Texto - Marcia Zanelatto
Direção - Isaac Bernat
Direção Musical - Alfredo Del Penho
Direção de Movimento - Marcelle Sampaio
Atuação - Clara Santhana
Coordenção de Produção - Clara Santhana
Direção de Produção - Diga Sim! Produções, Sandro Rabello
Produção Executiva - Igor Veloso
Assistência de Direção - Daniel Belmonte
Assistência de Produção - Abner Valentim
Iluminação - Aurélio de Simoni
Figurino - Desirée Bastos
Cenário - Doris Rollemberg
Programação Visual - Side 2
Percussão - Michel Nascimento / Victor Ponce
Percussão - Bidu Campeche
Violão/ Cavaquinho - Felipe Rodrigues
Flauta/ Violoncelo - Lauro Lira
Vídeo Divulgação - Alexandre Rudah
Fotos Divulgação - Claudia Ribeiro
Foto Cartaz - Miguel Santiago
Programação Visual - Side 2
Percussão - Michel Nascimento / Victor Ponce
Percussão - Bidu Campeche
Violão/ Cavaquinho - Felipe Rodrigues
Flauta/ Violoncelo - Lauro Lira
Vídeo Divulgação - Alexandre Rudah
Fotos Divulgação - Claudia Ribeiro
Foto Cartaz - Miguel Santiago
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