quarta-feira, 29 de maio de 2013

Beatriz (RJ)

Cia Atores de Laura em nova montagem a partir
da obra de Cristovão Tezza
Foto: divulgação

Artificial

A sensação que se tem ao sair do espetáculo “Beatriz é de que o diretor Daniel Herz não sabia sobre o que era a história ao construir a sua concepção. Escrito a partir do romance “Um erro emocional” (2010) e dos contos “Beatriz” (2011), ambos do escritor catarinense Cristovão Tezza, também autor de “O filho eterno” (2007), a dramaturgia teve adaptação de Bruno Lara Resende e está em cartaz no teatro da Casa de Cultura Laura Alvim. Em cena, um escritor, Paulo Donetti, e uma revisora de textos, Beatriz, iniciam uma conversa sobre trabalho, mas chegam a revelar, cada um, detalhes de suas vidas pessoais. O jogo entre ambos é que os dois querem um ao outro, mas nenhum deles toma a iniciativa, de forma que o que movimenta a narrativa são as constantes e tímidas investidas. Cheia de tempos negativamente mortos, informações repetidas e solilóquios cansativos, a dramaturgia, que também não tem boa interpretação de Ana Paula Secco (Beatriz) e de Paulo Hamilton (Paulo), permite cogitar a possibilidade da peça ser sobre a incapacidade de tomar atitudes que sejam coerentes com as vontades. Até isso, no entanto, é mera especulação. Realizada pela Cia Atores de Laura, “Beatriz” tem bonito cenário de Aurora dos Campos, mas que melhor funciona como um espetáculo a parte do que como um elemento da narrativa tal como está sendo usado pela direção. Em suma, enquanto obra, a peça carece de amarrada articulação. 

No passado, o escritor Paulo Donetti ajudou a tornar conhecido um jovem autor que hoje, em vendagem e em crítica, o superou. A mágoa move, então, Donetti a uma espécie de vingança: roubar do colega a namorada e revisora. Num jantar entre os três, Paulo conhece Beatriz e uma parceria entre os dois começa em um encontro seguinte, que acontece na casa dela. A peça “Beatriz” é praticamente narrada a partir dos acontecimentos dessa noite. Posicionamentos sobre literatura e suas próprias vidas profissionais, antigos relacionamentos e sobre planos para o futuro são assuntos que se intercalam à confissões para si (solilóquios) do desejo sexual que cada um tem em relação ao outro. Paulo e Beatriz avançam na madrugada, controlando seus impulsos. 

Tanto Paulo Hamilton (Paulo Donetti) quanto Ana Paula Secco (Beatriz) não apresentam bons trabalhos de interpretações. Não há uma só palavra que não é dita acompanhada de um movimento seja de corpo, seja de feição. Todas as ações e reações são mostradas, o que exibe uma superficialidade farsesca que parece incoerente com a proposta de cunho mais realista do texto de Tezza/Resende. Entonações histriônicas, gestual fleumático e movimentação desequilibrada fazem o espetáculo pesar para a direita do palco, sem bom ritmo da direção de Herz assistido por Clarissa Kahane. Não fica claro o que exatamente motiva Paulo em relação a Beatriz (e vice-versa) e o que, de fato, os prende. Nesse sentido, diálogos e gestos parecem ter apenas a função de ocupar o tempo que se arrasta longamente. 

Porque aponta para narrativa, é positivo o figurino de Patricia Muniz em sua discrição em um espetáculo que parece querer ser realista. Na mesma direção positiva, agem a iluminação de Aurélio de Simoni e a trilha sonora original de Lucas Marcier e de Fabiano Krieger, embora o último elemento, em alguns momentos, deixe claro estar apenas a serviço do sublinhar das emoções. Aurora dos Campos deixa ver um belo cenário, potente na proporção de espaços, mas que é confuso na sua integração com a história. Uma escada construída apenas pelos pilares do corrimão e um interior visto a partir de frestas são, para citar dois momentos, alternativas interessantes, mas que pouco usadas, apesar de serem vistas durante todo o período da narrativa. 

“Beatriz” apresenta-se como artificial diante de tantas intenções mal concretizadas. Sendo uma só estrutura, seu maior defeito é o de parecer várias sem optar definitivamente por nenhuma. 

*

Ficha técnica:
Texto: Cristóvão Tezza
Adaptação: Bruno Lara Rezende
Direção: Daniel Herz
Elenco: Ana Paula Secco e Paulo Hamilton
Direção de movimento: Marcia Rubin
Iluminação: Aurélio de Simoni
Cenário: Aurora dos Campos
Figurinos: Patricia Muniz 
Trilha Sonora: Lucas Marcier e Fabiano Krieger
Consultoria psicanalítica: Evelyn Disitzer
Preparação Vocal: Leila Mendes
Assistente de direção / Operação de som: Clarissa Kahane
Assessoria de imprensa: MNiemeyer
Assistente de figurino: Patrícia Delvaux
Assistente de cenografia: Ana Machado
Estagiária de cenografia: Carolina Sugahara
Estagiária de iluminação: Samitri Bará
Operação de luz: Marcelo de Simoni
Contrarregra: Luiz Andrade
Projeto Gráfico: Maurício Grecco
Direção de Produção: Ana Lelis
Produção Executiva: Isabel Pinheiro e Renata Campos
Realização: Cia Atores de Laura

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