Foto: divulgação
Boas mãos trazem bons resultados
“Abram-se
os histéricos” é um espetáculo-aula da Companhia Inconsciente em Cena que versa
sobre a histeria no contexto francês em final do século XIX. Tendo como local o
Hospital La Salpêtrière
e como protagonistas o professor Jean-Martin Charcot, além de Sigmundo Freud e
Joseph Babinski, em cena, estão alguns debates científicos/acadêmicos a
respeito dessa, então, novidade médica. Com texto de Antônio Quinet e de Regina
Miranda e com direção da segunda, a peça apresenta um resultado esteticamente
interessante para a proposta árdua. Além de boas interpretações, o espetáculo
tem vários momentos coreografados que merecem elogios efusivos. Lê bem a peça
quem entende, desde o princípio, que o protagonista da história não são os
personagens centrais, mas o tema: a histeria.
Debates
longos e com termos difíceis, que preenchem boa parte dos quadros dialogados
nos quais as interpretações de Lourival Prudêncio (Prof. Charcot), Jano Moskorz
(Babinski) e de Evandro Manchini (Freud) se mostram fortes, com intenções bem
definidas e expressas de forma rica e com hábil uso do tempo e do espaço, fazem
o espectador desavisado interessar-se pelos personagens e por seus conflitos
internos. Na mesma medida, estão as seqüências em que Patrícia
Niedermeier interpreta Sarah Bernhardt acompanhada de Marina
Salomon, Aline Deluna, Marina Magalhães e de Berenice Xavier, que dão vida a
outras personagens-testemunhas desse momento histórico. No entanto, de fronte
para a tediosa descrição da doença (?) e seus detalhes, o ritmo parece se
alongar até quase perder-se. É então que felizmente a percepção de que o que
faz as cenas acontecerem não é o destino dos personagens participantes e seus
conflitos, mas as conseqüências sociais da abertura das aulas em Salpêtrière se
faz necessária: o estudo, a propagação dos debates para além dos muros do
hospital, a discussão sobre gênero e sobre comportamento humano e, sobretudo, a
histeria enquanto motivação para a arte e, posteriormente, para a pesquisa
acerca da nascente psicanálise. É no final da peça que Miranda deixa isso
claro, é lá que está o bem-vindo e tradicional ápice. Tem-se aí, pois, uma
produção que vence o desafio da didática e da simples galeria com méritos artísticos.
Em
todos os aspetos que compõem a cena, a saber, iluminação (Dani Sanchez),
figurinos (Luiza Marcier) e trilha sonora (José Eduardo Costa Silva), os
resultados são bastante positivos desde os detalhes visuais/sonoros até a forma
como eles se relacionam com a cena, propondo diferentes níveis de fruição. A
utilização do espaço do Teatro Tom Jobim de forma alternativa também é
positiva.
Definitivamente,
uma das grandes belezas do teatro é saber que tudo pode virar teatro. O melhor é
quando isso se dá em mãos habilidosas como aqui é o caso.
*
Ficha técnica:
Texto: Antonio Quinet e
Regina Miranda
Adaptação do texto “A Lição de
Charcot” de Antonio Quinet
Encenação e Direção: Regina
Miranda
Elenco: Lourival Prudêncio,
Marina Salomon, Patrícia Niedermeier, Aline Deluna, Marina Magalhães, Berenice
Xavier, Jano Moskorz e Evandro Manchini
Figurinos: Luiza Marcier
Iluminação: Dani Sanchez
Trilha sonora: José Eduardo
Costa Silva (compositor e diretor musical), Marcus Neves (desenho de som),
Herbert Baioco (pesquisa de material sonoro), Ernesto Hartmann (Piano) e Márcia
Lyra (Soprano)
Realização: Atos & Divãs
Produções Ltda
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