"umnenhumcemmil" encerra a Trilogia Pirandelo |
Má direção
O maior problema de “umnenhumcemmil” é a direção. Todos que vão assistir a um monólogo de Cacá Carvalho sabem que vão encontrar um ator que sabe explorar os diversos níveis de sua potência vocal e que tem excelente conhecimento do corpo e de suas possibilidades expressivas na narração de uma história em cena. A questão negativa do espetáculo, que encerra a Trilogia Pirandello, da qual também fazem parte as produções “O homem com a flor na boca” e “A poltrona escura”, em cartaz no Teatro Sesc Copacabana - Sala Multiuso, é que todo o repertório corporal do ator já é visto nos primeiros dez minutos da peça que tem noventa. No décimo primeiro minuto, Carvalho já foi do grito ao cochicho, dos passos rápidos ao olhar parado, das interrupções no discurso oral à verborragia, do bater-se ao dirigir-se ao público. Sem dosagem, a peça parece que tem vários fins e cansa o espectador rapidamente. A partir de texto de Pirandello (1867-1936), o espetáculo tem direção de Roberto Bacci e dramaturgia de Stefano Geraci.
A história é interessante e tem fácil comunicação com o público contemporâneo apesar de ter sido escrita há tanto tempo. Parte de vários discursos, o homem moderno se vê preso a regras que se modificam em cada circunstância, como se fossem vários homens dentro de um só. O herdeiro de um banqueiro, um dia, é “avisado” pela mulher de que tem nariz torto. Ele passa, então, a observar as outras pessoas com outros olhos, pensando se elas já haviam percebido essa sua característica e, se sim, porque é que não lhe contaram antes. Em revolta, aponta falhas nos outros e, nessa relação de busca e de contrução da imagem de si mesmo no outro, vem à tona a história de sua família, a má fama que tinha seu pai diante dos clientes. O caso evolui para vias surpreendentes e, no final, o espectador tem acesso aos motivos que embasam a situação inicial: onde estamos quando a história começa a ser narrada?
Além de um poltrona, há algumas cadeiras e um balde com água. A iluminação de Fábio Retti é excelente, dando vivacidade para a cena sem o uso de gelatinas. Inserts de trilha sonora reforçam a tensão emotiva das cenas, marcando o ritmo. A peça, apesar de também contar com um bom figurino de Marcos Medina, tem um ritmo arrastado porque sem novidades que “empurre" a narrativa para um ápice dramático. Em termos de atuação, tudo já está exposto bem rapidamente e só haverá rodeios ao redor do mesmo tema corporo-expressivo.
“umnenhumcemmil” despede Cacá Carvalho do Rio de Janeiro. Oxalá ele volte mais vezes com sua força cênica sempre tão bem vinda.
FICHA TÉCNICA - Trilogia Pirandello
COM: Cacá Carvalho
Direção: Roberto Bacci
Dramaturgia: Stefano Geraci
Cenário e figurino: Márcio Medina
Iluminação: Fábio Retti
Fotos : Lenise Pinheiro
Produção: Fondazione Pontedera Teatro
Realização: CASA LABORATÓRIO PARA AS ARTES DO TEATRO, FONDAZIONE PONTEDERA TEATRO/Italia
Gestão e Produção Executiva: Núcleo Corpo Rastreado
Assessoria de Imprensa no RJ: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação
Produção no RJ: 3! Ideias e Soluções Culturais
Técnico de Luz: Yuri Cumer
Tradução: Cacá Carvalho
Arte grafica trilogia: orbi designer
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