domingo, 6 de janeiro de 2013

Rock In Rio (RJ)

Lucinha Lins é um dos pontos altos do espetáculo
dirigido por João Fonseca

Foto: divulgação

Decepção

            Na mesma medida em que a Cidade das Artes impressiona pelo seu tamanho, formas, ambientação, arejamento e arrojo, “Rock In Rio – O Musical” decepciona. Com uma estrutura invejável, em um projeto com grandes investimentos da Aventura Produções, envolvendo nomes de peso do teatro brasileiro, o resultado, ainda que com pontos positivos no cenário, no figurino e na direção, é apresentado a partir de uma história ruim e de algumas interpretações que deixam a desejar. O texto escrito por Rodrigo Nogueira tem graves problemas que prejudicam e muito a fruição da obra. Embora se esforce, a direção de João Fonseca não consegue reverter os problemas da dramaturgia. 

O espetáculo surge como produção a partir do sucesso do evento Rock In Rio acontecido no Rio de Janeiro nos anos de 1985, 1991, 2001 e 2011. O mote inicial é modificado na situação dramatúrgica e aí vem a primeira decepção. O espectador tenta, mas não consegue se encontrar na obra até que percebe que, em cena, os quatro festivais se tornaram um só. Depois, outra decepção: enquanto os personagens falam em perigo do fechamento do congresso nacional brasileiro e em uma situação política caótica, a plateia não consegue ter claro de que período da história eles estão falando. Em 85, a ditadura já havia acabado e José Sarney havia sido eleito (por via indireta) o primeiro presidente civil da república desde Jânio Quadros. Em 91 e 2001, o Brasil vivia momentos difíceis, mas não havia o perigo de fechamento de Congresso. Em 2011, o país vivia um apogeu em sua política com uma democracia já consolidada. Na história de Nogueira, a época não é definida. Por fim, ao contrário da alegria, da empolgação, do entusiasmo sempre presente nas edições do “maior festival de música da Terra”, no palco da Cidade das Artes, está uma história triste, cujos personagens protagonistas choram e não conseguem se expressar e cujos personagens coadjuvantes estão cheios de problemas e de dificuldades. A terceira decepção aparece quando a audiência sente que o clima da peça pesa com o passar de sua narração, ficando cada vez mais down, mais sorumbática, mais tensa e menos alegre. 

A não definição do tempo (época) em que acontece a história é contrária ao melodrama que Rodrigo Nogueira escreve com estranhas pitadas de dramaturgia contemporânea. Um casal de mocinhos adolescentes que se apaixonam. Ele (Alef) é filho da Professora de Literatura Glória. Seu pai desapareceu há quinze anos e, desde então, ele não fala. Ela (Sofia) é filha do produtor musical (Orlando). Sua mãe desapareceu há 15 anos e, desde então, ela fala muito. Alef ouve música o dia inteiro. Sofia não ouve músicas e tem raiva delas. O melodrama surge de início quando a apresentação das duas peças principais prenuncia um encaixe óbvio bastante previsível, incluindo a presença de um mirante pra lá de clichê. Sofia fará Alef voltar a falar. Alef fará Sofia gostar de música no primeiro ato. No segundo ato, Alef será apresentado como um herói nacional e convidado a cantar para a multidão do Rock In Rio, enquanto a emudecida Sofia desaparecerá em meio a sua depressão. É quando o movimento de transformação do primeiro ato começa a se repetir no segundo, encerrando a história por tudo isso melodramática no pior conceito do termo. 

Ainda sobre o texto, o primeiro ponto e, talvez, mais fatal problema dele esteja perigosamente no início da peça. Levam-se exatos cinquenta minutos para que o personagem Alef tenha um objetivo (Sofia). Até então, o espectador vê uma sucessão de cenas que repetem cansativamente as mesmas informações já apresentadas no início. Além disso, há um núcleo (a loja de discos) totalmente inútil em termos de ação e que também só diz respeito a apresentação do personagem Alef (por não falar, ele não defenderá uma funcionária da provável demissão). Perdendo um tempo precioso em falar dos personagens, Nogueira não os coloca fazendo algo em prol dos seus objetivos, o que, pelo excesso, cansa o espectador ávido por acontecimentos que movimentem a história contada ao longo de três horas. 

João Fonseca, diretor do excelente “Tim Maia”, não consegue modificar o ritmo da história que tem em mãos. Apesar disso, é possível identificar nas cenas bons jogos entre os atores que, por sua vez, preenchem bem o espaço cênico e apresentam quadros com bom ritmo individualmente. Situado em boa parte dentro do festival, o segundo ato (que é menor que o primeiro) é mais alegre. No todo, há cenas que se destacam positivamente. São elas: a visita do amigo Marvin a Alef, quando ele cita os participantes do Rock In Rio; “You`ve got a friend”, cantado por Glória a seu filho Alef; “Don`t let the sun go down on me”, cantado pelo elenco principal, o “Tema do Rock In Rio”, que encerra o primeiro ato; o medley que abre o segundo ato; “Kiss” cantado por Mathias e Liv (o magrinho e a gordinha); “Bohemian Rhapsody”, o melhor momento de toda a peça, cantado por Roger. Em todas elas, o jogo é vibrante, a música encontra bom casamento com a cena sem parecer mero subterfúgio, a movimentação aproxima o espetáculo em questão ao gênero musicais que todos conhecemos. Nesses momentos, também, vemos excelentes interpretações das canções, o que, infelizmente, não é sempre que acontece nessa produção. 

