segunda-feira, 13 de maio de 2013

Favela (RJ)

Gabriel Chadan, à esquerda,
tem excelente trabalho de interpretação
Foto: divulgação

Excelente texto e ótimas interpretações: bom espetáculo da zona oeste estreia no Leblon

“Favela”, espetáculo que estreou na Festa Internacional de Teatro de Angra dos Reis e cumpriu temporada no Teatro Fashion Mall, chega agora ao Teatro do Leblon, enriquecendo substancialmente a programação de teatro da zona sul do Rio de Janeiro. Entre muitas questões, uma que deve ser destacada é a impossibilidade de descolar a dramaturgia dessa peça do momento presente: “Favela” é 2013, não é 2003 e não será 2023. Nesse sentido, o jeito mais adequado de ler a obra é através do realismo naturalismo justamente por esse gênero oferecer uma descrição mais acentuada do espaço, esse o verdadeiro protagonista da narrativa. Michel Gomes, Rafael Zulu e Renata Tavares, mas principalmente Ana Berttines e Gabriel Chadan impõem à cena o vigor de que ela precisa para realmente aparecer no teatro profissional com galhardia, o que é extremamente positivo. 

Aos moldes de “O Cortiço”, obra de Aluísio Azevedo, ou de “Quando as máquinas param”, de Plínio Marcos, os personagens de "Favela" agem por instinto, nem vítimas, nem algozes, mas distantes de qualquer moral ou ética que os julgue. A “comunidade” (ou, usando o termo politicamente incorreto, “a favela”) é o ecossistema desses seres sem escolha, apesar da falsa ideia de poder escolher. O traficante fortalece a violência, mas expulsa do grupo os baderneiros. O pastor evangélico é preconceituoso, mas é o amor da vida de sua esposa. A fofoqueira é linguaruda, mas ajuda a quem lhe pede. O bonitão é conquistador, mas cuida do bem estar da sua mãe. Um por um, todos os personagens podem ser vistos a partir de pontos positivos e negativos, o que distancia a obra do melodrama e a aproxima da realidade além da narrativa. Com direção e idealização de Márcio Vieira, o espetáculo com cem minutos de duração narra o período de mais ou menos um ano na vida de vizinhos, amigos, pessoas que se criaram juntas e, apesar das diferenças, convivem diariamente uns com os outros. O texto de Rômulo Rodrigues é fluido e, na medida em que se compreendem os diálogos (há problemas na interpretação!), nota-se movimento linear e levemente ascendente que anuncia o fim, mas que também pode ser apenas o anúncio de um recomeço.

O elenco, de um modo geral, exibe bom uso do palco, da movimentação gestual e proxêmica, mas boa parte do grupo tem péssima dicção e praticamente nenhuma expressão facial. Há gritos em exagero, o que dificulta a compreensão, entonações pobres, sem substância e excesso pouco útil de força. Natalio Maria (Pastor Pereira), Helena Giffoni (Mulher do Pastor) e Dilene Prado (Valdira) têm boas oratórias, mas suas construções são tão rasas quanto superficiais. Simplemente não se consegue entender o que dizem Kawane Weza (Marilyn Mou), Gistele Castro (Jane) e Cláudia Leopoldo (Sara) tamanhos são seus problemas de articulação e projeção das palavras do texto. As duplas Carla Cristina (Meire) e Leandro Santana (Osmar), e Rafael Zolly e Wallace Fortunato (bandidos) têm boas figuras, mas nada além infelizmente para ser visto. José Augusto Mathias (O dançarino) não parece estar à vontade em cena, o que prejudica a fruição, considerando o número alto de vezes em que o ator está no palco. 

Fazem boas participações Cinthia Andrade (Elisa), Cridemar Aquino (Seu Euzébio), Felipe Frazão (Kadu) e Dja Martins (Dona Jurema), nenhum deles com grande destaque. O melhor do elenco de “Favela” se encontra nos belíssimos trabalhos de interpretação de Michel Gomes (apesar do terrível trabalho de voz), de Rafael Zulu (Juvenal) e de Renata Tavares (Suelen), sendo possível encontrar  neles força e intensidade, bom usos do tempo e do ritmo e presenças cênicas potentes. Chama-se a atenção para Gabriel Chadan (Murilo) e para Ana Berttines (Dona Vilma) pela forma ímpar com que estabelecem com seus pares os jogos cênicos, as relações de poder e as marcas fortes de verossimilhança.

