Compartilha
“A Partilha” não é apenas o ponto alto da carreira de Miguel Falabella como dramaturgo. Para quem não sofre de preconceito com comédias, eis aí um dos pontos altos da dramaturgia brasileira contemporânea. Escrito e produzido em 1990, o espetáculo ficou seis anos em cartaz, passando por diversos estados brasileiros e por 12 países. O texto, por sua vez, virou filme na direção de Daniel Filho e ganhou continuação no teatro (“A Vida Passa”). Retorna agora, lotando o Teatro Oi Casa Grande com toda a merecida pompa e circunstância que o teatro brasileiro merece ter.
Quatro irmãs: Maria Lúcia (Arlete Salles) mora em Paris e sofre a culpa de, talvez, não ter sido uma boa mãe para o seu filho com o primeiro marido. Regina (Susana Vieira) está solteira e desempregada após várias tentativas de relacionamento e profissão, buscando na espiritualidade a paz interior. Selma (Patrícya Travassos) mora na Tijuca e sofre a opressão de um marido militar que a deixa com baixa auto-estima. Laura é doutoranda em sociologia e a mais introvertida entre as quatro irmãs que, agora, se reencontram por ocasião do falecimento da mãe. É hora de vender os móveis, os objetos de arte, o apartamento onde todas nasceram e cresceram. Mas, na boca da personagem Regina, Falabella avisa: A Partilha de verdade só começa depois.
O elenco, em conjunto e individualmente, está excelente. Atrizes com larga experiência, todas estão à vontade nos papéis, tirando dos personagens o seu melhor. A direção de Falabella corre agilmente, fazendo gargalhar e enternecer. O texto foi escrito e é dito cheio de nuances, de forma que temas mais profundos são tratados com leveza, mas não com menos seriedade.
O cenário e o figurino de Beli Araújo e de Sônia Soares desempenham bem as suas funções: ilustrar, redundar, apontar para a história que precisa correr livre e sem entraves. Nos detalhes, está o seu mérito: a parede envelhecida, o lenço na cabeça. No mesmo sentido e com igual positivo resultado, agem a iluminação e a trilha sonora de Paulo César de Medeiros e de Gabriel D`Ângelo.
Relações são feitas de histórias e ninguém faz história sozinho. Qualquer um que tenha compartilhado a vida ou parte dela seja com irmãos, namorados ou amigos conhece o valor das lembranças compartilhadas na constituição da identidade de cada um. É criando raízes nos corações dos outros que vamos nos aproximando e nos distanciando, sendo, enfim, humanos.
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Ficha técnica:
Texto e Direção: Miguel Falabella
ELENCO:
Arlete Salles
Susana Vieira
Patricya Travassos
Thereza Piffer
Iluminação: Paulo César Medeiros
Cenário: Beli Araújo
Figurinos: Sonia Soares
Projeto de Som: Gabriel D’angelo
Programação Visual: Vicka Suarez
Design de Vídeo: Eduardo Chamon
Gerente de Produção: Ana Cury
Produção Executiva: Sabrina Isnard e Theréze Bellido
Assistente de Produção: Romero Monteiro
Captação de Apoio: Gheu Tibério
Assistente Captação de Apoio: Adriana Albuquerque
Fotos Estúdio: Robert Schwenck
Foto de Cena: Paula Kossatz
Assessoria de Imprensa: Uns Comunicação - Alan Diniz e Sidimir Sanches
Operador de Som: Gabriel D’angelo
Operador de Luz: Valdeci Correia
Diretor de Palco: Gerson Porto
Contra regra: Mário Jorge Costa
Camareira: Alyzandra Pessanha “Pequena”
EQUIPE:
Assistente de Direção: Gustavo Klein
Assistente de Cenografia: Marieta Spada
Assistente de Figurino: Juliana Barja
Costureira: Raquel Castro
Estou louco para assistir a peça. O texto é muito inspirador pra mim e concordo quando diz que é "um dos pontos altos da dramaturgia brasileira contemporânea."
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