segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Dolce & Copacabana (RJ)


Foto: divulgação

Uma performance engraçada e elegante

            “Dolce & Copacabana” é, com muito respeito e admiração, uma bobagem. Uma bobagem cênica interessante, rica, divertida, despretensiosa e, o melhor, inteligente. Não se propondo a muita coisa, consegue ser muito, oferecendo a quem não esperava por nada, alguma reflexão. A análise a seguir pretende ir atrás dela. E conseguirá! O intuito é elogiar o trabalho, porque é realmente bom, mas também mostrar que há possível profundidade em algo tão simples.
            Dirigido pelo coletivo anglo-alemão Gob Squad (Drama Desk Award 2011), o espetáculo em cartaz no Teatro Ipanema, nasceu como uma versão brasileira do trabalho “Are you with us”, em que seis atores fazem o papel deles mesmos, numa reflexão sobre a identidade e sobre a verdade do teatro. No elenco, estão atores da Cia. Pequena Orquestra e do Grupo Nós do Morro que, juntos, formam a Comapanhia Provisória: Aline Fanju, Carina Wachholz, Carol Portes, Michel Blois, Raquel Rocha e Samuel Melo.
            O roteiro é basicamente o seguinte: um fotógrafo e cinco modelos compõem a sessão de fotos, cujo tema dá o mote dos figurinos utilizados (senhores de engenho com escravos, jogadores de futebol, passistas de escolas de samba, Xuxa e suas Paquitas, entre outros). No meio da sessão, algo acontece e o ensaio é interrompido. O fotógrafo, então, se torna uma espécie de terapeuta (ou interrogador, ou jornalista), que começa a fazer perguntas para os participantes. Essas perguntas fazem vir à tona conflitos internos dos particpantes do grupo e do próprio grupo, além de suas vidas pessoais. O público, claro, fica sem saber o que é realmente verdade e o que é ficção. Eis o início da reflexão.
            Do ponto de vista da semiótica, que é o ponto utilizado nesse blog, teatro é quando A interpreta B diante de C. “Dolce & Copacabana” é teatro, mas é performance. Onde está, nesse esquema, a performance? Em B. A performance acontece quando o personagem é tão fluído, tão aberto, tão não delimitável que não se sabe exatamente onde ele começa e onde ele termina, o que é ator e o que é personagem e o que é o outro personagem. Um limbo, sem marcas visíveis, sem planos visíveis de movimentos, sem projeto estético identificável. O caos estético da performance é uma resposta ao caos social do mundo contemporâneo: sem modelos a serem seguidos, o que oferece a liberdade e, ao mesmo tempo,a insegurança.
            “Dolce & Copacabana”, na sua pobreza de intenções, pode ser, assim, uma obra rica em possibilidades de discussões. Quais as normas possíveis na relação entre participantes de um grupo? Na diversidade do homem contemporâneo, como ficam os encontros? Com a constante eleição e quebra de paradigmas, qual passado fica como base para um presente e um futuro? Um bom, sutil e elegante divertimento!

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Ficha Técnica:
Do original “Are you with us” criado pelo coletivo Gob Squad
Direção: Sharon Smith & Simon Will
Designer de Som: Jeff McGory
Companhias: Pequena Orquestra e Nós do Morro
Elenco: Aline Fanju, Carina Wachholz, Carol Portes, Michel Blois, Raquel Rocha e Samuel Melo
Produção: Ana Rios
Idealização: Fabrício Belsoff, Michel Blois e Rodrigo Nogueira
Realização: No Lugar_ Teatro Ipanema
Foto: Manuel Reinartz e Marc Brinkmeier

Um comentário:

  1. Assisti tres noites todas surpreenderam.

    Realmente, mistura de ficção e realidade (depois que tu descobres que funciona assim)

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