sábado, 26 de janeiro de 2013

O teatro é uma mulher (RJ)

Malu Valle e Raquel Rocha brilham em
em peça em cartaz no Teatro Ipanema
Foto: Paula Kossatz

Sem consistência dramatúrgica, mais uma peça de Rodrigo Nogueira


            Apesar das grandes atuações e do cenário excelente, “O teatro é uma mulher”, com texto e direção de Rodrigo Nogueira, é um espetáculo infelizmente difícil de assistir. Sem nenhuma razão visível, Nogueira o faz assim. Durante a fruição, a sensação é de que o espectador está desbravando uma mata selvagem em busca de flores. Ele afasta espinhos, se desvencilha de bichos, procura, luta, sua (do verbo suar) até que finalmente encontra algo de valor. E aí recomeça a complicada busca por mais outra pequena flor, tudo de novo, novamente. Sem ser teatro contemporâneo, nem teatro burguês, “O teatro é uma mulher” fica no meio do caminho em plena crise de identidade. A peça está em cartaz no Teatro Ipanema, em plena Zona Sul do Rio de Janeiro (vale a pena a visita!). 

Muitos minutos se passam até que, no fim da primeira cena, o público sabe quem está falando com quem e onde. Então, a cena termina. Recomeça uma segunda cena e o processo é o mesmo. Sempre difícil, sempre complicado, fechado, presunçoso, pretensioso. No fim das contas, uma Cantora lésbica Malu Valle) conta para a sua Ex-namorada (Alessandra Colasanti) que, para melhor compor e cantar suas canções, inventou para si uma personagem: a Dona de Casa (Valle). Por sua vez, a Dona de Casa, em crise, vai até a sua grande Ex-melhor amiga (Raquel Rocha). No passado, a Dona de Casa se casou com o então marido da Amiga e, por isso, a amizade entre elas acabou. A Amiga é uma terapeuta. No encontro das duas, a Dona de Casa conta para a Amiga que sonhou que era uma Guerrilheira (Valle) sendo interrogada pela própria Filha (Luciana Borghi) em função de um atentado em que uma Cantora seria morta. No fim, e só na última cena, fica-se claro que o mote de tudo é o fato de termos que nos desvencilhar de vários “eus” para sermos nós mesmos. Sem nenhuma personagem atriz e o fato de que todo ator (para não dizer todo mundo) precisa se desfazer de si (ou de parte de si) para ser um personagem, o título “O teatro é uma mulher” se perde sem sentido nesse mar hermético, formalista e superficial. Com um excesso de jogo de palavras (Bidê tem acento, mas não tem assento, etc), são bastante raros os momentos de diálogo realmente bons. E, infelizmente, eles só acontecem no final das cenas. 

Malu Valle e Raquel Rocha apresentam excelentes trabalhos, acompanhadas de Luciana Borgui e de Alessandra Colasanti, com personagens de menor brilho, mas também cheios de força e de intensidade. O conjunto, que é composto de atrizes experientes, garante à encenação bons tempos, momentos cômicos, imagens belas, tensões dramáticas, “tirando leite de pedra” nitidamente. É bastante positivo também o trabalho de composição de figurino de Gabriela Campos, que oferece uma diversificada palheta de cores aos olhos do espectador, ao lado da iluminação de Daniela Sanchez, modificando os quadros e tentando oferecer uma certa impressão de evolução narrativa. Como diretor, por articular bem os elementos visuais e o conjunto de interpretações, Nogueira se mostra muito melhor que autor. Como em “Rock In Rio”, também de sua autoria, falta aqui consistência dramática. 

A discussão contemporânea acerca dos múltiplos discursos e das pessoas de cada discurso, bem como a questão da atualidade e da virtualidade, das marcas de realidade, de irrealidade e de ficcionalidade, além de uma rarefeita sugestão de ponte entre o teatro e a mulher ficaram aqui como meras menções. Somos a parte do outro que não é o outro. 

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FICHA TÉCNICA

Texto e Direção: Rodrigo Nogueira
Elenco: Alessandra Colasanti, Luciana Borghi, Malu Valle e Raquel Rocha
Cenário: Aurora Dos Campos
Iluminação: Daniela Sanchez
Figurino: Gabriela Campos
Direção Musical: Luana Carvalho
Programação Visual: Luciano Cian
Fotografia: Paula Kossatz
Assessoria De Imprensa: Daniella Cavalcanti
Produção: Tárik Puggina – Nevaxca Produções

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