domingo, 12 de maio de 2013

Horses Hotel (RJ)

A ideia original de "Horses Hotel" partiu de Ana Kutner,
que aparece na foto ao lado de Renato Linhares
Foto: divulgação

O problema da desmedida
“Horses Hotel” é um bom espetáculo, mas perde a medida em dois momentos: no meio e no final. De matriz surrealista, como em Artaud (mas sem ideologia), em Frida Kahlo e em Salvador Dalí, é interessante o fato da narrativa não ter lógica aparente, abrindo diversas pontes como se não estabelecesse de forma objetiva qualquer relação, o que sugere um sonho inconsciente, ilusório e bastante sensível. Com direção de Clara Kutner e de Alex Cassal, esse último o autor da dramaturgia, o espetáculo está em cartaz no Teatro Oi Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro. O trabalho de interpretação é magnífico! 

Como nos artistas citados, a dramaturgia de Alex Cassal é enquadrada por uma moldura que serve apenas tentar informar à fruição onde começa e onde termina a obra, tendo coerência suficiente apenas para dar traços de narrativa sem que haja uma linha forte que construa a relação de causa e de efeito como no realismo. O valor à sensorialidade, expresso na forma hedonista com que os personagens estão dados a ver, se concretiza nas relações afetivo-sexuais que acontecem no palco. A heterossexualidade, a homossexualidade, a bissexualidade, o voyeurismo, o sadomasoquismo, o desapego do mundo material e a tendência ao lisérgico fazem das imagens dispostas na cena lugares de liberdade e de prazer. Porém, em um determinado momento, quando a linha que, embora apenas tênue, era existente, se desfaz, o ritmo cai. A relação inicial entre o Fotógrafo e a Jovem do interior parece terminar quando ele traz um michê (Theo) para a casa dele (em que ambos moram) e ela viaja para o exterior, trazendo de lá um quarto personagem (Cowboy). A partir daí, a fundação do Fotógrafo como protagonista da obra, em uma cena (excelente enquanto todo, mas negativa enquanto parte de um todo ainda maior), em que ele veste um robe de veludo vermelho, pesa a narrativa, porque faz a obra caminhar para outro lugar. Essa cena e todos os signos que circular, vertical ou horizontalmente a estruturam são negativos, porque demonstram um exagero em relação à forma como os outros elementos são tratados. O mesmo acontece nas cenas finais, em que um show de rock acontece e se alonga (péssima enquanto todo, pior ainda enquanto parte de um todo ainda maior), fazendo, mais uma vez, desaparecer a linha (fina) que dá liga para a obra. 

Em meio às diversas referências do rock, do underground, da arte e da literatura, “Horses Hotel” parece se gabar de não dialogar com o público comum. Na verdade, o resultado desse pastiche pop cultural é positivo, porque constrói uma obra hedonista, uma espécie de Medusa tão bela que puxa o olhar do ser humano, mas o transforma em pedra quando ele não resiste, a olha e a inveja. Renato Linhares (Fotógrafo), Ana Kutner (Jovem) e Emanuel Aragão (Theo, Cowboy e Sam) estão, dentro dessa concepção, excelentes, porque seus personagens são belos, carismáticos, sensuais, capazes de ser invejados dentro de sua liberdade de fazer o proibido ou o nem tão proibido assim. Em discretíssima participação, Roberto Souza tem, também, excelente atuação dentro das possibilidades que seu silencioso personagem tem, o que expressa um trabalho de construção de personagem do conjunto de atores bastante nobre. 

Com figurino de Antônio Medeiros, desenho de luz de Renato Machado, cenário de Guga Feijó, “Horses Hotel” apresenta boa ambientação para o contexto semântico da obra: colchões nas paredes, estética despojada (leia-se: aparentemente sem ordem ou caótica) e climas hedonistas (valorização do prazer). A preferência por uma paleta de cores mais escuras (preto, cinza, azul e marrom) ajuda a construir a ideia de inconsciência, sonho e de liberdade para fazer as coisas sem que os outros saibam, concretizando a sensação de intimidade. 

A direção de Alex Cassal e de Clara Kutner, assistidos por Marina Provenzzano, com direção de movimento de Alice Ripoli, apesar dos problemas de ritmo já apontados, tem como principal ponto positivo o desafio vencido de retomar o ritmo uma vez perdido. É uma pena que o final seja tão ruim. 

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FICHA TECNICA
Elenco: Ana Kutner, Renato Linhares, Emanuel Aragão, Roberto de Souza (musico)
Dramaturgia: Alex Cassal
Direção: Alex Cassal e Clara Kutner
Assistente de Direção: Marina Provenzzano
Direção Musical: Amora Pêra e Paula Leal
Direção de movimento: Alice Ripoll
Figurino : Antônio Medeiros
Cenário: Guga Feijó
Musico: Roberto Souza
Traduções: Amora Pêra e Marina Provenzanno
Iluminação: Renato Machado
Fotos: Felipe Lima
Programação Visual: Raul Taborda
Ass. Jurídica: Ricardo Brajterman
Produtora Executiva: Sílvia Rezende
Direção de Produção: Ana Kutner
Realização: AKutner Produções e Eventos Ltda

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