Foto: divulgação
Ótimo texto de Iuri Kruschewsky em espetáculo interessante
A
melhor coisa de “É culpa da vida que sonhei ou dos sonhos que vivi” é o texto
se a sinopse da peça não for lida antes dela começar. Iuri Kruschewsky cria uma
situação tão bem amarrada dramaturgicamente que o espectador desavisado tem a
chance de se deliciar na dúvida a respeito do que ocorre no plano da realidade
e do que acontece na imaginação do protagonista. Alex é quem guia a história.
Ele é escritor e está trabalhando em mais um romance. Os outros personagens que
aparecem se perdem na mistura entre ficção e não-ficção, entre sonhos vividos e
vida idealizada. Sem conseguir jamais estabelecer um traço que defina quem está
de qual lado, a audiência tem a sua disposição um belo espetáculo que faz
pensar sobre a quantidade de sonhos que nutrem a nossa existência e tem um
exemplo de avaliação sobre as conseqüências disso. Com direção do próprio
Kruschewsky, o espetáculo apresenta uma boa movimentação cênica e propostas
estéticas bastante interessantes, embora tenha um elenco cujo trabalho é
desequilibrado infelizmente.
Bruno
Quaresma, que interpreta Alex, está exagerado em boa parte da encenação. Com
excesso de força nas expressões, falta delicadeza na apresentação do seu
personagem e, com isso, marcas de verdade, apagamento de teatralidade, convite
para a catarse. Kelly Iranzo, que interpreta Maitê, a esposa de Alex, está bem
até a chegada de um ponto dramaticamente mais forte. A força que sobra em
Quaresma lhe falta a partir daí e as palavras parecem não caber na boca da
personagem. Manoel Madeira apresenta um Alex diegeticamente fictício bastante
fleumático no início e mais desmarcado no fim, o que é positivo. No entanto,
suas aparições são pequenas, o que lhe impede, talvez, de mostrar um trabalho
destacável. A melhor atuação da montagem é de Marianna Pastori, que interpreta
Karina. Sua participação é ativa, seus gestos são bem desenhados, sua voz é
explorada em diferentes níveis, há força e ardilosidade na medida certa.
São
interessantes o desenho de luz de João Gioia, que mantém a dúvida citada quando
deixa acesa a luz sobre a máquina de escrever, e o cenário de Carlos Augusto
Campos, que, fazendo com que todos os móveis saiam de dentro de malas, suspende
o conceito de viagem como lugar intermediário onde tudo ocorre. Falta
infelizmente maior exploração da concepção de figurinos, cujas opções não
embelezam os personagens que, nesse contexto de sonho, precisariam estar mais
“perfeitos”.
“É
culpa da vida que sonhei ou dos sonhos que vivi” é um drama contemporâneo que
diz muito para os dias de hoje, quando é fácil se deixar levar por sonhos,
vontades, desejos do coração e da mente criativa. O espetáculo, por isso, há de
cumprir uma bela carreira.
*
Ficha técnica:
Direção e Dramaturgia: Iuri
Kruschewsky
Elenco: Bruno Quaresma, Kelly
Iranzo, Manoel Madeira e Marianna Pastori.
Produção: Gustavo Rodrigo Herdt e
Proposta A6
Iluminação: João Gioia
Figurino: Ticiana Passos
Cenário: Carlos Augusto Campos
Sonoplastia: Pedro Poema
Assistente de direção: Ana
Beatriz Macedo
Coreografia: Luiza Azeredo
Assistente de cenografia: Samanta
Toledo
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