Maitê Proença apresenta uma belíssimo trabalho ao lado de Clarisse Derziê Luz |
O vôo de Maitê Proença
*
FICHA TÉCNICA
Autora: Maitê Proença
Texto original: Fernando Duarte
Supervisão Direção: Amir Haddad
Direção: Maitê Proença e Clarice Niskier
Elenco: Maitê Proença e Clarisse Derzié Luz
Cenário: Cristina Novaes
Desenho de Luz: Jorginho de Carvalho
Figurinos: Beth Filipecki
Trilha Sonora: Alessandro Perssan
Direção de Movimento: Angel Vianna
Preparação Vocal: Rose Gonçalves
Assistente de direção e produção: Mayara Travassos
Assistentes de Iluminação: Daniel Galván
Assistente de Figurino: Edy Galvão
Confecção de Figurinos: Atelier de Costura – Edy & Ga
Assistente de Cenografia: Dina Levy
Assistente de Movimento: Marina Magalhães
Fotografia: Renata Dillon
Visagista: Cristiane Vicente
Maquiagem: Fabíola Gomez
Design Gráfico: Cubículo
Técnica em Iluminação Cênica: Poliana Pinheiro
Técnico de Montagem de Luz: Antônio Diniz
Técnicos Auxiliares de Luz: Denni Cintia, Marcos Braga e Samitri Bará
Operador de Luz: Hélio Malvino
Operador de Som: Alexandre Corecha
Diretor de Cena: André Boneco
Camareira: Nájala Nascimento
Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Assistente de Assessoria de Imprensa: Fernanda Miranda
Direção de Produção: Cássia Vilasbôas
Produção Executiva: Fernando Duarte
Administrativo Financeiro: Karime Khawaja
Realização: NOVE PRODUÇÕES
A tirar pelo seu excelente trabalho em “À beira do abismo, me cresceram asas”, pode se dizer que Maitê Proença deveria fazer mais teatro. Quem está acostumado a vê-la apenas bela nas grandes e nas pequenas telas, e nessas em pequenas e em médios planos, se surpreende positivamente com o seu trabalho exposto por inteiro, agora, no palco da Sala Fernanda Montenegro no Teatro do Leblon. Trata-se de uma peça simples, com roteiro de autoajuda e cheio dos clichês melodramáticos já esperados, o que não faz dela nenhum pouco menor enquanto objeto de arte (para quem é livre de preconceitos). Ao contrário, parte-se daí, desse lugar seguro, a avaliação de que a produção assinada por Cássia Vilasbôas (Nove Produções) é bem feita, porque segura na construção de sua própria identidade. Parte-se do clichê, mas não se fica nele. Os bons valores de “À beira do abismo,...” encontram eco nos ótimos trabalhos de interpretação, incluindo o de Clarisse Derziê Luz, mas sobretudo nas concepções de figurino e de cenário de Beth Filipecki e de Cristina Novaes respectivamente. Se o tema é simples, o trato é profundo e feito com valoroso esmero nos detalhes. Eis aí uma peça que lembra o homem enquanto homem, aproximando uns dos outros na plateia pela sua relação com a velhice própria e alheia a partir de sugestões cheias de beleza, investigação e poesia advindas do palco. Um belo trabalho!
Com supervisão de Amir Haddad e com direção de Clarice Niskier e de Proença, o trabalho de atriz da segunda está sobretudo no olhar. É raro no teatro ver tão bom uso os tempos e das intenções todas elas baseadas no ponto focal, isto é, no para onde Maitê olha quando fala, ouve ou quando reflete. Seja para onde for, o espectador sente que é desse lugar (como que se concreto) que surge o trampolim para a reação ao que está acontecendo na cena. O trabalho, mérito da direção, tem excelente ritmo, delicadeza e força nos movimentos bem planejados, detalhes bem postos. O uso da voz, maior carência de Proença enquanto atriz, em um dos momentos, alcança bom resultado. É quando a personagem fala sobre a verdade de sua personagem que, na verdade, está dentro do que o outro vê sobre ela. Aí, o tom baixa, adquire uma cor mais gutural e vemos a atriz, pela primeira (e única vez) explorar um tom diverso que normalmente usa.
Positivamente, vale destacar também a generosidade de Maitê Proença em cena. Todos sabemos que ela lidera a produção não só do ponto de vista da idealização do projeto, mas por ser simbolicamente o nome mais forte, devido aos trabalhos na televisão ao longo das últimas décadas. No palco de “À beira do abismo, me cresceram asas”, fãs e não-fãs encontrarão a profissional, muitas vezes, de costas ou de lado, ou simplesmente discreta e em silêncio, apontando o olhar do espectador para o trabalho de Clarisse Derziê Luz, esse cheio de força e excelentes usos dos tempos, da voz, do corpo e dos significados das palavras. Tem-se aí uma bela dupla de intérpretes, em que o jogo é equilibrado e, por isso, bastante bem feito.
