quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Inglaterra - versão brasileira (RJ)


foto: divulgação

Sem medo de encarar o homem

            “Inglaterra – versão brasileira” é tão avassalador quanto simples. Dividido em duas partes, o texto de Tim Crouch, inédito no Brasil, oferece dois tipos de diferentes de fruição: uma difícil e a outra fácil, ambas bastante interessantes. Excelentes em suas interpretações, Pedro Brício e Maíra Gerstner são dirigidos por Bel Garcia de forma a apresentar uma narrativa que se mostra aos poucos, superficialmente nos momentos iniciais, corajosa nos finais, sempre honesta e, sobretudo, densa. Eis aí uma produção para pequenas plateias, porque acontece numa Galeria de Arte (agora no Centro Cultural da Justiça Federal – Cinelândia), mas para público de grande sensibilidade.
            Nas duas cenas, temos os mesmos personagens, afinal, a segunda parte é a continuação da primeira. Ocorre que, como, no início, o público se movimenta pelas galerias, passeia pelos quadros, se envolve com a movimentação constante do elenco, algumas informações são difíceis de serem captadas. A dificuldade aqui, (de fato, não há teses prontas) é positiva. Os personagens de Brício e de Gerstner oferecem indícios de que o pântano é mais profundo do que parece ser e é preciso ter cuidado. No segundo momento, de forma aberta, a situação está exposta e não restam dúvidas do tipo de relação que está sendo estabelecida na cena. Cabe ao espectador mergulhar no contexto e enfrentar essa história. Ficam as perguntas: em que lugar do corpo do humano está verdadeiramente a vida? Em que lugar de mim mesmo eu estou verdadeiramente?
            Três personagens: quem fala (Brício), quem traduz o dito para o idioma do ouvinte (Gerstner) e o interlocutor. Embora a sinopse indique que estamos numa galeria de arte, é possível pensar que o local é simplesmente qualquer um desde que seja onde o personagem de Brício traga um pouco de sua vida para quem o recebe. Ele fala de si, expõe-se em detalhes, ilustra elementos como se fizesse força para destacar a sua especialidade, a sua individual e originalidade. Brício é sensível em dizer, em olhar, em dar vida para a figura. O personagem de Gerstner traduz, e o segredo de seu trabalho está em filtrar o dito com uma dose de neutralidade sutil no início e mais clara no fim que se mostra bastante positiva. Pelos contornos de cada nuance, a direção de Garcia faz evoluir a história e marca, bem aos poucos, sólidas estruturas cênico-narrativas.
            Com elementos muito simples, o tema árido do transplante de órgãos é tratado pelo viés da vida que fica em oposição às duas vidas que poderiam ter ido. A relação internacional, o valor do dinheiro nesse processo, as tensões entre as famílias são elementos da textura que cobre o ser humano vivo em cujo peito bate um coração. “Inglaterra – versão brasileira” não se propõe a outra coisa se não apresentar o homem e é esse o seu principal valor.

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FICHA TÉCNICA:
Texto: Tim Crouch
Direção e Tradução: Bel Garcia
Elenco: Maíra Gerstner e Pedro Brício
Assistente de direção: Raquel André
Direção de movimento: Cristina Moura
Textura sonora: Felipe Storino
Luz: Claudio Tammela
Figurino: Marcelo Olinto
Costureira: Nice Santos Silva
Produção: Tárik Puggina – Nevaxca Produções
Assistente de produção: Gabriel Salabert
Realização: Projéteis – Cooperativa Carioca de Empreendedores Culturais
Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti

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