foto: divulgação
Sem diálogo com a plateia
“Histórias
de família”, o novo espetáculo da Companhia Amok Teatro, tem belas interpretações, mas é
uma peça muito difícil de assistir. O espectador não encontra facilmente marcas na encenação
que o ajudem a fruir a obra, de forma que ela fica fechada em si e, consequentemente,
seja monótona. Depois dos excelentes, “O dragão” (2008) e “Kabul" (2010), muito
elogiados por aqui, a “Trilogia da Guerra” se encerra de um jeito muito
estranho infelizmente. Em “Histórias de família”, o grupo realiza uma montagem
do texto da dramaturga sérvia Biljana Srbljanovic, que, pela primeira vez, tem
uma produção encenada no Brasil. No texto, que foi censurado na Sérvia, a
autora tenta descrever a confusão na qual seu país mergulhou, sob a
liderança de dirigentes cuja ideologia levou toda a região dos Balcãs à
barbárie e à destruição. No entanto, em termos dramatúrgicos, paira uma certa
ausência de decisões estéticas que dêem segurança para quem está vendo.
Quando
a história ou enredo não é para fazer sentido, é uma coisa. Quando é, outra.
Numa sucessão de pequenas seqüências, é muito fácil se perder na plateia dessa
produção: são crianças brincando, é uma família convencional, o filho é filho,
o cachorro é cachorro? Além disso, as cenas têm muito mais de descrição do que
de narração. Sabe-se que o pai é daquele jeito, que a mãe é daquele jeito, mas não
há acontecimentos que realmente sustentem internamente cada momento, menos
ainda, no todo. O resultado final é um painel de uma ou mais famílias durante a
guerra da Sérvia sem que se saiba exatamente quais são os componentes desse
painel.
Como
nas outras montagens, o trabalho de interpretação é primoroso. Stephane Brodt é
um excelente ator e, também aqui, oferece um magnífico desempenho. Rosana
Barros e Bruce Araújo completam o conjunto mantendo o nível de excelência. Há,
ainda, a participação de Christiane Góis que, como os demais, está
corporalmente completamente entregue à cena, com gestos e expressões bem
postas, tons de voz ricamente explorados e movimentação pontual. A iluminação
de Renato Machado é um dos pontos altos da produção, marcando o tempo e
produzindo sentido em completa união com os elementos visuais e cênicos, o que é
ótimo. O ritmo, mesmo assim, emperra na dramaturgia que não avança. Ao longo
das cenas, sabe-se exatamente o mesmo que ao fim da primeira.
Sem
saber se se ri dos exageros ou se se comove com os depoimentos, “Histórias de
Família” não conversa bem com o público, deixando ele de fora de suas boas
intenções, embora permaneça falando muito. A respeitável Companhia Amok de
Teatro, infelizmente, como todos os grupos, produz um teatro que é vivo e, por
isso, nem sempre elogiável em sua plenitude.
*
FICHA TÉCNICA
Cia: Amok Teatro
Texto: Biljana Srbljanovic
Direção e Adaptação: Ana Teixeira e Stephane Brodt
Elenco: Bruce Araujo, Christiane Góis, Rosana Barros e
Stephane Brodt
Iluminação: Renato Machado
Cenário: Ana Teixeira
Figurinos e Objetos de cena: Stephane Brodt
Costureira: Dora Pinheiro
Cenotécnico: Manoel Puoci
Operador de Luz: Rodrigo Maciel
Projeto Gráfico: Paulo Barbosa Lima
Produção: Erick Ferraz
Prezado Rodrigo Monteiro,
ResponderExcluirAgradecemos sempre o retorno dos críticos, ouvindo com a mesma atenção todas as opiniões. Não costumamos responder, mas você coloca como titulo da sua matéria “Sem Dialogo com a Plateia” e isso não é verdade. O retorno que temos do público, desde o inicio da temporada, não coresponde ao que você escreve. Você deve colocar as suas sensações, mas não pode falar em nome da plateia. A plateia tem opinião própria e no dia em que você assistiu, ela reagiu muito. Estamos em cartaz desde o inicio de junho com o teatro lotado e com fila de espera todos os dias. A temporada está completa até o final, com público atento e concentrado, rindo, chorando e aplaudindo de pé no final.
A leitura da sua critica me deu vontade de compartilhar com você e com os leitores do seu blog, o trecho de um texto do grande encenador francês, Jacques Copeau. Esse texto, escrito em 1932, é dirigido aos críticos de teatro:
(...) “Assistam a peça junto com o público. Não analisem somente os seus próprios sentimentos, mas pegue o tempo de examinar o público e de entender com boa fé as razões pelas quais ele resiste ou se entrega à apresentação. Vocês são, as vezes, muito impacientes para colocar logo o seu julgamento sobre a obra apresentada. Exponha claramente o que vocês acham ser verdadeiro, mas não fiquem com o ar de ser os únicos a deter uma certeza que os autoriza a pronunciar julgamentos sem volta. O tom severo de suas criticas não deve fazê-los esquecer que vocês são os amigos da nossa arte antes de ser os nossos juizes. Se falarem justo e com boas medidas, serão ouvidos. Não pensam ser os donos da verdade” (...)
Jacques Copeau 1932
Um Abraço,
Stephane Brodt/Amok Teatro