quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Labirinto (RJ)

Curta nossa página no Facebook: www.facebook.com/criticateatral

Foto: divulgação

Paula Calaes
Espetáculo sobre mito grego tem ficha técnica inchada e texto ruim

“Labirinto” cumpriu temporada entre novembro e dezembro no Teatro Oi Futuro no Flamengo sem sucesso. O texto, escrito pelos filósofos Alexandre Costa e Patrick Pessoa, é uma versão muito fechada que parcamente se refere ao mito grego do Minotauro. A intenção de apresentar-se como uma longínqua metáfora para a situação política atual não se estabelece na ordem do conteúdo porque o enredo não está minimamente claro. Dirigido por Daniela Amorim, com Alcemar Vieira, Otto JR. e Paula Calaes no elenco, o único ponto positivo do espetáculo é o desenho de luz de Renato Machado. Com uma ficha técnica inchada, a produção que não se esforça em se comunicar com o público pode dar margem para outras reflexões.

Dramaturgia muito fechada em si própria
A história está no Livro VIII de “Metamoforses”, de Ovídio ( 43 a.C. – 18 d.C.), mas também em diversas outras obras de autores contemporâneos. Por ter perdido a guerra, Atenas é condenada a enviar durante nove anos catorze jovens de sua cidade para alimentar o Minotauro que está preso em um labirinto mandado construir por Minos, Rei de Creta. A criatura - corpo de gente e cabeça de touro - é filha da Rainha Pasífae, que teve relações sexuais com um touro na ausência de Minos. Após três anos de pagamento da dívida, o príncipe ateniense Teseu resolve partir junto com as outras vítimas intentando matar o Minotauro e livrar seu país do terrível mal. A fim de conseguir ajuda de Ariadne, filha de Pasífae e de Minos, Teseu jura amor falsamente. A princesa, sem saber que será enganada, dá ao amado uma espada para matar o Minotauro e um fio de linha com o qual Teseu conseguirá encontrar o caminho de volta na saída do labirinto. Assim é que começa a aventura de Teseu e do Minotauro a que essa peça se refere.

Nada disso fica claro no espetáculo “Labirinto”. Pela dramaturgia, mas também pela encenação, o espectador não tem meios de entender nem a situação, nem os personagens e muito menos uma suposta metáfora dos seus autores em relação à situação política atual. Passando a ter enorme responsabilidade, o texto do programa entregue ao público pela produção explica a peça, mas se torna uma muleta negativa. Ao longo de sessenta minutos, o todo é monótono e confuso além de muito pretensioso. O espetáculo não se comunica com o público.

Atuações perdidas
Os atores Alcemar Vieira, Otto JR. e Paula Calaes interpretam Teseu e os outros jovens que estão com ele dentro do labirinto. São também o Minotauro, Ariadne, Pasífae e Egeu, o pai de Teseu. No entanto, as trocas de personagens, as articulações entre as cenas, as voltas no tempo da narrativa acontecem em meio a uma enorme justaposição de frases de efeito filosóficas que não dão conta da história, mas antes opinam fora de contexto sobre a realidade do homem atual. Abandonados sob o desafio de defender uma narrativa que não narra, os atores ficam diante do público ainda mais suscetíveis.

No quadro cenográfico de Brígida Baltar (ambientação cênica), não há níveis de modo que tudo é visto sempre. É possível pensar que há aí uma sugestão de que o labirinto é uma situação interna, mas essa reflexão também não se estabelece pelo texto e pelas atuações e acaba sendo mera suposição. Peças de roupas estão espalhadas pelo palco talvez em uma tentativa de incluir aqueles que já foram mortos anteriormente pelo Minotauro. Talvez, não.

A luz de Renato Machado é o único ponto positivo da produção. Os recortes podem ser esforços em construir o labirinto em que esses personagens estão: a busca pela sobrevivência, a submissão ao destino, o poder do amor e da natureza na tomada de decisões.

O figurino de Paula Ströher, como o texto, é uma confusão de texturas e de cores, que levam o espetáculo para várias épocas sem aprofundar a discussão em qualquer uma. A direção musical, com canções originais de Rômulo Fróes e de Cadu Tenório, investe em melodias cheias de aventura, se dedica a apresentar um que outro personagem e situação dramática, mas paira igualmente confusa no todo.

Ficha técnica inchada
A direção de Daniela Amorim, sem movimentar uma concepção que dê conta das muitas possibilidades, fecha o espetáculo para o público ao invés de convidá-lo para a reflexão. No entanto, há outras questões possíveis e uma delas diz respeito ao tamanho da ficha técnica.

No palco, cujo cenário nunca se modifica e o figurino tem pequenas alterações, há três atores durante uma hora de encenação. No entanto, “Labirinto” apresenta, em sua ficha técnica, 2 diretores, 1 assistente de direção, 1 diretor de cena, 1 diretor de movimento, 2 preparadores corporais e 2 contrarregras. Os outros itens da lista (figurino e cenário, por exemplo) também têm longa lista de participantes. Totalmente produzido com dinheiro público, é justa uma interrogação sobre uma peça que almeja falar da dívida dos atenienses para com o Rei de Creta. Façamo-la!

*

Ficha técnica:

Direção: Daniela Amorim
Codireção: Patrick Pessoa
Elenco: Alcemar Vieira, Otto JR. e Paula Calaes
Texto: Alexandre Costa e Pessoa
Colaboração dramatúrgica: Pedro Kosovski
Ideia original: Paula Calaes
Orientação teórica: Alexandre Costa
Direção de Produção: Rossine A. Freitas
Iluminação: Renato Machado
Ambientação cênica: Brígida Baltar
Figurino: Paula Ströher
Trilha sonora e Direção musical: Cadu Tenório e Rômulo Fróes
Canção de ninar e acordar minotauro: Rômulo Fróes e Alexandre Costa
Preparação corporal: Toni Rodrigues e Carol Franco
Visagismo: Rafael Fernandez
Programação visual: Felipe Braga
Fotografias de divulgação: Andrea Nestrea
Assessoria de Imprensa: Bianca Senna – Astrolábio Comunicação
Redes sociais: Marcelle Morgan
Produção executiva: Flavia Cândida
Assistente de direção: Tomaz Gama
Assistente de iluminação: Rodrigo Maciel
Assistente de figurino: Patrícia Cavalheiro
Assistente de produção: Romário Marques
Diretor de cena: Gustavo di Mello
Operador musical: Emygio Costa
Operador de luz: Maurício Fuziyama
Contrarregras: Douglas Gadelha Cunha e Marcos Babu
Cenotécnicos: Rebecca’s Art Cenografia e Construcena Serviços Cenotécnicos
Tricot: Ticiana Passos
Administração: Flavia Cândida
Produção: Allure Filmes e Produções Artísticas