Foto: Paula Kossatz
Maria Maya e Xuxa Lopes brilham no último texto de Jô Bilac
Jô
Bilac merece toda a fama que já tem. No texto de “Popcorn, qualquer semelhança
não é mera coincidência” o espectador tem ao seu dispor um tipo de humor cáustico
em personagens familiares em um univeso íntimo bastante próximo de Harold
Pinter, sobretudo em seus últimos textos. Já comparado a Nelson Rodrigues, a
dramaturgos brasileiros do século XIX, a Almodóvar e tantos outros, Bilac
parece se reinventar a cada novo trabalho. Eis aqui o seu mais novo texto, o décimo
terceiro produzido para teatro em menos de seis anos. Para o leitor, um ótimo
texto. Para um espectador, um ótimo espetáculo.
Dirigido
pelo próprio Jô em parceria com Sandro Pamponet, “Popcorn” consiste em um espetáculo
cômico, cujo riso vem menos dos diálogos e muito mais das boas interpretações. A
trama versa sobre Márcia (Mabel Cezar), uma dona de casa sem nenhuma
experiência literária, que oferece
um jantar familiar em comemoração ao prêmio que vai receber na Noruega pelo seu
primeiro livro, que virou um best seller.
No jantar, estão seu pai Otávio (Cássio Pandolfi), um jornalista respeitado, e
seu irmão Marcos (Vinícius Arneiro), professor universitário que sonha com
a publicação de seus estudos, acompanhado de sua esposa Roni (Maria Maya), uma
jovem espalhafatosa e indiscreta. A tensão se estabelece com a chegada da
também convidada Saubara O’Donnor (Xuxa
Lopes), famosa estrela de TV que pretende comprar os direitos do livro
para rodar um filme. Além das relações familiares ruidosas que geram mal-estar,
o clima pesa quando a estrela começa a relatar suas idéias para a adaptação do
livro, que não agradam nem um pouco a autora estreante. A narrativa não-linear melhora
o texto de Bilac, que não passaria de uma história sem grandes momentos não
fosse o jeito de contá-la. A opção pela inversão das cenas, isto é, a
intercalação não temporal das situações é um grande mérito porque chama a atenção
do público para certos diálogos que dão início ou fim para cada seqüência. O
jogo de ênfases ao longo da encenação é mérito da dupla de diretores.
Maria
Maya e Xuxa Lopes brilham em um elenco que têm boas participações de Mabel
Cezar e Vinícius Arneiro. Maya parece “engolir” os colegas com uma interpretação
absolutamente no ritmo: as falas são claras e ágeis, as intenções são bem
postas, as “flechadas” são certeiras. Lopes acerta em manter-se discreta em boa
parte da narrativa para, em dois momentos, mostrar um excelente trabalho,
trechos em que é aplaudida em cena aberta. Em Cezar e em Arneiro, como nos
melhores personagens de Pinter, estão os silêncios, os não-ditos, a força que dá
“caldo” para história. Em
Cássio Pandolfi , o ritmo cai negativamente, sem sabor, sem
força, como se não tivesse importância.
Nello
Marrese constrói um cenário funcional e, em certa medida, requintado para dar
lugar às conversas sobre fama, originalidade e memórias. Gabriela Campos acerta
nos figurinos igualmente deixando Marcos e Otávio mais relaxados enquanto Márcia
e Roni parecem estar mais produzidas e O’Donnor naturalmente elegante. Um
aspecto essencial nesse tipo de narrativa, a iluminação marca o ritmo não-linear
contribuindo com o espectador que faz a união das partes.
Pelas
vibrantes interpretações de Maria Maya e de Xuxa Lopes e, sobretudo, além do
que já foi dito, pela leveza com que os diálogos fazem vir discussões mais
profundas no texto de Jô Bilac, “Popcorn” há de garantir uma boa noite de
entretenimento em alta qualidade.
*
Ficha Técnica:
Texto: Jô Bilac
Direção: Jô Bilac e Sandro Pamponet
Elenco (em ordem alfabética) / Personagens
Cássio Pandolfi / Otávio
Mabel Cezar / Marcia
Maria Maya / Roni
Vinícius Arneiro / Marcos
Xuxa Lopes / Saubara O’donnor
Direção de Movimento: Viétia Zangrandi
Cenário: Nello Marrese
Figurino: Gabriela Campos
Iluminação: Thiago Mantovani
Trilha Sonora: Jô Bilac
Preparação Corporal: Breno Guimarães
Preparação Vocal: Verônica Machado
Visagismo: Fabrizio Sá
Artes Gráficas: Marcelo Cravero
Fotos: Paula Kossatz
Direção de Palco: James Hanson
Assistência de Produção: Ana Terra e Jenny
Mezencio
Produção Executiva: Letícia Napole
Realização:
Maria Maya e Giba Ka
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação -
João Pontes e Stella Stephany
Assessoria de
Imprensa ‘No Lugar’ – Ocupação Teatro Ipanema: Daniella Cavalcanti
Sobre Jô Bilac:
Jô Bilac, 27
anos, formado pela Escola de Teatro Martins Pena, é dramaturgo e foi curador do
Teatro Municipal Maria Clara Machado (Planetário) / RJ.
Seus textos
encenados:
"Os
mamutes" direção Inez Vianna (SESC de Copacabana março 2012);
"Alguémacaba de morrer lá fora" direção Pedro Neschling (SESC Belenzinho
São Paulo, nov. e dez. de 2011);
"O
Gato branco" direção João Fonseca (Teatro Sergio Porto Rio de Janeiro,
junho de 2011);
"Limpe
todo sangue antes que manche o carpete" direção Erik Lenate (SESC
Consolação São Paulo, Maio 2011);
"Omatador de santas" direção Guilherme Leme (OI Futuro Flamengo, agosto
2010);
"Savana
Glacial" direção Renato Carrera (Sesc Copacabana Rio de Janeiro, março
2010);
"Rebú"
direção Vinicius Arneiro (Cia dos Atores Rio de Janeiro, nov. 2009);
"Limpe
todo sangue antes que manche o carpete" direção Vinicius Arneiro
(Solar de Botafogo Rio de Janeiro, março de 2008);
"Cachorro!"
direção Vinicius Arneiro (SESC Copacabana Rio de Janeiro, agosto de 2007);
"Desesperadas"
direção Jô Bilac (Teatro Vanucci Rio de Janeiro, junho 2007);
"Bruxarias
Urbanas" (Teatro Sergio Porto Rio de Janeiro, setembro de 2006).
Escreveu em
parceria os textos:
"Dois
p/ viagem" com Miguel Thiré e Mateus Solano (Casa da Gávea Rio de
Janeiro, julho de 2007);
"Serpente
verde sabor maçã" com Larissa Câmara (em sua segunda montagem em
cartaz em São Paulo ,
espaço Parlapatões, nov. e dez. de 2011).
Prêmios e
indicações:
"Savana
Glacial" Prêmio Shell de 2010 como melhor autor, indicado a melhor
autor ao Prêmio APTR;
"O
matador de santas" Prêmio Contigo 2011 como melhor autor;
"Rebú"
Indicado como melhor autor ao prêmio APCA de São Paulo.
Indicado ao Prêmio Faz Diferença O GLOBO,
como personalidade do teatro de 2010.
"Limpe
todo sangue antes que manche o carpete" Prêmio de melhor autor
Festival de Teatro de Cubatão/ SP 2012.
Cinema:
"O
silencio que precede o beijo" com Mayana Neiva;
"Coração
na boca" com Pablo Sanábio e Elisa Pinheiro;
"As
unhas vermelhas da noiva" com Ernesto Piccolo.
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