Rogério Barros em excelente trabalho de interpretação |
Marta Paret e Rogério Barros "tirando leite de pedra"
Há mais graça que poesia em “O Lobo sem Chapéu”, espetáculo produzido por Marta Paret em cartaz no Teatro Sesc Arena Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Voltado para crianças, a peça tem o interessante resultado de não resgatar nos adultos as crianças que ainda vivem dentro deles, mas parece esperar que os adultos gostem da peça (tanto quanto as crianças) mantendo-se como tais, mas por motivos diferentes. Talvez com o desejo de explorar vários níveis de fruição, o texto de Denise Crispun é complicado, porque sem definições. No mesmo sentido, a direção de Beto Brown não é bem articulada, deixando opções sem justificativas claras. As bases estéticas sem consistência importantizam a função dos atores nesse trabalho. Com Paret e Rogério Barros em boas interpretações, o espetáculo tem, ao final, bom resultado também no uso dos figurinos e da iluminação. Barros está excelente!
Nessa montagem, “sobra” para os atores a árdua tarefa de “tirar leite de pedra”, isto é, “fazer tripas coração” a fim de tornar o texto interessante, traduzindo com um pouco de lógica possível a direção cambaleante. Marta Paret e Rogério Barros, dupla que já mostrou excelente trabalho em “Navalha na Carne”, carregam nas cores de suas construções para dar vida aos personagens que interpretam e às situações em que esses se envolvem. Mesmo assim, reconhecido esse esforço, sai-se sem a certeza sobre o que de que se trata a peça. A protagonista é uma atriz em busca do papel de “Chapeuzinho Vermelho” num espetáculo de teatro ficcional? Ou é a célebre personagem do conto de Charles Perrault, então enfastiada de sempre repetir a velha história a ponto de, um dia, resolver desaparecer, deixando sua mãe aflita e sua avó sem doces? Em ambos os casos, o Lobo, citado no título, não é o protagonista.
Ainda sobre a dramaturgia, no palco, vemos os personagens tradicionais (Chapeuzinho, Vovó, Mamãe, Lobo e Caçador) ao lado de novas figuras (Jovem Atriz, Detetive e Diretor de Teatro) agindo no mesmo local, em situações concomitantes, mas não facilmente claras para a fruição. Por Paret e sobretudo por Barros, esse mais ágil, com mais movimentos minuciosos e mais marcas diferentes que dão a ver seus personagens diversos, a peça agrada e envolve positivamente ao final, porque tem balanço, tem cor, tem vida e, sobretudo, pouco tempo de duração. O fato de cruzar um desafio tão grande torna os méritos de “O Lobo sem Chapéu”, enquanto produção artística, ainda maiores: faça-se saber.
São potentes em seus usos simples o desenho de iluminação de Djalma Amaral e de figurino de Teca Fichinski. O cenário, também de Fichinski, que desenha no palco a la “Dogville (o filme de Lars von Trier, para citar um referencial mais conhecido do grande público) os diversos ambientes onde a ação se passa, é rico no sentido de permitir o ritmo veloz exigido pelas concepções necessariamente histriônicas de interpretação. A trilha sonora de Marcelo Alonso Neves é sem destaque, embora marque positivamente a evolução da narrativa.
A direção de Beto Brown deixa ver sua fragilidade na incoerência de suas opções. Se de um lado temos cadeiras e cestas de palha, além de figurinos bastante referenciais, de outro temos garrafinhas d`água (?) e bloco de anotações que fazem as vezes de telefone quando uma ligação é recebida ou realizada. Num terceiro lado ainda, há o cigarro e a bebida de um dos personagens que aparece em forma de mímica, ficando invisível concretamente na encenação. Sem fortalecer o metateatro ou tampouco o teatro em si, Brown não terá aqui um dos melhores trabalhos.
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FICHA TÉCNICA
Texto: Denise Crispun
Direção Beto Brown
Elenco: Marta Paret e Rogerio Barros.
Direção musical: Marcelo Alonso Neves
Direção de movimento: Joice Niskier
Cenário e figurino: Teca Fichinski
Iluminação: Djalma Amaral
Direção de produção: Marcelo Cabanas e Camila Martins
Produção executiva: André Rocha
Assessoria de imprensa: Jongo
Produção e realização: Marta Paret
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