Lena Brito e Saulo Rodrigues brilham em espetáculo de Hamilton Vaz Pereira |
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divulgação
O
teatro do absurdo está com tudo
O mais interessante de “Oportunidade Rara” é que a montagem
é mais uma prova de que o Teatro do Absurdo está com tudo. Ou seja, que esse
gênero ainda nos diz algo, ainda tem a ver com o mundo contemporâneo, que Qorpo
Santo, Ionesco, Albee (este está de fato vivo mesmo), Sartre e Beckett estão
vivos e sendo atualizados. Nos últimos tempos, o Rio de Janeiro viu “Ninguémfalou que seria fácil”, de Felipe Rocha. Agora, mais recentemente, houve o
sucesso “O desparecimento do elefante”, adaptação de Monique Gardenberg para os
contos de Haruki Murakami. E, agora, vem esse texto assinado e dirigido por
Hamilton Vaz Pereira. Algumas histórias engraçadas, outras nem tanto, a
depender do gosto do público. Todas, no entanto, expressando uma direção cuidadosamente
firme, boas intepretações e um delicado trabalho de produção que rebate em
todos os demais elementos da estrutura da obra como um todo coeso e coerente
entre si. Eis aí uma peça inteligente, com um humor refinado para um público
que gosta de fugir do fácil, sem tanto esforço no difícil.
São cinco histórias. Em todas elas, personagens brasileiros
se encontram em lugares diversos no mundo, exibindo naturalmente um ponto de
vista sobre o país enquanto falam de si mesmos. Dos pais que precisam reaprender
a conviver depois da partida do filho já adulto, passando pela madame que vai
visitar um morro não pacificado com sua empregada, pelo empresário que quer
transar com a esposa de seu amigo no consultório de uma agiota, por duas
estilistas que precisam vender seus produtos a um rico fazendeiro
mato-grossense, até chegar a uma dupla de brasileiros que ensinam Brasil em
Paris, o texto apresenta situações inusitadas, nem sempre tão absurdas, mas com
caminhos surpreendentes e que, por isso, refletem a falta de lógica nos
acontecimentos rotineiros. Pode se concluir, talvez, que a peça sugira um povo
que ainda não está acostumado com o boom do Brasil no próprio Brasil, mas
sobretudo no Mundo, um lugar em que as coisas podem dar certo e que vivem um
protótipo do “sonho brasileiro”. Nesse contexto, as situações criadas por Vaz
Pereira são mais profundas do que aparentam (essa, aliás, é a chave do Teatro
do Absurdo), indo além do riso fácil e das personagens aparentemente malucas.
No elenco também composto por Bel Kutner e Luana Martau, é
Saulo Rodrigues e Lena Brito que se destacam. A criação dos tipos que essa
dupla expõe deixa claro uma pesquisa de personagem que vai além da cópia de
trejeitos, pela clara manifestação de ritmos, de vozes, de equilíbrios. De um modo
geral, o trabalho dos quatro é bastante interessante, inclusive porque o jogo
criado por Vaz Pereira, ao dirigir o espetáculo, propõe situações que não cansam o público, embora o ritmo seja, em vários momentos, um tanto quanto lento.
Hélio Eichbauer e Antônio Medeiros, que assinam o cenário e
o figurino respectivamente, expõem trabalhos excelentes. Ao mesmo tempo que
despojados, no sentido de que com pouco expressam muito, são ilustrativos,
criando um clima interessante e sobretudo cômico para a cena (os pavões e os
figurinos negros do deserto, por exemplo). Bastante interessante é a
participação musical de Iuri Brito, Thomas Jagoda, Guilherme Lírio e Pedro
Fonte com composições do próprio Hamilton Vaz Pereira, em perfeito projeto de
sonorização de Andrea Zeni. Ao som das canções de Vaz Pereira, o cenário é
trocado, mas o universo absurdo permanece a contento, dando positivamente
coerência ao gênero que trata justamente da falta dele.
O que talvez seja “rara” é a oportunidade que alguns
personagens parecem querer de fugir desse mundo estranho ou, quem sabe, de adentrar nele. Na justaposição das cenas, há oportunidades tanto para entrar
como para sair. Vai para o público a decisão do que fazer. Em todos os casos, de aplaudir.
*
FICHA TÉCNICA
Texto, Música e
Direção: HAMILTON VAZ PEREIRA
Elenco: LENA
BRITO, BEL KUTNER, LUANA MARTAU E SAULO RODRIGUES
Cenário: HÉLIO
EICHBAUER
Luz: JORGINHO DE
CARVALHO
Vídeo: LAÍS
RODRIGUES
Figurino: ANTONIO
MEDEIROS
Trilha Sonora:
IURI BRITO, THOMÁS JAGODA, GUILHERME LÍRIO E PEDRO FONTE.
Projeto Gráfico:
LUIZ STEIN
Colaboração /
Dramaturgia: MELANIE DIMANTAS
Direção de
Produção: FERNANDO DO VAL
Realização: GOG E
MAGOG PRODUÇÕES
Assessoria de
imprensa: JSPONTES COMUNICAÇÃO – JOÃO PONTES E STELLA STEPHANY
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