terça-feira, 14 de agosto de 2012

Escravas do Amor (RJ)


Foto: divulgação

A excelência do melodrama rodrigueano

            “Escravas do Amor” volta a cartaz no Teatro Carlos Gomes do Rio de Janeiro para participar, junto com “O Casamento” da programação do centenário de Nelson Rodrigues. Espetáculo produzido pelo grupo Os Fodidos Privilegiados, em 2006, a peça é uma adaptação da novela escrita sob o pseudônimo de Suzana Flag. Em cena, o ritmo ágil da direção de João Fonseca acontece sustentado por personagens bem marcados, trocas rápidas de cena, narrações em terceira pessoa e substituição de cenário por elementos cênicos. Bastante positivo, o resultado diverte o público, oferecendo uma produção de grande qualidade que faz jus ao nome de Nelson Rodrigues.
            Anos 40. No dia de seu noivado, Malu, que ainda não beijou o seu noivo Ricardo, o vê matar-se. Na mesma casa, o pai é ameaçado pela amante, a mãe sofre pela morte do futuro genro mais que a filha, um médico assedia a paciente, alguém vem pedir emprego, amigas e empregados fofocam. Eis uma novela: muitas tramas que vão se desenrolando aos poucos ao longo dos capítulos, prendendo a atenção, apresentando novos personagens, desvendando mistérios. Sem tempo para o realismo naturalismo. É melodrama puro! E, por isso, é tão leve e divertido.
            Nos elementos visuais, destacam-se os figurinos de Nello Marrese. Vestidos, cintos, sapatos, maiôs. Tudo é rico em detalhes de forma a apontar convenientemente para o enredo. Ao fundo, um caracol de rosas vermelhas deixa claro o redemoinho que o melodrama estrutura enquanto narrativa: no início, apresentação; no desenvolvimento, o entrelaçar das histórias; no fim, o ápice seguido de quase nenhum desfecho.
Quanto às interpretações, de um modo geral, todos os atores estão bem, mas há destaques entre as grandes e as pequenas participações. Roberto Lobo (pai), Rose Abadallah (Lígia) e Cristina Mayrink (Glorinha) brilham positivamente como os protagonistas no grupo em que Juliana Baroni também apresenta um bom trabalho. A rapidez dos diálogos e a marcação precisa de Fonseca parece os estimular a privilegiar certas nuances que dão um colorido diferente para a narrativa cênica. Nos papéis menores, com bastante carisma, Celso André (Orlando), mas sobretudo Fabrício Belsoff (Bob) trazem movimento e força, contribuindo positivamente para o todo.
            Com seis anos de carreira, “Escravas do Amor” já foi indicada ao Prêmio Shell de melhor direção (João Fonseca) e também indicada ao Prêmio Eletrobrás nas categorias Melhor direção e Melhor figurino (Nello Marrese). Com razão, é um espetáculo merecedor de muitas temporadas!

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Ficha Técnica
Direção: João Fonseca
Elenco: Alexandre Contini, Celso André, Cristina Mayrink, Dudu Sandroni, Fabrício Belsoff, Filomena Mancuzo, Humberto Câmara, Isley Clare, Juliana Baroni, Paula Sandroni, Roberto Lobo, Rose Abdallah, Sergio Marone
Cenário e Figurino: Nello Marrese
Iluminação: Daniela Sanchez
Coreografia: Ana Beviláqua
Trilha Sonora: João Fonseca e Rafaela Amado
Direção de Produção: Renata Blasi e Ana Paula Abreu
Realização: Os Fodidos Privilegiados

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