quarta-feira, 18 de julho de 2012

Dentro (RJ)


Foto: divulgação

Ótimo

            “Dentro” é o novo espetáculo da Pequena Orquestra, um coletivo de oito jovens atores, diretores e autores, cujo foco de interesse é o cruzamento das artes visuais, dança, música e performance na criação de uma dramaturgia e de uma interpretação que não sejam exclusivamente pensadas pela tradição teatral. O espetáculo, assim, quer e consegue dar conta de ser referencial para um mundo a partir de sua complexidade, das relações fluídas (ou líquidas?), das quebras oficiais de paradigmas. Um mundo está desabando do lado de fora e, lá dentro, seis pessoas dividem a sobrevivência. Enquanto as mulheres saem para ganhar a vida, os homens, extremamente raros no contexto externo, ficam em casa às escondidas. Com direção de Michel Blois, a peça é uma resposta bem dada à civilização desorganizada apesar dos parâmetros, aos homens éticos apesar dos exemplos e à necessidade de esconder-se apesar da liberdade.
            O texto tem todas as marcas do teatro contemporâneo ou pós-dramático que conhecemos: frases desconectadas, diálogos repetidos, personagens não suficientemente claros, situação difusa. Dividido em duas partes, na primeira, é visível o esforço do texto em não fazer sentido, isto é, não indicar significados estanques. Em substituição a eles, há a menção, o corte ágil dos diálogos bem ditos, a não contextualização de nenhuma informação. Na segunda parte, quando uma notícia de jornal aparece e tentar pôr ordem no caos estético, há uma certa reorganização na relação da obra com o público. Como se uma nova peça começasse, o que não era para fazer sentido, agora, começa a encontrar significados e se estabelece a positiva “corrida para o fim”. Em união à fala inicial, o final faz lembrar de Anne Frank: aquele espaço e aquelas relações deixam de existir.
            De forma bastante positiva, todo o elenco está ótimo em suas interpretações. Fabricio Belsoff, Fernanda Félix, Joana Lerner, Michel Blois, Pedro Henrique Monteiro, Thiare Maia e Átila Calache (em uma pequena participação, substituindo Rodrigo Nogueira) dizem o texto com verossimilhança, deixando evidentes marcas que aproximam o público desse universo paralelo. A opção por fazer o público assistir à peça de dentro do palco é excelente, pois convida o espectador a ser parte desse lugar seguro, dentro do qual se está protegido do mundo que despenca do lado de fora. O cenário de Rebecca Belsoff e o figurino de Antônio Guedes parecem ser um elemento só, o que é ótimo: realçam a desorganização, mas deixam pistas para o reconhecimento das identidades. No mesmo sentido, a iluminação de Ana Kutner e a trilha sonora de Rodrigo Marçal, que desaparecendo, cumprem bem o seu papel de conduzir a obra sem ser a obra.
            Longe de uma realidade cheia de causa e de efeito, a situação de “Dentro” assume o que o lado de fora, talvez, não assumiu e, por isso, está ruindo: nem tudo na vida são degraus que nos levam ao agora. Há muito de completamente inútil na existência e, nem por isso, desagradável.

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Ficha técnica:
Direção: Michel Blois
Elenco e Dramaturgia: Pequena Orquestra [Fabricio Belsoff, Fernanda Félix, Joana Lerner, Michel Blois, Pedro Henrique Monteiro, Rodrigo Nogueira e Thiare Maia]
Iluminação: Ana Kutner
Cenografia: Rebecca Belsoff
Trilha Sonora: Rodrigo Marçal
Figurinista: Antônio Guedes
Assistente de Direção: Átila Calache
Arte Gráfica: Felipe Braga
Foto: Ana Alexandrino
Produção: Fabricio Belsoff e Michel Blois
Produção Executiva: Isabel Sangirardi
Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Financeiro: Ana Lucia e Thiago Libonati
Colaboradores: Fernando Libonati e Pequena Central
Apoio: Galpão Gamboa

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