sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Arresolvido (RJ)

Foto: divulgação

Um primor!

            “Arresolvido” é um primor. Contando uma história simples de um jeito também bastante simples, o espetáculo conquista aos poucos, acaricia a atenção do público, brinca com o universo nordestino (brasileiro), joga com nossas falhas e expõe o homem em sua complexidade. Dirigido por André Paes Leme com firmeza, a encenação abre espaço para marcas de naturalidade, em cuja fluidez de ritmo cresce positivamente nos sessenta minutos de fruição. Na narrativa, o espectador tem a sua disposição elementos suficientes para se situar tranquilamente a favor ou contra aquele e daquele outro personagem, divertindo-se e enternecendo-se. Com algumas excelentes interpretações e uma destacável trilha sonora (bem como sua execução), a peça em cartaz no Centro Cultural do Banco do Brasil vale a pena ser aplaudida. 

O texto é o primeiro escrito por Érida Castello Branco, vencedora da etapa Rio da 5a Seleção Brasil em Cena. Conta a história de Menino, personagem que mora com os pais em alguma cidade pequena (e preconceituosa) do nordeste brasileiro. Com a morte do pai, ele se torna “o homem da casa” e, por isso, precisa defender a mãe contra as más línguas, a má fama, o mal comportamento. Na situação, envolvem-se outros personagens, como a Madrinha, um Amigo e uma Mãe de Santo que distribui cocadas com poderes além da compreensão humana. Com cenário e figurinos assinados por Carlos Alberto Nunes e a iluminação por Renato Machado, os signos visuais sugerem agilidade à narrativa de forma que suas transformações e possibilidades de ser além do que parecem ser, além do preenchimento uniforme do espaço cênico, concordam, assim, com as “regras do jogo” propostas pela movimentação dos atores e suas interpretações. 

Zé Wendell está excelente como o protagonista Menino, oferendo uma construção que possibilita tanto o riso como o enternecimento, ingredientes essenciais à essa produção. Com os mesmos bons valores, Bárbara Abi-Roman interpreta a Comadre, acrescentando um excelente uso da voz nos números musicais. Outro grande destaque positivo é Pedro Poema (o Médico), que, em cena, faz a direção musical, em todos os momentos, de forma delicada e sutil, sendo sempre bastante positiva. A direção de André Paes Leme articula cenas rápidas com conjunções inusitadas, mas marcantes, jogando com uma metalinguística que se torna divertida e, por isso, bem-vinda. 

“Arresolvido” introduz a comédia sem evidencia-la, sugere temas para discussão, como o preconceito contra a mulher, a estrutura patriarcal da família, o misticismo e como a sexualidade, de forma sutil, mas não menos pontual, e é, como um todo, uma ótima opção de programação cultural de qualidade pela articulação de todos os seus elementos. Sua única falha, em termos de produção, é não vender cocadas no final da sessão. Sai-se do teatro como uma vontade louca de “pecar”. 


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Ficha técnica:


Autora Érida Castello Branco
Direção André Paes Leme

Elenco
Barbara Abi–Rihan, Celso Gayoso, Fabiano Raposo, Felipe Silcler, Marina Monteiro, Pedro Poema e Zé Wendell

Cenário e Figurinos Carlos Alberto Nunes
Iluminação Renato Machado
Direção Musical Pedro Poema
Preparação Vocal Mauricio Detoni

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