“Rock In Rio” tem boas interpretações, mas lhe faltam bons cantores. Na interpretação do seu personagem, Hugo Bonemer (Alef) não tem carisma e sua fragilidade faz o protagonista parecer ainda mais cansativo. Além disso, o ator não canta bem de forma que seus números musicais deixam a desejar. Guilherme Leme (Orlando) e Marcelo Varzea (O professor) agem no mesmo sentido infelizmente nesta obra. Por outro lado, Yasmin Gomlevsky (Sofia) está excelente no papel, empregando ótima força e agilidade, além de protagonizar ótima cena musical. Ao seu lado, as participações excelentes de Ícaro Silva (Marvin), Kakau Gomes (Diana), Emílio Dantas (Roger) e de Luiz Pacini (O dono da loja de discos). No elenco de apoio, destacam-se positivamente (por atuação e canto) as participações de Bruno Sigrist (Mathias), Lyv Ziese (Liv) e de Juliane Bodini (a nordestina Bianca). Claramente uma participação cômica, Caike Luna (Geraldo, funcionário de Orlando) é responsável pelos momentos mais engraçados da peça. O maior destaque do grupo é Lucinha Lins (Glória, mãe de Alef). Em suas cenas, é fácil identificar emoção e técnica, verdade, força, domínio do palco e intenções claras. Além disso, seus números musicais são nada menos que excelentes. 

Os cenários de Nello Marrese e de Natália Lana e os figurinos de Thanara Schönardie são, ao lado de Lucinha Lins, o ponto alto de “Rock In Rio”. Com entradas e saídas perfeitas, as criações enchem o palco sem ocupa-lo além do devido, sem pesá-lo, sem enrubescer ainda mais a narrativa já pesada de Nogueira. O colorido, a rica exploração do tema, o nivelamento diferente providenciam bom ritmo e formam quadros interessantes para o espectador a quem a história é contada. Com iluminação de Paulo César de Medeiros e visagismo de Beto Caramanhos, os aspectos visuais do espetáculo surpreendem positivamente, trazendo agilidade, concentração e profundidade para a narrativa cênica. 

Com em torno de cinquenta canções participantes de todas as edições do festival, o repertório de “Rock In Rio – O Musical” expressa a diversidade dos ritmos musicais dos artistas que estiveram na Cidade do Rock bem como de seu público. Com direção musical de Délia Fischer, design de som de Marcelo Claret, preparação vocal de Felipe Habib e coreografias de Alex Neoral, o resultado fica melhor no segundo ato quando as músicas expressam com mais força a relação entre os personagens e seus conflitos, apresentando-os menos. 

Com projeto do arquiteto francês Christian de Portzamparc, a Cidade das Artes foi erguida em um terreno de 95 mil metros quadrados no Trevo das Palmeiras (Cebolão), na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Com 87.400 metros quadrados de área construída e cinco núcleos, abriga duas salas de espetáculos e 21 espaços multiuso compostos por três cinemas (total de 500 lugares), galeria de arte, salas de ensaio, salas de aula, lojas, cafeteria e restaurante. Na Grande Sala, com 1.224 lugares, o espetáculo “Rock In Rio – O Musical” cumpre temporada, tentando apresentar a música como instrumento de protesto, de expressão e, sobretudo, de meio para uma vida melhor. Seus pontos positivos, e eles não são poucos, merecem, ao lado da intenção, o aplauso. 

*

Ficha técnica:

Texto e Versões - Rodrigo Nogueira
Direção - João Fonseca
Direção Musical - Delia Fischer
Coreografia - Alex Neoral
Cenário - Nello Marrese e Natália Lana
Figurino - Thanara Schönardie
Design de som – Marcelo Claret
Iluminação - Paulo Cesar Medeiros
Visagismo – Beto Carramanhos
Casting – Marcela Altberg
Elenco -Yasmin Gomlevsky, Hugo Bonemer, Lucinha Lins, Guilherme Leme, entre outros.
Realização – Aventura Entretenimento & Rock in Rio

3 comentários:

  1. ótima critica PARABÉNS EU AEI O MUSICAL, MAIS VC FALOU A VERDADE AFINAL ND É PERFEITO E TBM ESTAS QUESTÕES DE TEXTOS E INTERRETAÇÕES, CANTAR BEM ACONTEÇE MUITO EM MUSICAIS!!!! VAMO TORCER PRA QUE SEJA UM SUCESSO ASSIM MSM NÊ!? AFINAL Ñ VAMOS DESEJAR O MAL AOS PRODUTORES VLW O ESFORÇO DELES!!!

    ResponderExcluir
  2. Bom dia. Alguém saberia me dizer se as canções internacionais são cantadas em inglês ou se são traduzidas?

    ResponderExcluir
  3. geralmente o inicio da musica é traduzida mas a grande parte é original em ingles.

    ResponderExcluir

Bem-vindo!