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divulgação
Literatura
no palco da Sutil Companhia
O novo espetáculo da Sutil Companhia
é bom e vale a pena ser visto porque tem bons atores em belíssimas
interpretações. A dramaturgia, escrita sobre a obra “The Subject Steve”, de Sam
Lipsyte, embora evidencie partir de uma ótima literatura, não sustenta a
contento um espetáculo de 4h30min. Falta teatro em “O Livro dos Itens do
Paciente Estevão”. Dirigida por Felipe Hirsch, a peça oferece uma retórica
bastante interessante, com muito para ser contemplado e bastante para ser
ouvido, mas há pouco para se ver. Pouco, claro, para o tempo total da duração,
que, aliás, não é um tempo assustador, considerando o cenário atual em que, com
certa frequência, se assiste a excelentes espetáculos de 8h ou 6h e, em mesma
medida, se cochila em produções de 80min.
Estão apenas nos diálogos de “O
Livro dos Itens do Paciente Estevão” todas as metáforas, todos os sentidos
outros, quase toda a riqueza estética da produção. Com movimentos ricos,
quebras de eixo, vários níveis de velocidade e abrangência semântica, a
retórica da dramaturgia garante boa parte dos muitos méritos. O tema, uma
doença que surge como resposta ao vazio existencial, ao tédio e ao
desenraizamento do homem contemporâneo, é extremamente pertinente a uma plateia
que convive com o medo, o desapego e se sente obrigada a ser feliz. Estevão,
que não se chama Estevão, vai na contracorrente da autoajuda, passa pelo cume
de uma montanha e é plantado no chão, mas sobrevive determinado a não sair do
círculo. De forma despreconceituosa e forte, a história contada em cena
proporciona uma excelente reflexão, apesar dos signos teatrais não terem sido
bem utilizados no ato cênico-narrativo, como o foram os signos literários. A
peça não emociona, não “pega”, não tem carisma, permanecendo distante e fria em
função do alargamento do ritmo em boa parte do tempo. Há um acúmulo de cenas “paradas”,
com atores sentados, conversando, apenas ilustrando com o corpo e a voz o que
prevê os diálogos e o bom texto de Lipsyte. Momentos em que a história
“embarriga”, como o caso do Ministro da Agricultura e o seu amor por filhotes
ou a história do Guarda e da tigresa, se sucedem constantemente. O que faria o
leitor se afeiçoar ao personagem literário, no teatro, cansa o público ávido
por ver e não só ouvir.
Não fossem as excelentes
interpretações, “O Livro dos Itens do Paciente Estevão” seria um espetáculo
tedioso. Com vibrante destaque para Georgette Fadel, a produção oferece ainda
grandes trabalhos de Danilo Grangheia e de Guilherme Weber, com ainda boas
participações de Isabel Teixeira, Márcio Vito e Maureen Miranda. O jogo é cheio
de contornos, de nuances e de pequenos detalhes no olhar, nas pausas e no
movimento com as mãos que driblam o tempo habilmente, prendendo a atenção
positivamente. Leonardo Medeiros, que interpreta o protagonista Estevão, com
excelência, constrói e dá a ver o seu personagem cheio de emoção e visível
determinação, constituindo o herói que se espera pela fácil identificação.
O cenário de Daniela Thomas e
Felipe Hirsch providencia um lugar apertado para os atores se movimentarem, mas
um ambiente que auxilia o espectador a se concentrar no texto. Há poucas cores
e poucas modificações, o que direciona a atenção para os diálogos e não para a
ação, essa rara como já se disse. O mesmo se diz, elogiando a coerência estética,
dos figurinos de Cassio Brasil, que tem destaque nas prostitutas e nos
personagens do Centro de Reabilitação de Almas, da iluminação de Beto Bruel,
essa bastante próxima dos atores, e da trilha sonora de Hirsch que, um dos
melhores elementos da peça, dá ares de epicidade para a longa narrativa cujo
herói é Estevão.
Aceitar a morte, como aceitar a
vida, é, quem diria, uma das marcas do homem contemporâneo. Fugir de
idealismos, afastando-se da felicidade como meio de espantar a depressão, ou
encontrar-se no vazio e, vendo-se nele, descobri-lo preenchido, pode ser uma
das reflexões que espetáculo valoroso, apesar de difícil, pode trazer para quem
o for lhe assistir. Em se tratando da Sutil Companhia, esse um dever.
*
Ficha
técnica:
Direção Geral:
Felipe Hirsch
Cenografia: Daniela
Thomas e Felipe Hirsch
Iluminação: Beto
Bruel
Figurinos: Cassio
Brasil
Trilha Sonora:
Felipe Hirsch
Concepção Visual
das Personagens e Design Gráfico: Rafael Grampá
Elenco:
Danilo
Grangheia
Georgette
Fadel
Guilherme Weber
Isabel Teixeira
Leonardo Medeiros
Márcio Vito
Maureen Miranda
Pedro Inoue
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