Foto: divulgação
Ótimo
“Dentro”
é o novo espetáculo da Pequena Orquestra, um coletivo de oito jovens atores,
diretores e autores, cujo foco de interesse é o cruzamento das artes visuais,
dança, música e performance na criação de uma dramaturgia e de uma interpretação
que não sejam exclusivamente pensadas pela tradição teatral. O espetáculo,
assim, quer e consegue dar conta de ser referencial para um mundo a partir de
sua complexidade, das relações fluídas (ou líquidas?), das quebras oficiais de
paradigmas. Um mundo está desabando do lado de fora e, lá dentro, seis pessoas
dividem a sobrevivência. Enquanto as mulheres saem para ganhar a vida, os
homens, extremamente raros no contexto externo, ficam em casa às escondidas. Com
direção de Michel Blois, a peça é uma resposta bem dada à civilização
desorganizada apesar dos parâmetros, aos homens éticos apesar dos exemplos e à
necessidade de esconder-se apesar da liberdade.
O
texto tem todas as marcas do teatro contemporâneo ou pós-dramático que
conhecemos: frases desconectadas, diálogos repetidos, personagens não
suficientemente claros, situação difusa. Dividido em duas partes, na primeira, é
visível o esforço do texto em não fazer sentido, isto é, não indicar
significados estanques. Em substituição a eles, há a menção, o corte ágil dos
diálogos bem ditos, a não contextualização de nenhuma informação. Na segunda
parte, quando uma notícia de jornal aparece e tentar pôr ordem no caos estético,
há uma certa reorganização na relação da obra com o público. Como se uma nova
peça começasse, o que não era para fazer sentido, agora, começa a encontrar significados
e se estabelece a positiva “corrida para o fim”. Em união à fala inicial, o final
faz lembrar de Anne Frank: aquele espaço e aquelas relações deixam de existir.
De
forma bastante positiva, todo o elenco está ótimo em suas interpretações. Fabricio
Belsoff, Fernanda Félix, Joana Lerner, Michel Blois, Pedro Henrique Monteiro,
Thiare Maia e Átila Calache (em uma pequena participação, substituindo Rodrigo
Nogueira) dizem o texto com verossimilhança, deixando evidentes marcas que
aproximam o público desse universo paralelo. A opção por fazer o público
assistir à peça de dentro do palco é excelente, pois convida o espectador a ser
parte desse lugar seguro, dentro do qual se está protegido do mundo que
despenca do lado de fora. O cenário de Rebecca Belsoff e o figurino de Antônio
Guedes parecem ser um elemento só, o que é ótimo: realçam a desorganização, mas
deixam pistas para o reconhecimento das identidades. No mesmo sentido, a
iluminação de Ana Kutner e a trilha sonora de Rodrigo Marçal, que
desaparecendo, cumprem bem o seu papel de conduzir a obra sem ser a obra.
Longe
de uma realidade cheia de causa e de efeito, a situação de “Dentro” assume o
que o lado de fora, talvez, não assumiu e, por isso, está ruindo: nem tudo na
vida são degraus que nos levam ao agora. Há muito de completamente inútil na
existência e, nem por isso, desagradável.
*
Ficha técnica:
Direção: Michel Blois
Elenco e Dramaturgia: Pequena Orquestra [Fabricio Belsoff,
Fernanda Félix, Joana Lerner, Michel Blois, Pedro Henrique Monteiro, Rodrigo
Nogueira e Thiare Maia]
Iluminação: Ana Kutner
Cenografia: Rebecca Belsoff
Trilha Sonora: Rodrigo Marçal
Figurinista: Antônio Guedes
Assistente de Direção: Átila Calache
Arte Gráfica: Felipe Braga
Foto: Ana Alexandrino
Produção: Fabricio Belsoff e Michel Blois
Produção Executiva: Isabel Sangirardi
Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Financeiro: Ana Lucia e Thiago
Libonati
Colaboradores: Fernando Libonati
e Pequena Central
Apoio: Galpão Gamboa
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