sexta-feira, 20 de julho de 2012

Histórias de família (RJ)


foto: divulgação

Sem diálogo com a plateia
  
            “Histórias de família”, o novo espetáculo da Companhia Amok Teatro, tem belas interpretações, mas é uma peça muito difícil de assistir. O espectador não encontra facilmente marcas na encenação que o ajudem a fruir a obra, de forma que ela fica fechada em si e, consequentemente, seja monótona. Depois dos excelentes, “O dragão” (2008) e “Kabul" (2010), muito elogiados por aqui, a “Trilogia da Guerra” se encerra de um jeito muito estranho infelizmente. Em “Histórias de família”, o grupo realiza uma montagem do texto da dramaturga sérvia Biljana Srbljanovic, que, pela primeira vez, tem uma produção encenada no Brasil. No texto, que foi censurado na Sérvia, a autora tenta descrever a confusão na qual seu país mergulhou, sob a liderança de dirigentes cuja ideologia levou toda a região dos Balcãs à barbárie e à destruição. No entanto, em termos dramatúrgicos, paira uma certa ausência de decisões estéticas que dêem segurança para quem está vendo.
            Quando a história ou enredo não é para fazer sentido, é uma coisa. Quando é, outra. Numa sucessão de pequenas seqüências, é muito fácil se perder na plateia dessa produção: são crianças brincando, é uma família convencional, o filho é filho, o cachorro é cachorro? Além disso, as cenas têm muito mais de descrição do que de narração. Sabe-se que o pai é daquele jeito, que a mãe é daquele jeito, mas não há acontecimentos que realmente sustentem internamente cada momento, menos ainda, no todo. O resultado final é um painel de uma ou mais famílias durante a guerra da Sérvia sem que se saiba exatamente quais são os componentes desse painel.
            Como nas outras montagens, o trabalho de interpretação é primoroso. Stephane Brodt é um excelente ator e, também aqui, oferece um magnífico desempenho. Rosana Barros e Bruce Araújo completam o conjunto mantendo o nível de excelência. Há, ainda, a participação de Christiane Góis que, como os demais, está corporalmente completamente entregue à cena, com gestos e expressões bem postas, tons de voz ricamente explorados e movimentação pontual. A iluminação de Renato Machado é um dos pontos altos da produção, marcando o tempo e produzindo sentido em completa união com os elementos visuais e cênicos, o que é ótimo. O ritmo, mesmo assim, emperra na dramaturgia que não avança. Ao longo das cenas, sabe-se exatamente o mesmo que ao fim da primeira.
            Sem saber se se ri dos exageros ou se se comove com os depoimentos, “Histórias de Família” não conversa bem com o público, deixando ele de fora de suas boas intenções, embora permaneça falando muito. A respeitável Companhia Amok de Teatro, infelizmente, como todos os grupos, produz um teatro que é vivo e, por isso, nem sempre elogiável em sua plenitude.

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FICHA TÉCNICA
Cia: Amok Teatro
Texto: Biljana Srbljanovic
Direção e Adaptação: Ana Teixeira e Stephane Brodt
Elenco: Bruce Araujo, Christiane Góis, Rosana Barros e Stephane Brodt
Iluminação: Renato Machado
Cenário: Ana Teixeira
Figurinos e Objetos de cena: Stephane Brodt
Costureira: Dora Pinheiro
Cenotécnico: Manoel Puoci
Operador de Luz: Rodrigo Maciel
Projeto Gráfico: Paulo Barbosa Lima
Produção: Erick Ferraz

Um comentário:

  1. stephane Brodt / Amok Teatro23 de julho de 2012 às 06:24

    Prezado Rodrigo Monteiro,
    Agradecemos sempre o retorno dos críticos, ouvindo com a mesma atenção todas as opiniões. Não costumamos responder, mas você coloca como titulo da sua matéria “Sem Dialogo com a Plateia” e isso não é verdade. O retorno que temos do público, desde o inicio da temporada, não coresponde ao que você escreve. Você deve colocar as suas sensações, mas não pode falar em nome da plateia. A plateia tem opinião própria e no dia em que você assistiu, ela reagiu muito. Estamos em cartaz desde o inicio de junho com o teatro lotado e com fila de espera todos os dias. A temporada está completa até o final, com público atento e concentrado, rindo, chorando e aplaudindo de pé no final.
    A leitura da sua critica me deu vontade de compartilhar com você e com os leitores do seu blog, o trecho de um texto do grande encenador francês, Jacques Copeau. Esse texto, escrito em 1932, é dirigido aos críticos de teatro:

    (...) “Assistam a peça junto com o público. Não analisem somente os seus próprios sentimentos, mas pegue o tempo de examinar o público e de entender com boa fé as razões pelas quais ele resiste ou se entrega à apresentação. Vocês são, as vezes, muito impacientes para colocar logo o seu julgamento sobre a obra apresentada. Exponha claramente o que vocês acham ser verdadeiro, mas não fiquem com o ar de ser os únicos a deter uma certeza que os autoriza a pronunciar julgamentos sem volta. O tom severo de suas criticas não deve fazê-los esquecer que vocês são os amigos da nossa arte antes de ser os nossos juizes. Se falarem justo e com boas medidas, serão ouvidos. Não pensam ser os donos da verdade” (...)
    Jacques Copeau 1932

    Um Abraço,
    Stephane Brodt/Amok Teatro

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