sábado, 28 de julho de 2012

É culpa da vida que sonhei ou dos sonhos que vivi (RJ)


Foto: divulgação

Ótimo texto de Iuri Kruschewsky em espetáculo interessante

            A melhor coisa de “É culpa da vida que sonhei ou dos sonhos que vivi” é o texto se a sinopse da peça não for lida antes dela começar. Iuri Kruschewsky cria uma situação tão bem amarrada dramaturgicamente que o espectador desavisado tem a chance de se deliciar na dúvida a respeito do que ocorre no plano da realidade e do que acontece na imaginação do protagonista. Alex é quem guia a história. Ele é escritor e está trabalhando em mais um romance. Os outros personagens que aparecem se perdem na mistura entre ficção e não-ficção, entre sonhos vividos e vida idealizada. Sem conseguir jamais estabelecer um traço que defina quem está de qual lado, a audiência tem a sua disposição um belo espetáculo que faz pensar sobre a quantidade de sonhos que nutrem a nossa existência e tem um exemplo de avaliação sobre as conseqüências disso. Com direção do próprio Kruschewsky, o espetáculo apresenta uma boa movimentação cênica e propostas estéticas bastante interessantes, embora tenha um elenco cujo trabalho é desequilibrado infelizmente.
            Bruno Quaresma, que interpreta Alex, está exagerado em boa parte da encenação. Com excesso de força nas expressões, falta delicadeza na apresentação do seu personagem e, com isso, marcas de verdade, apagamento de teatralidade, convite para a catarse. Kelly Iranzo, que interpreta Maitê, a esposa de Alex, está bem até a chegada de um ponto dramaticamente mais forte. A força que sobra em Quaresma lhe falta a partir daí e as palavras parecem não caber na boca da personagem. Manoel Madeira apresenta um Alex diegeticamente fictício bastante fleumático no início e mais desmarcado no fim, o que é positivo. No entanto, suas aparições são pequenas, o que lhe impede, talvez, de mostrar um trabalho destacável. A melhor atuação da montagem é de Marianna Pastori, que interpreta Karina. Sua participação é ativa, seus gestos são bem desenhados, sua voz é explorada em diferentes níveis, há força e ardilosidade na medida certa.
            São interessantes o desenho de luz de João Gioia, que mantém a dúvida citada quando deixa acesa a luz sobre a máquina de escrever, e o cenário de Carlos Augusto Campos, que, fazendo com que todos os móveis saiam de dentro de malas, suspende o conceito de viagem como lugar intermediário onde tudo ocorre. Falta infelizmente maior exploração da concepção de figurinos, cujas opções não embelezam os personagens que, nesse contexto de sonho, precisariam estar mais “perfeitos”.
            “É culpa da vida que sonhei ou dos sonhos que vivi” é um drama contemporâneo que diz muito para os dias de hoje, quando é fácil se deixar levar por sonhos, vontades, desejos do coração e da mente criativa. O espetáculo, por isso, há de cumprir uma bela carreira.

*

Ficha técnica:
Direção e Dramaturgia: Iuri Kruschewsky
Elenco: Bruno Quaresma, Kelly Iranzo, Manoel Madeira e Marianna Pastori.
Produção: Gustavo Rodrigo Herdt e Proposta A6
Iluminação: João Gioia
Figurino: Ticiana Passos
Cenário: Carlos Augusto Campos
Sonoplastia: Pedro Poema
Assistente de direção: Ana Beatriz Macedo
Coreografia: Luiza Azeredo
Assistente de cenografia: Samanta Toledo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo!