Foto: Ricardo Gama
Digno de plateias cheias
“Bandeira
de Retalhos” é a nova produção do Grupo Nós do Morro, com direção geral de Guti
Fraga e Fátima Domingues. Escrito na forma de roteiro cinematográfico em 1979,
o texto de Sérgio Rodrigues, que também assina a direção musical, é sobre um
fato verídico acontecido em 1977, quando o governo tentou expulsar parte dos
moradores do Vidigal. Eles resistiram e, com o apoio da população, de setores
da igreja católica e da imprensa, mudaram a demografia do Rio de Janeiro para
sempre. O espetáculo acontece dez anos depois de “Noites do Vidigal”, peça que
retratava o cotidiano do morro, dois Shakespeares, uma adaptação de contos de
Machado de Assis, e um Gorki. É o grupo voltando seu olhar para si mesmo.
Enquanto
musical, a peça tem dois problemas: cantores e ritmo. Faltam bons cantores em “Bandeira
de Retalhos”. A maioria dos atores parece fazer esforço para cantar enquanto, na
plateia, o público precisa fazer força para entender muitas palavras ditas nas
belas letras. A estrutura, a ordem de entrada e de saída dos números musicais
está ótima e faz o público brasileiro se orgulhar de um musical tão nacional
como esse, mas, infelizmente, há que se dizer que microfones parecem ser necessários
apesar da proximidade entre palco e plateia que o Teatro Maria Claro Machado
providencia.
Há
duas forças na dramaturgia de “Bandeira de Retalhos”, quase toda em verso, o
que é bastante positivo: de um lado, parte do morro precisa ser desocupada por
ordem judicial e os moradores se reúnem para tratar do problema comum. De
outro, o casamento de Tiana parece ruir quando volta para o Morro do bandido
Bituca. O texto não joga bem com o desafio de dosar as duas forças, deixando
apenas para as cenas finais o privilégio de uma delas. Durante toda a encenação,
há um intercalamento regular (e monótono) das situações: ora o foco está numa,
ora noutra impreterivelmente. Além disso, quando o assunto é política, o
português fica correto, com ênclises que não parecem caber na boca daqueles
personagens, plurais perfeitos, um discurso sem marcas de verdade. Dessa forma,
cem minutos de apresentação se tornam longos, o que é negativo.
“Bandeira
de Retalhos”, apesar das falhas apontadas, é um bom espetáculo. Os personagens
são fortes, o espaço é bem explorado, o tema é propício. A direção de arte de
Rui Cortez só não é perfeita porque o quadro do João Paulo II é inadequado
visto que, em 1977, o papa ainda era Paulo VI. Nos detalhes, nota-se um extremo
cuidado, o resultado de um trabalho de exploração das possibilidades visuais de
cada composição. O figurino de Pedro Sayad e Tita Nunes segue o mesmo padrão,
fortificando a mistura de cores, de texturas, de geometria, de significados. O
desenho de luz de Márcia Francisco também acrescenta pontos valorosos ao espetáculo
na medida em que auxilia na composição dos quadros e dosagens dos tons. Bem
executada, a trilha sonora tem o seu ponto alto em “Enquanto a tristeza não vem”,
em um roteiro de canções tão fortes como os personagens que as entoam.
Priscilla
Marinho (Mãe Clara), Marília Coelho (Júlia) e Edson Oliveira (Sargento) são os
pontos altos do elenco protagonizado por Marcelo Melo (Neno) e Kizi Vaz
(Tiana), não menos excelentes. Os destaques elogiam a força em cena, a
presença, a vivacidade, a energia posta em favor da narrativa. O mesmo não se vê,
porém, em João Gurgel
(Tuim), Sandro Mattos (João da Lua) e em Luiz Henrique
Delfino (Pernambuco).
De
um modo geral, a encenação é imponente, orgulhosa e viva, deixando um saldo
bastante positivo para quem for assistir. Há ótimos usos de linguagem, a divisão
em níveis é rica, a ocupação do espaço é vibrante. “Bandeira de Retalhos”
merece as plateias cheias que está ganhando.
*
Ficha
Técnica
Direção Geral: Guti Fraga e
Fátima Domingues
Texto: Sérgio Ricardo
Supervisão Dramatúrgica: Luiz
Paulo Correa e Castro
Assistência de Direção: Tiago
Barbosa
Direção Musical: Sergio
Ricardo
Co-direção Musical: João
Gurgel
Direção vocal/Canto:Tiago
Barbosa
Preparação Rítmica: Wellington
Soares
Direção de Movimento: Johayne
Hildefonso
Iluminação: Márcia Francisco
Direção de Arte: Rui Cortez
Figurinos: Pedro Sayad e Tita
Nunes
Preparação Vocal: Leila
Mendes. Isabel Schumann e Roberta Bahia
Assistência de Direção de
Arte: Rodrigo Abreu e Sammara Niemeyer
Estagiária: Carolina Sugahara
Cenotécnica: Álvaro de Souza
Contra-regra: Dejaneth Idalice
Costureira da Bandeira de
Retalhos: Tânia Dias
Montagem de Luz: Márcia
Francisco, Arnaldo Nunes e Zezinho da Luz
Assistência de Figurino:
Leonardo Brazas
Costureira dos figurinos:
Claudia Ramos
Camareira: Goretth Bezerra
Operação de Som: Allan Felix
de Souza
Design Gráfico: Marina Lufti
Fotos: Ricardo Gama
Vídeo de divulgação: Aléssio
Slossel
Produção Executiva: Alessandra
Barbosa e Bianca Fabre
Assistência de Produção:
Sandra Viola e Kiko Moraes
Assessoria Jurídica: Martins
Associados Advocacia
Assessoria Contábil: LS
Serviços Empresariais LTDA
Assessoria de Imprensa: Carla
de Gonzales
Direção de Produção: Zezzé
Silva
Elenco – ator/ personagem:
Alexandre Cipriano – SENHOR
DUQUE
Alexis Abraham – DELIO DOS
SANTOS/POLICIAL
Cida Costa – ANGÉLICA
Cláudio Tozer – JOÃO
VELHO
Danilo Batista –
ENGENHEIRO
Edson Oliveira – SARGENTO
Flavio Mariano –
ISIDORO/POLICIAL
Francisca Damião –
COSTUREIRA
Jackie Brown – ANGELA/
POLICIAL
João Gurgel – TUIM
Kizi Vaz –
TIANA
Lorena Baesso –
CONCEIÇÃO
Luiz Henrique Delfino –
PERNAMBUCO
Luzinete Barbosa
– DONA FÁTIMA
Marcelo Mello – NENO E POLICIAL
Maga Cavalcante – DONA ALZIRA/
POLICIAL/ GRÁVIDA
Marília Coelho –
JÚLIA
Priscilla Marinho –
CLARA
Renan Monteiro – BITUCA/
MUSICO
Rosangela Gonçalves – ANA
MARIA NORONHA/ POLICIAL
Sandro Matos – JOÃO DA LUA E
BENTO RUBIÃO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Bem-vindo!