quinta-feira, 9 de maio de 2013

Spa (RJ)

Comédia estreia no Shopping da Gávea
Foto: André Muzelli/ AgNews


Quando o melhor da comédia não é a piada
“Spa” parte de um problema interessante, mas dá poucos passos além. Três mulheres ficam presas em um centro de tratamento junto com sua proprietária em função do mal tempo. Irritadas com a chuva, com o cardápio magro e com a intransigência da dona, elas ainda convivem com os problemas externos que as levaram para o lugar. Nenhuma delas está lá propriamente para perder peso, mas para: 1) Maria: refletir sobre o relacionamento amoroso atual; 2) Cristina: livrar-se do stress; e 3) Luísa: esquecer o ex-namorado. Louca por comidas completamente naturais, de origem vegana, Dra. Wilma é obcecada por saúde e controla com mãos de ferro o seu negócio, enfrentando, no fim de um final de semana, um motim que se estabelece entre as clientes. Escrito por Vítor Hugo Marques, o texto é recheado de piadas. Dirigida por João Batista, a encenação também é coberta de piadas. Nesse sentido, negativamente, cada vez que “Spa” quer fazer rir, o espetáculo causa constrangimento. Carol Loback, porque em mais momentos consegue ganhar a oportunidade de fugir tanto do texto como das partituras corporais, é quem consegue o melhor resultado. Em cartaz no Teatro Vanucci, a comédia carece de espontaneidade e leveza. Em termos estéticos, falta-lhe uma concepção mais articulada.

Todas as falas de todos os diálogos prenunciam uma piada logo nas primeiras palavras de forma que a obrigação de rir prende o espectador que acaba por não se sentir à vontade. Da mesma forma, os gestos são todos partiturizados, os movimentos parecem coreografados, as personagens parecem ter saído de um anime japonês. O cenário de Anderson Dias, além de depor esteticamente contra a obra, necessita de uma movimentação que prejudica o ritmo. A trilha sonora de Pedro Lobo é uma irritante repetição do mesmo tema durante todo período da fruição, alto demais em vários momentos. Em cores quentes (variações de laranja, vermelho e roxo), todos os figurinos de Mauro Leite deixam a desejar por não caracterizarem as personagens, pesarem o quadro visual e pouco variarem. A iluminação sóbria de César de Ramires positivamente aponta para o realismo e, por isso, faz boas afirmações.

Quanto às personagens, os estereótipos marcam uma concepção confusa de comédia. Enquanto o enredo vai em direção de uma comédia de costumes (realismo), o exagero (e superficialidade) das construções deixam ver uma farsa contemporânea nos moldes de “Zorra Total” e de “A praça é nossa”. Ambos os gêneros são válidos, dignos e importantes numa concepção sem preconceitos de análise teatral como aqui se privilegia. Mesmo assim, são entendimentos diferentes e que, numa só produção, se opõem, se confundem e anulam a obra. Interpretada por Dig Dutra, Luísa fala alto demais, tem movimentos muito amplos, suas intenções são constantes (e monótonas) e sua atuação está longe do tempo da comédia seja ela de que gênero for. O mesmo exagero se vê na Dra. Wilma de Pia Manfroni, acrescentando o fato de que, apesar de formada em medicina, a personagem estranhamente fala com muitos erros de português. No entanto, em Manfroni, é possível observar irregularidade, quebras de tempo, intenções bem postas que permitem que a personagem tenha um resultado mais positivo. Vítima do seu namorado, Maria (Helga Nemecsyk) é uma personagem dramaturgicamente mal construída. Depois dos trinta anos, ela quer ser mãe, contrariando a vontade do namorado com quem convive há mais de três anos. Uma vez que, desde Aristóteles, sabe-se que a comédia é o gênero que exalta os defeitos dos humanos, percebe-se nessa personagem um distanciamento negativo das demais. (Não  há nada de errado em uma mulher querer ser mãe nessa idade e em um relacionamento estável.) Nemeczyk, por isso, tem mais desafios a transpor e, por consegui-los em vários momentos, tem resultado positivo. Como já apontado, Carol Loback (Cristina) é quem tem o melhor resultado em seu trabalho de interpretação, apesar de, por vezes, parecer infantilizada em excesso. Nos seus silêncios, na forma como reage às falas alheias e sobretudo quando comenta corporalmente as ações das demais, manifestando aí espontaneidade, ela vence as barreiras impostas pelo péssimo texto e pela terrível concepção de direção e consegue tirar risadas do público. De modo geral, no elenco, sobram gritos, sobram tempos, sobram piadas, sobram movimentos, gestos e feições. 

Vale dizer, por fim, que essa análise provém de uma apresentação que sucede a estreia do espetáculo. Logo, considerando o currículo nobre de boa parte das atrizes, presume-se que o resultado há de ficar melhor quanto mais elas estiverem longe do autor e do diretor. É consenso, nesse caso felizmente, que teatro são atores, seus personagens e o público. Apenas esses três. 

*

Ficha técnica:
Texto: Vítor Hugo Marques
Supervisão Artística: Luiz Fernando Lobo
Direção: João Batista
Elenco: Carol Loback (Cristina), Dig Dutra (Luísa), Helga Nemeczyk (Maria) e Pia Manfroni (Dona Wilma).
Trilha Sonora: Pedro Lobo
Cenografia: Anderson Dias
Figurino: Mauro Leite
Iluminação: Cesar de Ramires
Programação Visual: Thiago Ristow
Caracterização: Rosa Bandeira
Cabelos: Sandro Valerio
Assessoria de Imprensa: Minas de Ideias
Consultoria de Produção: Tuca Moraes
Produtor: Lucas Mansor

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