O cenário de Derô Martins é bom, porque, além de ilustrar, possibilita o uso do palco com profundidades diversas. No entanto, o desenho de iluminação de Djalma Amaral não têm bom casamento com a ambientação, pois os refletores deixam ver os vazamentos de seu feitio, além de deporem contra a fruição em um contraluz negativo na casa de Dona Jurema. A trilha sonora é concordante com a estrutura na articulação da obra, apesar de, em um dos momentos, oferecer leveza em uma situação que exigiria maior peso. 

Diferente das produções teatrais dos períodos mais nacionalistas do teatro brasileiro, “Favela” não surge como síntese da cultura do país, mas como exposição de uma pequena parte dessa cultura. Sem grandes pretensões, assim, agrada porque surpreende positivamente aqueles mais reservados em relação a talentos mais puros e menos conhecidos do circuito profissional. Pelos resultados positivos e pelas cenas tão bem interpretadas, mas sobretudo pelo belo texto, a produção é bem vinda. 

*

FICHA TÉCNICA
Texto: RÔMULO RODRIGUES
Direção e idealização: MÁRCIO VIEIRA

Elenco:
B Boy - João Augusto Mathias
Bandido "D'Bonde" - Rafael Zolly
Bandido "Sinistro" - Walace Fortunato
Dona Antônia - Helena Giffonni
Dona Jurema - Dja Marthins
Dona Vilma - Ana Berttines
Elisa - Cinthia Andrade
Fiel Kadu - Felipe Frazão
Jeomar - Michel Gomes
Juvenal - Rafael Zulu
Meire - Carla Cristina
Menina Marilyn “Mou” - Kawane Weza
Moça Jane - Gisele Castro
Moça Sara - Claudia Leopoldo
Murilo - Gabriel Chadan
Osmar - Leandro Santanna
Pastor Pereira - Natalio Maria
Policial Celso - Nilson Melo
Seu Euzébio - Cridemar Aquino
Suelen - Renata Tavares
Valdira - Dilene Prado

Iluminação: DJALMA AMARAL
Cenário: DERÔ MARTIN
Figurinos: CAIO BRAGA
Direção de Corpo: SUELI GUERRA
Preparação Vocal: PEDRO LIMA
Direção Musical: MÁRCIO EDUARDO
Música inédita: GABRIEL CHADAN - BANDA FULANOS E CICLANOS
Música inédita: JOÃO AUGUSTO MATHIAS - Mc JOTA
Música “Meu nome é favela”: ARLINDO CRUZ
Assistente de Direção: GILBERT MAGALHÃES
Fotografia: FERNANDA SABENÇA
Arte: LEONARDO MIRANDA
Produção: PRAMA COMUNICAÇÃO (Ana Berttines e Rômulo Rodrigues) &
SOBRADINHO CULTURAL ( Leandro Antônio, Milton Filho e Márcio Vieira)

6 comentários:

  1. VAI FAVELAA!!! UHUUULLL!!!! SÂO MUITO BONS!!! TODOS ARRAZAM!! Gabriel Chadan então NEM SE FALA!!! PARABENS!!

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  2. Vai Favela!! Sucesso a todos integrantes desta maravilhosa equipe! Parabéns.

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  3. Vai Favela! Sucesso a todos os integrantes desta maravilhosa equipe!

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  4. Adorei !! Zulu como sempre 10 mas os demais estão de parabéns !!!! Meu nome é favela sou do morro sou do pecos e vielas !!

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  5. Vi e recomendo a todos! É muito engraçado sem deixar de ser inteligente! Não é apelativo! Espero vocês virem pra zona norte pra eu ir de novo.
    Rita

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  6. Horrível! Nenhuma criatividade ... temas abordados da mesma forma de sempre... O amigos um que vira bandido... o pastor... a filha do pastor.. a mulher que tem 300 filhos... etc etc Pouca música! Uma vergonha cobrarem 30 reais de ingresso. Atuações? confesso que acho que não tinha ninguém interpretando ali não... aff.. ´passei vergonha... levei minah irmã que veio de Porto Alegre pra ver!

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