A dramaturgia contrapõe duas personagens bastante interessantes. Cheia cor, vivacidade, alegria e disposição, Valdina (Luz) deixa ver aos olhos mais sensíveis um interior pesado, porque cheio de mágoas. Seu bordão “Oh, Glória!” acaba por ser uma metáfora, uma máscara para as “inglórias” de sua vida. Ao seu lado, Terezinha (Proença) vive a depressão do abandono, da solidão, da velhice com coragem e sem artifícios. Talvez justamente por isso, por ser mais sincera com os próprios dissabores, diante do abismo, crescer-lhe-ão asas (O filme “Melancolia”, de Lars Von Trier, também trata da mesma tese). Nesse sentido, em termos teórico-analíticos, o espetáculo pode até parecer um drama sobre duas velhas companheiras abandonadas em um asilo, mas não é. O texto original de Fernando Duarte resultou, afinal, em um trabalho contemporâneo e forte que retirou o conflito narrativo do palco e o colocou sob a responsabilidade do espectador. Ela, a plateia, é quem identifica o que está por trás de cada figura e constrói, a partir daí, as articulações possíveis na estrutura tão bem engendrada por Niskier e por Proença.
Sem dúvida, um dos maiores valores estéticos de “À beira do abismo” é o figurino de Beth Filipecki. Detalhe por detalhe, da maquiagem, à modelagem, passando pelo corte, pelas texturas, pelas estampas, as roupas caracterizam, sim, Terezinha e Valdina, mas vão além em suas asas. No processo de fruição, é possível encontrar, nas roupas, algumas indicações úteis sobre quem está mais preparada para voar embora triste e quem está mais disposta a ficar embora alegre. Cenário (Novaes), iluminação (Jorginho de Carvalho) e trilha sonora (Alessandro Perssan) acompanham Filipecki nos elogios.
Seria superficial dizer que “À beira do abismo, me cresceram asas” é o que quer ser, embora esse já seria um grande valor. É supreendentemente mais!
*
FICHA TÉCNICA
Autora: Maitê Proença
Texto original: Fernando Duarte
Supervisão Direção: Amir Haddad
Direção: Maitê Proença e Clarice Niskier
Elenco: Maitê Proença e Clarisse Derzié Luz
Cenário: Cristina Novaes
Desenho de Luz: Jorginho de Carvalho
Figurinos: Beth Filipecki
Trilha Sonora: Alessandro Perssan
Direção de Movimento: Angel Vianna
Preparação Vocal: Rose Gonçalves
Assistente de direção e produção: Mayara Travassos
Assistentes de Iluminação: Daniel Galván
Assistente de Figurino: Edy Galvão
Confecção de Figurinos: Atelier de Costura – Edy & Ga
Assistente de Cenografia: Dina Levy
Assistente de Movimento: Marina Magalhães
Fotografia: Renata Dillon
Visagista: Cristiane Vicente
Maquiagem: Fabíola Gomez
Design Gráfico: Cubículo
Técnica em Iluminação Cênica: Poliana Pinheiro
Técnico de Montagem de Luz: Antônio Diniz
Técnicos Auxiliares de Luz: Denni Cintia, Marcos Braga e Samitri Bará
Operador de Luz: Hélio Malvino
Operador de Som: Alexandre Corecha
Diretor de Cena: André Boneco
Camareira: Nájala Nascimento
Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Assistente de Assessoria de Imprensa: Fernanda Miranda
Direção de Produção: Cássia Vilasbôas
Produção Executiva: Fernando Duarte
Administrativo Financeiro: Karime Khawaja
Realização: NOVE PRODUÇÕES
Que a peça escrita por Maitê é magnífica todos concordamos. Estive assistindo e sei que posso generalizar pela exuberante reação da platéia. Mas associar qualquer dos textos de Maitê a autoajuda é um equívoco sem fim. Autoajuda é um termo pejorativo que pressupõe a presença de dogmas, de conselhos e verdades absolutas. Em À beira do abismo me cresceram asas os diálogos fazem o avesso disso. Quando uma das velhas se manifesta a outra imediatamente mostra o verso daquela situação, deixando a verdade sempre para ser elaborada pelo espectador. A peça é altamente dialética, divertindo, emocionando e sobretudo, colocando-nos a pensar sobre temas do dia a dia, e outros tantos belos e profundos.
ResponderExcluirQuanto ao tom de voz escolhido pela atriz, é obviamente proposital: os velhos não têm vigor ao falar. Mas se a atriz abaixa o tom e mostra vigor em dado momento para reforçar a ideia contida em seu belo monólogo, é porque poderia tê-lo feito ao longo de toda a peça. Apenas preferiu outra maneira, mais variada e complexa. Além do mais não se pode esquecer a belíssima voz, forte e afinada, que nos apresenta a atriz ao cantar um trecho de Rien de rien.
No mais concordamos, a peça é imperdível.
Aluizio Laertes