quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A arte da comédia (RJ)

Em seu melhor momento, Celso André interpreta
o Padre em comédia dirigida por Sérgio Módena
Foto: divulgação

Como é bom ver bom teatro!


            O texto e a encenação são excelentes. “A arte da comédia” abre o ano de 2013 com qualidade, estilo e classe. Com texto do italiano Eduardo De Filippo (1900-1984) e direção de Sérgio Módena, o espetáculo apresenta extremo cuidado com os aspectos visuais - cenário e um figurino de primeira linha - e com os aspectos cênicos - excelentes interpretações, boa movimentação, ritmo perfeito. É infelizmente comum espetáculos estrearem com a velha desculpa de que o “jogo ainda está verde, mas há de amadurecer ao longo da temporada”. “A arte da comédia” dignifica o público teatral carioca, quebrando esse velho paradigma na medida em que expressa a qualidade de quem por ele é responsável. 

Ricardo Blat interpreta um ator dono de uma companhia teatral de uma pequena cidade. Há alguns meses, o barracão onde eles costumavam se apresentar se incendiou e, desde então, eles se apresentam sem sucesso no teatro municipal. Por isso, ele resolve procurar o novo prefeito (Thelmo Fernandes), que, por sua vez, acabara de chegar na cidade e, como seu assistente (André Dias), ainda é desconhecido pelos cidadãos. O ator quer se juntar a outra companhia de outra cidade e precisa de subvenção para o transporte. Em troca, deseja a presença do intendente em uma de suas apresentações, acreditando que o convidado ilustre irá atrair a população pagante, dando-lhe assim condições para a viagem do grupo. Após um diálogo sobre o papel da arte e a função do estado, a reunião entre o artista e o político não sai como o esperado pelo primerio. Como consequência, uma espécie de possível vingança do ator, o prefeito não saberá se os outros visitantes que preenchem a agenda do dia são de fato pessoas reais ou personagens inventados pelos atores da companhia para enervar o chefe municipal. O terror do prefeito gera a gargalhada do público que lota a plateia do Teatro Maison de France, fazendo da produção um programa imperdível.

Alcemar Vieira, Celso André (no seu melhor momento) e Erika Riba interpretam respectivamente o médico, o padre e a professora, todos cidadãos (ou personagens?) que vêm em busca do prefeito para ajudar-lhes em seus problemas pessoais. A narração de suas histórias é um vibrante meio de evidenciar a beleza do texto de Filippo, da direção de Módena e sobretudo o talento e a técnica de cada um dos intérpretes. Em destaque, Celso André expressa uma ingenuidade que apronfunda o personagem, como se o Padre não sentisse a irritação do prefeito ou ficasse envergonhado de estar ali. Nele, vê-se boas dosagens de emoção em um conjunto interpretativo valoroso. Em personagens menores, Alexandre Pinheiro, Ricardo Souzedo, Teresa Tostes, Poena Vianna, Saulo Segreto e Sérgio Somene cumprem o seu papel com profissionalismo elogiável. Thelmo Fernandes, Ricardo Blat e André Dias, os protagonistas, estão excelentes. Suas construções, no limite sutil com o caricato, permanecem fortes, seguras, vencendo o desafio de sugerir o riso sem força-lo. As intenções são claras, a dicção é perfeita, as pausas bem postas. “A arte da comédia”, pelas suas lideranças, permanece sendo uma comédia pastiche, aproximando-se do vaudeville, da de costumes e do pastelão, sem ser nenhuma delas. 

Além do mérito das interpretações, Sérgio Módena merece aplausos pela articulação dos outros elementos da obra. O cenário de Aurora dos Campos é perfeito, porque constrói adequadamente o sala do prefeito com o peso que ela deve ter, sem poluir o espaço cênico. O figurino de Antônio Medeiros caracteriza os personagens com elegância, sobriedade e beleza. Tomás Ribas usa do desenho de luz para reforçar o ritmo da narrativa e fazer piadas em cima dela, o que é muito interessante. Gabriel Mesquita e Fernando Lauria compõem boa trilha sonora que cumpre seu papel, sendo digna da produção de Paula Salles e de Renato Bavier. 

O que difere o crítico do público normal do teatro é também o fato de que, enquanto o segundo gosta de uma peça ou de outra, o primeiro gosta antes de tudo de ir ao teatro, seja para ver o que for. Por tudo o que foi elencado, “A arte da comédia” há de unir os dois em um só prazer. 

*
Ficha Técnica:

Texto – Eduardo De Filippo
Tradução – Marcio Aurélio
Direção – Sérgio Módena
Elenco – Ricardo Blat, Thelmo Fernandes, Erika Riba, André Dias, Alcemar Vieira, Celso André, Alexandre Pinheiro, Ricardo Souzedo, Teresa Tostes, Poena Vianna, Saulo Segreto e Sergio Somene.
Cenário – Aurora dos Campos
Figurino – Antônio Medeiros
Luz – Tomás Ribas
Composição trilha sonora original – Gabriel Mesquita
Produção trilha sonora original – Fernando Lauria
Programação Visual – Mary Paz
Produção executiva – Renato Bavier
Direção de produção e gerenciamento do projeto – Paula Salles
Assessoria de Imprensa – Lu Nabuco Assessoria em Comunicação
Realização – Trupe Fabulosa e Três! Ideias e Soluções Culturais

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