Foto: divulgação
A excelência do melodrama
rodrigueano
“Escravas do Amor” volta a cartaz no Teatro Carlos Gomes do Rio de Janeiro para
participar, junto com “O Casamento” da programação do centenário de Nelson
Rodrigues. Espetáculo produzido pelo grupo Os Fodidos Privilegiados, em 2006, a peça é uma
adaptação da novela escrita sob o pseudônimo de Suzana Flag. Em cena, o ritmo
ágil da direção de João Fonseca acontece sustentado por personagens bem
marcados, trocas rápidas de cena, narrações em terceira pessoa e substituição
de cenário por elementos cênicos. Bastante positivo, o resultado diverte o
público, oferecendo uma produção de grande qualidade que faz jus ao nome de
Nelson Rodrigues.
Anos 40. No dia de seu noivado, Malu, que ainda não beijou o seu noivo Ricardo,
o vê matar-se. Na mesma casa, o pai é ameaçado pela amante, a mãe sofre pela
morte do futuro genro mais que a filha, um médico assedia a paciente, alguém
vem pedir emprego, amigas e empregados fofocam. Eis uma novela: muitas tramas
que vão se desenrolando aos poucos ao longo dos capítulos, prendendo a atenção,
apresentando novos personagens, desvendando mistérios. Sem tempo para o
realismo naturalismo. É melodrama puro! E, por isso, é tão leve e divertido.
Nos elementos visuais, destacam-se
os figurinos de Nello Marrese. Vestidos, cintos, sapatos, maiôs. Tudo é rico em
detalhes de forma a apontar convenientemente para o enredo. Ao fundo, um
caracol de rosas vermelhas deixa claro o redemoinho que o melodrama estrutura
enquanto narrativa: no início, apresentação; no desenvolvimento, o entrelaçar
das histórias; no fim, o ápice seguido de quase nenhum desfecho.
Quanto às interpretações, de um modo geral, todos os atores
estão bem, mas há destaques entre as grandes e as pequenas participações. Roberto
Lobo (pai), Rose Abadallah (Lígia) e Cristina Mayrink (Glorinha) brilham
positivamente como os protagonistas no grupo em que Juliana Baroni
também apresenta um bom trabalho. A rapidez dos diálogos e a marcação precisa
de Fonseca parece os estimular a privilegiar certas nuances que dão um colorido
diferente para a narrativa cênica. Nos papéis menores, com bastante carisma,
Celso André (Orlando), mas sobretudo Fabrício Belsoff (Bob) trazem movimento e
força, contribuindo positivamente para o todo.
Com seis anos de carreira, “Escravas
do Amor” já foi indicada ao Prêmio Shell de melhor direção (João Fonseca) e
também indicada ao Prêmio Eletrobrás nas categorias Melhor direção e
Melhor figurino (Nello Marrese). Com razão, é um espetáculo merecedor de
muitas temporadas!
*
Ficha
Técnica
Direção:
João Fonseca
Elenco: Alexandre
Contini, Celso André, Cristina Mayrink, Dudu
Sandroni, Fabrício Belsoff, Filomena Mancuzo, Humberto
Câmara, Isley Clare, Juliana Baroni, Paula Sandroni, Roberto Lobo, Rose
Abdallah, Sergio Marone
Cenário e
Figurino: Nello Marrese
Iluminação:
Daniela Sanchez
Coreografia:
Ana Beviláqua
Trilha
Sonora: João Fonseca e Rafaela Amado
Direção
de Produção: Renata Blasi e Ana Paula Abreu
Realização:
Os Fodidos Privilegiados
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