domingo, 27 de dezembro de 2015

Raia 30 - O musical (SP)

Curta nossa página no Facebook: www.facebook.com/criticateatral

Foto: divulgação

No alto, Cláudia Raia


Bonito espetáculo marca os 30 anos de carreira de Cláudia Raia

"Raia 30 - O musical" é o espetáculo que celebra os 30 anos de carreira de Cláudia Raia. Em 1983, ela participou da montagem brasileira do célebre "A Chorus Line" e, no ano seguinte, esteve no elenco do programa de humor "Viva o Gordo!", seu primeiro trabalho na televisão. Com dramaturgia de Miguel Falabella e com direção de José Possi Neto, o musical cumpre temporada até o fim de janeiro no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon. Apesar das sensibilidades no texto, é uma oportunidade interessante de se reencontrar com uma das nossas maiores estrelas em sua merecida auto-homenagem.

Problemas na dramaturgia não tiram o brilho do espetáculo
Os problemas centrais da dramaturgia de Miguel Falabella se veem na forma como a personagem está mal apresentada, mas principalmente como o desenvolver da narrativa se dá de modo superficial. O espetáculo enumera fatos da história profissional de Cláudia Raia, mas eles estão estruturados sem força prejudicialmente. Não há conflito, não há problema e, portanto, é como se não houvesse heroína, nem vencedora. Embora se saiba que as coisas não foram "bem assim", parece que tudo foi muito fácil na vida de Raia no modo como a história está sendo defendida. A dramaturgia, por isso, perde a oportunidade de melhor contribuir para o todo. 

Falando em primeira pessoa, em elogiável ótima relação com o público, Cláudia Raia consegue se servir pouco do contexto narrativo para argumentar em favor do aniversário de sua carreira. Felizmente, em performance exuberante, ela consegue sucesso ao se apoiar em seu carisma marcante. Ao longo da apresentação, o público sente a forma como ela se relaciona com os seus pares no elenco, em especial, o ator Marcos Tumura, seu parceiro durante tantos anos. O feito gera uma energia positiva que é contagiante e dribla os problemas que o texto ruim oferece.

A direção de José Possi Neto, em que colaboram as vibrantes coreografias de Tania Nardini, une quadros que remetem aos vários trechos da carreira de Cláudia Raia. Aparecem menções aos musicais "A Chorus Line" (1983), "Sweet Charity" (2006) e "Cabaret" (2011), mas também à trilogia "Não fuja da Raia" (1991), "Nas Raias da loucura" (1993) e "Caia na Raia" (1996). Ainda sobre o envolvimento da atriz/cantora/bailarina com o palco, há quadros que recuperam suas participações em espetáculos de ballet e de teatro de revista realizados antes de 1983.

As personagens Tancinha, da telenovela "Cambalacho" (1986); e Tonhão, do programa humorístico "TV Pirata" (1988-1992), que Raia interpretou com muito sucesso, também surgem. Todos esses momentos aguçam a memória afetiva do público, mas nenhum deles aparece como um argumento em favor do crescimento da personagem. Apesar do aparecimento não-cronológico dos quadros, o ritmo de "Raia 30 - O musical" permanece linear em função disso.

Vibrante direção de arte de Gringo Cardia
O visual visto pela direção de arte de Gringo Cardia, que se inspira no estilo da decoradora americana Dorothy Draper, é um dos pontos altos da produção. Célebre nos anos 20, o exagero de Draper encontrou eco no glamour da passagem dos anos 70 para 80 no Brasil que vivia o (falso) crescimento econômico (da ditadura militar). Esse clima estético contextualiza a maior parte dos fatos narrados em "Raia 30 - O musical", conferindo exuberância para a produção. Os figurinos de Fábio Namatame e a luz de Drika Matheus confirmam o mapa conceitual do todo, permitindo que o espetáculo exiba uma estrutura positivamente sólida e com méritos.

A direção musical de Marconi Araújo apresenta com unidade standards do repertório de Cláudia Raia, que sua voz grave defende ao lado do coro. No entanto, entre todos os aspectos, o mais positivo elemento de "Raia 30 - O musical" é o modo como a intérprete se relaciona com o público. O diálogo franco, sincero e aberto sinalizam que se trata de uma estrela amada pela audiência. Os méritos acumulados nos anos de carreira certamente são as bases para essa notória mútua admiração. Que venham outros aniversários a comemorar!

*

Ficha técnica:
Texto: Miguel Falabella
Direção: José Possi Neto
Direção Musical e Vocal: Marconi Araújo
Coreografia: Tania Nardini
Produção Geral: Sandro Chaim
Direção De Arte, Cenografia e Design da Identidade Visual: Gringo Cardia
Figurino: Fabio Namatame
Design De Luz : Drika Matheus
Design De Som: Tocko Michelazzo
Visagismo: Dicko Lorenzo, Henrique Mello, Robin Garcia
Elenco: Claudia Raia, Marcos Tumura, Alberto Goya, Alessandra Dimitriou, Carol Costa, Daniel Cabral, Estela Beraldi, Elton Towersey, Luana Zenun, Mariana Barros, Marilice Cosenza, Matheus Paiva, Rodrigo Negrini e Ygor Zago.
Produtores Associados: Claudia Raia e Sandro Chaim